O anúncio de mudanças no Atestmed, sistema usado para concessão do benefícios, marca uma nova fase na digitalização dos serviços da Previdência Social, com foco em mais rapidez no atendimento, critérios mais rigorosos para reduzir fraudes, revisão de afastamentos longos e fortalecimento da segurança jurídica das concessões. As alterações também dialogam com outras iniciativas do INSS de ampliação do atendimento remoto e integração de bases de dados, como o uso mais intenso do Meu INSS e de prontuários eletrônicos de saúde.
O que muda no benefício digital?

O benefício por incapacidade temporária protege o trabalhador que, por motivo de saúde, não pode exercer suas atividades por um período definido. Com o Atestmed, essa avaliação passou a ser feita, em grande parte, sem encontro presencial com o perito, com envio de atestados por plataforma oficial.
A proposta inicial foi agilizar o processo, liberar a perícia presencial para casos complexos e reduzir filas nas agências do INSS. Porém, a análise limitada à conferência formal dos dados do atestado mostrou fragilidades, especialmente quanto à avaliação clínica e à real incapacidade laboral.
Com a reformulação, a ideia é combinar a praticidade do ambiente digital com uma triagem mais qualificada, usando critérios clínicos mais detalhados, histórico de afastamentos e integração com dados de vínculos trabalhistas e contribuições previdenciárias para dar mais consistência às decisões.
Quais mudanças estruturais há?
As alterações programadas para o Atestmed buscam torná-lo uma ferramenta de avaliação mais completa e segura. Um dos pilares é a exigência de assinatura eletrônica nos atestados, vinculando digitalmente o documento ao profissional de saúde e permitindo checagem automática com conselhos de classe e bases de certificados.
O papel do perito também será ampliado, passando de mera verificação formal para análise de mérito do conteúdo. Assim, o perito poderá ajustar o tempo de afastamento, negar o benefício em casos de suspeita de fraude e aproximar a análise documental da lógica adotada nas perícias presenciais, inclusive em pedidos de prorrogação feitos diretamente no sistema.
Além disso, está em estudo a adoção de protocolos clínicos de referência por grupo de doenças (como ortopédicas, psiquiátricas e cardiovasculares), para orientar tanto médicos assistentes quanto peritos sobre durações médias de afastamento, necessidade de exames complementares e critérios mínimos de comprovação.
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Como impacta filas e fraudes?
As críticas ao modelo atual se concentram em controle de filas, prevenção de fraudes e impacto financeiro. Auditorias apontaram aumento de concessões e da duração de alguns afastamentos, o que, aliado à análise pouco detalhada, ampliou o risco de erros e irregularidades.
Com assinatura eletrônica e verificação automatizada da autenticidade dos atestados, o governo pretende criar um filtro tecnológico mais robusto, incluindo cruzamento de dados para identificar padrões suspeitos de emissão e afastamentos. Entre os efeitos esperados estão:
- Redução de atestados falsos ou emitidos por profissionais sem registro ativo;
- Detecção de afastamentos muito longos para quadros normalmente breves;
- Separação mais clara entre casos simples (digitais) e complexos (presenciais);
- Uso mais eficiente da força de trabalho dos peritos, focando benefícios de maior valor ou duração.
Também está em discussão a revisão do prazo máximo do benefício concedido de forma digital, hoje limitado a 60 dias. A tendência é aproximar esse teto das durações médias observadas, reduzindo agendamentos presenciais motivados apenas por esgotamento de prazo.
Outra frente é o monitoramento contínuo de “perfis de risco”, como repetidas entradas de atestados para o mesmo segurado em curtos intervalos, ou grande volume de afastamentos assinados por um pequeno grupo de profissionais, gatilhando auditorias específicas sem prejudicar quem utiliza o sistema de forma regular.
Quais cuidados o trabalhador precisa?

Com as mudanças, o cuidado na obtenção e envio do atestado médico se torna ainda mais decisivo para o benefício por incapacidade temporária. Documentos incompletos, genéricos ou sem assinatura eletrônica válida podem atrasar ou impedir a concessão do auxílio. Siga esses passos:
- Consultar profissional de saúde com registro ativo e certificação eletrônica reconhecida;
- Verificar se o atestado indica diagnóstico ou CID, data, tempo de afastamento e justificativa do impedimento para o trabalho;
- Manter exames e relatórios complementares organizados para eventual perícia presencial;
- Acompanhar o andamento do pedido pelos canais oficiais da Previdência;
- Observar prazos para solicitar prorrogação quando a recuperação exigir mais tempo.
É recomendável ainda que o trabalhador mantenha seus dados cadastrais atualizados no Meu INSS, ative notificações em aplicativos oficiais e guarde cópias digitais dos documentos enviados, para facilitar recursos administrativos em caso de indeferimento ou divergência na duração do afastamento concedido.
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Qual o futuro do benefício digital?
A reformulação do Atestmed integra uma agenda mais ampla de modernização dos serviços públicos, com uso intensivo de dados, assinaturas digitais e análise automatizada. A meta é equilibrar rapidez no atendimento, segurança contra fraudes e sustentabilidade das contas previdenciárias.
A partir de 2026, será possível avaliar se o modelo digital manterá o acesso ágil ao auxílio-doença e reduzirá vulnerabilidades iniciais do sistema. A forma de implementação impactará diretamente segurados, médicos e peritos, influenciando a percepção sobre a eficiência e a confiabilidade da política previdenciária brasileira.




