Entre os crimes digitais mais frequentes no Brasil está o chamado golpe do “pix errado”. A tática dos golpistas é simples, mas eficaz: eles transferem um valor para a conta da vítima e, em seguida, entram em contato afirmando que o envio foi um engano. O pedido é que o dinheiro seja devolvido — mas não para a mesma conta, e sim para uma terceira chave Pix.
Essa ação induz a vítima a agir com boa fé, acreditando estar apenas corrigindo um erro. No entanto, após receber a devolução, os criminosos acionam o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado pelo Banco Central, que permite solicitar o estorno em casos de fraude. Assim, o banco estorna o valor para o golpista, enquanto a vítima já fez a transferência para outra pessoa — e acaba ficando no prejuízo.
Entenda por que a devolução pode ser um risco para o seu bolso
O grande problema do golpe está na combinação entre agilidade e confiança. Por conta da rapidez do Pix, os usuários tendem a agir impulsivamente, sem checar os detalhes da transação. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o correto, em caso de erro, é utilizar a funcionalidade de devolução dentro do próprio aplicativo bancário, para garantir que o valor retorne diretamente à conta de origem.
Dados do Banco Central revelam que apenas nos dois primeiros meses de 2025 foram feitas 719.853 solicitações de devolução por meio do MED. Dessas, 289.789 foram aceitas total ou parcialmente, somando R$ 30,7 milhões devolvidos.
Táticas dos golpistas apelam para urgência e emoção
Os golpistas utilizam argumentos persuasivos e exploram emoções como culpa ou senso de urgência. É comum que a abordagem seja feita com mensagens gentis, mas insistentes, solicitando a devolução imediata do valor. Muitos criminosos ainda se passam por representantes de empresas ou instituições conhecidas, dando mais credibilidade ao pedido.
Em alguns casos, os criminosos criam perfis falsos em redes sociais, simulando amigos ou familiares, o que aumenta as chances de sucesso do golpe. Por isso, o ideal é sempre desconfiar, especialmente quando a solicitação envolver transferência para uma conta diferente da que realizou o pagamento original.
Veja como se proteger antes de tomar qualquer decisão
O especialista Paulo Trindade, da ISH Tecnologia, recomenda que nunca se devolva valores via Pix a terceiros sem uma verificação rigorosa. Em caso de dúvida, é preferível não fazer a transferência. Caso o pagamento realmente tenha sido um erro, o próprio sistema do banco permite realizar a devolução correta.
Se a vítima já tiver feito a transferência, é essencial registrar um Boletim de Ocorrência, guardar todos os dados da transação e entrar em contato imediato com o banco. A devolução do dinheiro pode demorar até três meses, e nem sempre é garantida.
Saiba onde denunciar e como buscar ajuda especializada
Quem for vítima do golpe do Pix deve reunir o máximo de informações possível sobre o golpista: nome do destinatário da transferência, chave Pix, número de telefone e prints das conversas. Com esses dados, é possível registrar um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e notificar o banco.
Além disso, entidades como a Febraban e o Banco Central orientam que os usuários desconfiem de pedidos urgentes e que busquem os canais oficiais dos bancos para qualquer devolução.
O Comprova também atua no combate à desinformação digital e recebe denúncias de golpes pelo WhatsApp no número (11) 97045-4984. Outras iniciativas, como o Estadão Verifica, a AFP Checamos e a Agência Lupa, também ajudam a identificar e mapear fraudes que circulam nas redes.
