O saque-aniversário do FGTS, criado como alternativa de acesso ao saldo do fundo, passa por mudanças que tendem a reduzir de forma significativa seu alcance entre os trabalhadores, ao mesmo tempo em que reacendem o debate entre preservar o patrimônio do trabalhador e manter uma oferta de crédito mais acessível.
O que é o saque-aniversário do FGTS e como funciona atualmente

O saque-aniversário do FGTS permite que o trabalhador retire, todos os anos, uma parte do saldo de suas contas ativas e inativas, no mês de aniversário ou em período próximo. Quem opta por essa modalidade abre mão do saque integral em caso de demissão sem justa causa, mantendo apenas o direito à multa rescisória.
Com a popularização do modelo, surgiu a antecipação do saque-aniversário, em que o banco adianta, de uma só vez, parcelas que seriam recebidas ano a ano. O pagamento é garantido pelo próprio FGTS, o que reduz o risco para as instituições e, em teoria, possibilita juros menores que em outras linhas de crédito pessoais.
Por que o saque-aniversário pode se tornar menos atrativo para os bancos
Associações de bancos e financeiras projetam que, mantidas as mudanças recentes, o acesso à antecipação pode cair para cerca de 5% do volume anterior, reduzindo a atratividade da operação. Menos contratos e tíquetes menores significam perda de escala e aumento relativo de custos administrativos.
Os dados mostram que aproximadamente 74% dos contratantes da antecipação estavam negativados, sem acesso a outras modalidades de crédito formal. Entre os 37 milhões de trabalhadores que aderiram ao saque-aniversário, 26 milhões contrataram antecipação, e cerca de 9 milhões estavam desempregados, usando o FGTS como única forma de levantar recursos.
Quem mais depende da antecipação do FGTS para conseguir crédito
O uso da antecipação se concentra em trabalhadores com restrição cadastral ou renda limitada, que costumam ter pedidos de crédito rejeitados em outros canais. Estimativas indicam que apenas cerca de 25% dos brasileiros com emprego formal têm solicitações de financiamento aprovadas pelos bancos, o que revela um mercado bastante seletivo.
Nesse contexto, o FGTS é usado como garantia de empréstimo para quem não teria acesso a linhas tradicionais, pois os recursos são descontados diretamente do fundo. Apesar do custo financeiro, a taxa costuma ser inferior à de produtos para negativados, como crédito pessoal sem garantia, o que torna essa opção mais competitiva para esse público.
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Quais são as novas regras do saque-aniversário e da antecipação
As regras atuais impõem limites mais rígidos ao uso da antecipação do saque-aniversário, reduzindo o valor total disponível para empréstimo. Para os bancos, contratos de menor valor implicam menor receita por operação, o que pode levar parte das instituições a reduzir ou abandonar essa linha de crédito.
Entre as principais mudanças anunciadas, destacam-se as seguintes limitações operacionais impostas aos trabalhadores que optarem pela antecipação:
- Autorização de apenas uma operação de antecipação por ano para cada beneficiário.
- Carência mínima de 90 dias após a adesão ao saque-aniversário para contratar a antecipação.
- Possibilidade de antecipar no máximo cinco parcelas anuais entre novembro de 2025 e outubro de 2026.
- A partir de novembro de 2026, limite de três parcelas anuais por operação.
- Cada parcela antecipada deve ficar entre R$ 100 e R$ 500.
Qual é a justificativa do governo para endurecer as regras

O governo federal argumenta que é preciso preservar o objetivo original do FGTS, criado como reserva de segurança para demissão sem justa causa, doenças graves, aposentadoria ou compra da casa própria. A ampla utilização do saldo como garantia de crédito poderia comprometer essa função protetiva e aumentar a vulnerabilidade em situações de crise.
Ao restringir a antecipação, a intenção é manter no FGTS uma base de recursos suficiente para assegurar renda em momentos de emergência. A equipe econômica teme que a antecipação em massa deixe muitos trabalhadores sem saldo disponível em demissões ou tratamentos de saúde, pressionando ainda mais a rede de proteção social.
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Como o trabalhador pode avaliar se o saque-aniversário ainda compensa
Com as novas regras, a decisão de aderir ao saque-aniversário exige análise mais cuidadosa e planejamento financeiro. É importante avaliar estabilidade no emprego, nível de endividamento, custo do crédito e a real necessidade de recursos, considerando que a modalidade reduz o acesso ao saque integral em caso de demissão.
Para organizar essa avaliação, o trabalhador pode refletir sobre alguns pontos práticos antes de optar pela modalidade ou pela antecipação:
- Estabilidade no emprego: setores com alta rotatividade aumentam o risco de falta do saque integral.
- Endividamento atual: muitos compromissos podem tornar o FGTS a única reserva disponível.
- Custo do crédito: comparar a taxa da antecipação com outras alternativas acessíveis.
- Urgência da despesa: evitar antecipar múltiplas parcelas para gastos não essenciais.



