Farmácias pedem CPF para criar históricos detalhados de consumo, inclusive de saúde. Os dados alimentam perfis comerciais e publicidade direcionada, e descontos podem ser artificiais. Pela LGPD, o consumidor pode recusar informar o CPF sem perder o direito à compra.
Pedir CPF para “liberar desconto” virou rotina nas farmácias, mas o gesto tem efeitos pouco visíveis. O dado permite registrar anos de compras ligadas à saúde, montar perfis detalhados e sustentar preços que parecem vantajosos ao consumidor.
Por que as farmácias insistem tanto em pedir o CPF?
O interesse vai além da nota fiscal. Ao vincular o CPF às compras, redes conseguem identificar o cliente ao longo do tempo, registrar medicamentos adquiridos e criar um histórico contínuo de consumo relacionado à saúde.
Esse registro recorrente transforma cada compra em dado estratégico. Com ele, a farmácia constrói bancos de dados valiosos, capazes de orientar decisões comerciais, campanhas e ofertas personalizadas que aumentam vendas e fidelização.

CPF na nota é igual a CPF para ganhar desconto?
Embora pareça a mesma coisa, há diferenças importantes. Informar o CPF na nota está ligado a programas estaduais de combate à sonegação, enquanto o CPF para desconto cria um cadastro comercial próprio da rede, como mostram os pontos abaixo.
- CPF na nota: ligado a programas fiscais adotados por estados desde 2012.
- CPF para desconto: usado como chave para registrar hábitos de compra.
- Uso recorrente: cada compra passa a alimentar um perfil individual.
Como esses dados viram publicidade direcionada?
Com históricos detalhados, as redes conseguem segmentar clientes por produtos adquiridos. Anunciantes definem públicos específicos e a publicidade é direcionada com base no perfil de consumo indicado pelo banco de dados.
Há bases com dezenas de milhões de clientes cadastrados. Quando o consumo envolve medicamentos, o perfil ganha valor ainda maior, pois revela padrões sensíveis e sustenta estratégias de marketing altamente direcionadas.

O desconto pode ser uma ilusão criada pela tabela de preços?
Muitos “superdescontos” se apoiam no teto da tabela CMED, que define o preço máximo permitido para medicamentos. O valor cheio aparece inflado e, ao informar o CPF, o preço cai drasticamente, criando sensação de grande vantagem.
- Preço cheio: baseado no teto autorizado pela CMED.
- Queda abrupta: desconto parece enorme ao informar o CPF.
- Preço real: valor reduzido costuma refletir o praticado no mercado.
Isso é legal e o que o consumidor pode fazer?
As práticas não são automaticamente ilegais, mas a LGPD exige consentimento claro, informado e sem coerção. O consumidor precisa saber para que o dado será usado e como será tratado.
Em alguns estados, regras já proíbem exigir CPF sem aviso transparente. Na prática, é possível recusar informar o dado, questionar a loja e buscar o PROCON se o desconto for condicionado ao cadastro sem explicação adequada.




