A recusa alimentar em crianças é um dos maiores motivos de preocupação dos pais, mas, segundo o Dr. Alexandre Duarte, médico especializado em fisiologia metabólica e hormonal (CRM-SP 162757), isso nem sempre é motivo para alarde. Em um vídeo publicado no Instagram (@dralexandreduarte), ele afirma com clareza: “A criança não vai morrer de fome. Ficar dois, três dias sem comer não é o fim do mundo”.
Segundo o médico, o problema muitas vezes não está na ausência de apetite, mas no excesso de estímulos e hábitos alimentares distorcidos. “Pança cheia não tem fome. Só vontade de porcaria”, explica. Para ele, o que está em jogo não é a fome fisiológica, mas o apetite por alimentos hiperpalatáveis, como doces e processados — um reflexo direto do ambiente alimentar moderno.
Criança que recusa comida está doente?
Não necessariamente. Dr. Alexandre Duarte explica que a recusa ocasional por parte da criança não é sinônimo de doença ou desnutrição. O corpo humano, inclusive o infantil, possui mecanismos naturais de regulação do apetite. Se a criança está saciada, é natural que ela rejeite mais comida — especialmente se está exposta constantemente a alimentos ultraprocessados e recompensas emocionais.
O perigo, segundo ele, está em interpretar qualquer negativa como sinal de problema. Forçar a alimentação, principalmente com alimentos calóricos e de baixo valor nutricional, contribui para distúrbios alimentares futuros e aumenta o risco de obesidade infantil, já considerada uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde.
Quanto tempo uma criança pode ficar sem comer?
O médico explica que, fisiologicamente, uma criança saudável pode passar até 15 a 20 dias sem comer antes de entrar em risco grave, desde que hidratada e monitorada. Obviamente, isso não significa que esse período seja recomendado — mas sim que o corpo possui reservas e mecanismos de adaptação muito mais eficientes do que se imagina.

No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o jejum alimentar moderado em crianças que não demonstram fome não é imediatamente perigoso. O que o Dr. Alexandre questiona é o pânico excessivo que muitos pais sentem diante de um dia ou dois de recusa alimentar, o que frequentemente leva a compensações com guloseimas e hábitos nocivos.
Qual a diferença entre fome real e vontade de comer?
Para o Dr. Alexandre Duarte, entender essa diferença é fundamental. Fome real é a necessidade biológica por nutrientes — e, nesse caso, a pessoa aceita qualquer alimento. Já o desejo por comidas específicas, como chocolate, pizza ou lasanha, na maioria das vezes, é um sinal de saciedade fisiológica associada ao apetite emocional.
Esse tipo de comportamento é comum quando há excesso de calorias na rotina e uma cultura alimentar baseada em recompensas. A criança que já está alimentada, mas pede apenas doces ou alimentos ultraprocessados, está manifestando apetite condicionado — algo que deve ser identificado e corrigido com hábitos alimentares saudáveis e não com mais estímulo.
Como a cultura alimentar contribui para esse cenário?
Segundo o especialista, vivemos em uma cultura alimentar fantasiosa, voltada ao consumo exagerado e ao estímulo constante por alimentos industrializados. “Fomos criados num mundo de fantasia sobre alimentação, pra gerar obesos, doentes, diabéticos e hipertensos”, afirma.
Essa crítica é endossada por instituições como o Ministério da Saúde, que alertam para os riscos do consumo excessivo de ultraprocessados na infância. As propagandas, a presença constante de guloseimas em casa e o uso de alimentos como recompensa moldam hábitos que favorecem o surgimento precoce de doenças metabólicas e transtornos alimentares.
Como lidar com a recusa alimentar sem exageros?
O primeiro passo, segundo o Dr. Alexandre, é não entrar em pânico. Se a criança está ativa, hidratada e saudável, a recusa pontual por comida não deve ser motivo de desespero. O ideal é respeitar a saciedade, evitar forçar a ingestão e, principalmente, não oferecer “porcarias” como solução.
Também é importante manter horários regulares de alimentação, apresentar alimentos de verdade (frutas, legumes, proteínas naturais) e reduzir a exposição a estímulos de recompensa alimentar. Quando a criança sente fome real, ela come — e é justamente isso que precisa ser respeitado e incentivado.
Fontes oficiais e referências confiáveis
- Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude
- Organização Mundial da Saúde (OMS): https://www.who.int/pt
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): https://www.sbp.com.br
- ,UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância: https://www.unicef.org/brazil
Essas entidades oferecem diretrizes sobre nutrição infantil, obesidade, educação alimentar e prevenção de distúrbios alimentares desde a infância.
O que pais e cuidadores precisam entender sobre apetite infantil?
Nem toda recusa alimentar é um sinal de alerta. Em muitos casos, a criança está apenas expressando saciedade ou reagindo a estímulos alimentares excessivos e desbalanceados. Como reforça o Dr. Alexandre Duarte, o foco deve ser a educação alimentar verdadeira — e não o medo de ver a criança pular uma refeição.
Com menos pressão e mais consciência, é possível criar uma geração mais saudável, conectada com os próprios sinais de fome e saciedade. E isso começa com adultos mais informados e menos ansiosos diante do prato vazio.