The Pitt chegou ao Max em janeiro de 2025 envolta em controvérsia, mas conquistou audiência e crítica com uma abordagem inovadora do drama médico. A série estreou em 9 de janeiro com duas primeiras partes e rapidamente se tornou uma das cinco estreias mais assistidas na história da plataforma. Com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes baseado em 75 avaliações críticas, a produção estabeleceu um novo padrão para o gênero médico na era do streaming.
A criação de R. Scott Gemmill, com produção executiva de John Wells e Noah Wyle, adota o formato de tempo real ao longo de 15 episódios, cobrindo 15 horas consecutivas em um pronto-socorro de Pittsburgh. Esta estrutura narrativa, similar à série 24 Horas, permite mergulho profundo nos dilemas médicos e pessoais dos profissionais de saúde. A segunda temporada já foi confirmada para janeiro de 2026, com filmagens iniciadas em junho de 2025 em Los Angeles.
Por que a série enfrenta uma batalha judicial histórica?
A maior controvérsia envolvendo The Pitt não acontece nas telas, mas nos tribunais. Sherri Crichton, viúva do criador de ER, Michael Crichton, processou a Warner Bros. Television alegando que a série é um reboot não autorizado de ER. O processo, movido em agosto de 2024, ganhou força em fevereiro de 2025 quando a juíza Wendy Chang negou a moção da Warner Bros. para arquivar o caso.
Segundo os documentos legais, John Wells iniciou negociações com o espólio de Crichton em 2020 para criar um reboot oficial de ER. As conversas se estenderam por três anos, com Sherri Crichton exigindo crédito de criação para o falecido marido e compensação financeira substancial. O acordo desmoronou em abril de 2023 quando a Warner Bros. se recusou a conceder o crédito “criado por” para Crichton e considerou “exorbitantes” as demandas financeiras do espólio.

Como a mudança de Chicago para Pittsburgh alterou tudo?
Após o fracasso das negociações, os produtores pivotaram estrategicamente. Transferiram o cenário de Chicago para Pittsburgh, mantendo Noah Wyle como protagonista e preservando a equipe criativa original de ER. Esta mudança geográfica tornou-se o epicentro da disputa legal. Sherri Crichton argumenta que “The Pitt é ER. Não é como ER, não é tipo ER, não é meio ER. É ER completo com o mesmo produtor executivo, escritor, estrela, produtoras, estúdio e rede da renovação planejada de ER.”
Michael Crichton havia garantido uma cláusula de “direitos congelados” em seu contrato original de ER, proibindo qualquer produção derivada sem seu consentimento. A Warner Bros. contra-argumenta que The Pitt representa “uma obra completamente diferente” e que o espólio não pode usar o contrato de Crichton como “arma para silenciar a liberdade de expressão” e impedir qualquer série sobre medicina de emergência.
Qual é o diferencial técnico e narrativo da produção?
The Pitt inova tecnicamente ao eliminar praticamente toda trilha sonora musical, privilegiando sons ambientais reais do hospital. Jeremy D. Larson observou que “ao invés de uma trilha, ouvimos o zumbido de uma máquina ECMO, macas rolando em curvas, articulações sendo recolocadas no lugar, cavidades oculares sendo drenadas de sangue, máquinas de ECG apitando, alarmes de tornozeleiras eletrônicas disparando, ou os lamentos distantes de uma mãe enlutada.”
A série utiliza efeitos práticos quase exclusivamente, com poucas modificações em pós-produção. A equipe colaborou com a empresa de efeitos especiais Autonomous FX para criar próteses médicas realísticas. O elenco passou por duas semanas de treinamento intensivo com três médicos de emergência, aprendendo técnicas como sutura, intubação, ultrassonografia médica e RCP. A produção filmou no Allegheny General Hospital como exterior do hospital fictício, incorporando referências arquitetônicas específicas de Pittsburgh.
Como o formato de tempo real transforma a experiência médica?
A decisão de adotar narrativa em tempo real distingue The Pitt de predecessores como Grey’s Anatomy e ER. Gemmill explica que o formato destaca “a importância do tempo, que acredito distinguir a medicina de emergência de outras especialidades médicas.” Cada episódio dura entre 41 e 61 minutos, correspondendo aproximadamente a uma hora na vida do Dr. Michael “Robby” Rabinavitch.
Esta estrutura permite exploração profunda de casos complexos que se estendem por múltiplos episódios, como pais que resistem a aceitar a morte cerebral do filho por overdose de fentanil, ou um homem que se torna progressivamente agressivo na sala de espera. A narrativa em tempo real também amplifica a tensão dramática, mostrando como decisões médicas críticas devem ser tomadas sob pressão temporal extrema.
Que impacto a série terá no futuro dos dramas médicos?
The Pitt estabelece precedente importante para dramas médicos na era pós-COVID-19. A série aborda diretamente o trauma dos profissionais de saúde causado pela pandemia, com flashbacks que Noah Wyle descreve como “parecendo um filme de terror.” Dr. Robby carrega o peso da perda de seu mentor durante a pandemia, representando milhares de profissionais que enfrentaram traumas similares.
A confirmação da transmissão na TNT no outono de 2025, antes da segunda temporada do Max, indica estratégia multiplataforma da Warner Bros. Discovery para maximizar audiência. Casey Bloys da HBO Max sugere que esta abordagem pode se tornar modelo para futuras produções. O sucesso crítico e comercial de The Pitt demonstra que audiências contemporâneas ainda valorizam procedimentais bem executados, especialmente quando combinam realismo técnico com profundidade emocional autêntica.