O caso de Sauntore Thomas, um homem negro que venceu um processo por discriminação racial no trabalho e depois foi tratado como suspeito ao tentar depositar a indenização em um banco em Michigan, expõe em 2025 como o racismo institucional ainda afeta o acesso a serviços financeiros e a segurança de pessoas negras em situações cotidianas.
O que aconteceu com Sauntore Thomas dentro do banco
No dia do depósito, Thomas chegou ao TCF Bank com três cheques referentes ao acordo judicial contra a Enterprise Leasing, onde alegou ter sofrido discriminação racial. Os valores eram legítimos, emitidos pelo escritório de seus advogados e acompanhados de ordem judicial e outros comprovantes oficiais.
Mesmo com toda a documentação, funcionários suspeitaram da autenticidade dos cheques e se recusaram a processar a operação, optando por chamar a polícia em vez de buscar outros meios de confirmação. Enquanto aguardava, Thomas registrou em vídeo a recusa, o atendimento e o acionamento das autoridades.
Por que o episódio foi classificado como discriminação racial
A defesa de Thomas argumentou que o tratamento recebido extrapolou a mera cautela bancária, pois se baseou em suspeita desproporcional diante de provas documentais robustas. Presumir fraude mesmo com ordens judiciais e cheques de um escritório de advocacia repete um padrão de suspeição dirigido a clientes negros.

O fato de o mesmo valor ter sido aceito em menos de 12 horas em outra instituição, o Chase Bank, reforçou que não havia irregularidade financeira alguma. Esse contraste, somado ao contexto de “banking while Black”, evidenciou um viés racial na forma como o TCF Bank conduziu o atendimento.
Como a experiência anterior de Thomas com a polícia influenciou o desfecho
Ex-integrante da Força Aérea dos EUA, Thomas já havia enfrentado situações de alta pressão e conhecia procedimentos de segurança. Durante a abordagem policial no banco, manteve a calma, cooperou com as perguntas e evitou qualquer reação que pudesse ser interpretada como ameaça.
Esse autocontrole ajudou a impedir uma escalada de violência, comum em interações tensas entre pessoas negras e forças de segurança. A postura serena, a documentação organizada e o registro em vídeo transformaram um episódio de constrangimento em um caso com potencial de responsabilização civil do banco.
Quais foram os principais elementos que sustentaram o processo contra o banco
Depois do incidente, Thomas ingressou com uma nova ação judicial contra o TCF Bank, alegando discriminação racial e danos morais. O caso ganhou força com provas materiais e com o contexto de aumento das denúncias de racismo em serviços financeiros nos Estados Unidos.
Entre os fatores que consolidaram a narrativa de discriminação e ampliaram a pressão pública e jurídica sobre a instituição, destacam-se:
- Documentos oficiais que comprovavam a origem lícita dos valores, como ordem judicial, cheques originais e cartas do escritório de advocacia.
- Registro em vídeo do atendimento, das falas dos funcionários e da decisão de acionar a polícia diante de um cliente documentado.
- Comparação com outro banco, já que o Chase Bank aceitou rapidamente os mesmos cheques, sem suspeitas ou constrangimentos.
- Clima social de maior visibilidade para casos de “banking while Black” em relatórios de direitos civis, mídia e pesquisas acadêmicas.
O que se sabe sobre o acordo confidencial entre Thomas e o TCF Bank
Os detalhes financeiros e os termos específicos do acordo entre Thomas e o TCF Bank foram mantidos em sigilo, prática comum em soluções extrajudiciais com grandes instituições. Ainda assim, algumas medidas adotadas pelo banco vieram a público e permitiram dimensionar parcialmente o impacto do caso.
A instituição divulgou um pedido de desculpas, reconhecendo que a polícia não deveria ter sido acionada, e anunciou treinamentos obrigatórios sobre preconceito inconsciente para funcionários. O episódio passou a ser citado em debates sobre responsabilidade corporativa, compliance antirracista e reparação em situações de racismo institucional.
Por que “banking while Black” ainda é um alerta em 2025
Cinco anos após o caso, o termo “banking while Black” segue recorrente em reportagens, estudos e relatórios de organizações de direitos civis. Pessoas negras ainda relatam maior suspeita em operações de alto valor, exigência excessiva de documentos e sensação constante de vigilância em agências bancárias.
Pesquisas recentes nos EUA indicam que esse cenário afeta o uso de serviços financeiros, o acesso a crédito e a própria sensação de dignidade ao movimentar dinheiro. Especialistas defendem protocolos claros contra discriminação, monitoramento estatístico por raça e canais ágeis de denúncia e reparação.
O que o caso de Sauntore Thomas sinaliza para vítimas de discriminação em serviços financeiros
A trajetória de Thomas, da ação por discriminação no trabalho ao conflito com o banco, mostra como o racismo estrutural pode se repetir em diferentes etapas da vida econômica. O caso evidencia ainda a importância de reunir evidências, buscar apoio jurídico qualificado e, quando possível, tornar o episódio visível para pressionar instituições.
Em um cenário de desigualdade racial no acesso a crédito, emprego e patrimônio, situações como essa funcionam como alerta para bancos, reguladores e organizações civis. Garantir que ninguém seja tratado como suspeito apenas por sua cor de pele é parte essencial do direito de movimentar recursos com segurança, dignidade e respeito.




