Turma da 2ª série do colégio Determinante com os professores Alexandre e Junio -  (crédito: Divulgação)

Turma da 2ª série do colégio Determinante com os professores Alexandre e Junio

crédito: Divulgação

*Conteúdo produzido por Flávio Castro

Um projeto que propôs a alteração da Lei 14486, de 2002, que “disciplina o uso de telefone celular em salas de aula, teatros, cinemas e igrejas, para dispor sobre o uso de dispositivos móveis eletrônicos em ambiente escolar”, vem gerando uma rica discussão na comunidade estudantil da capital mineira. Alunos, pais, professores e gestores debatem sobre o sentido e a efetividade dessa possível proibição nas salas de aula de Belo Horizonte.

Será mesmo que proibir o uso de celulares pode ser uma solução? E, por outro lado, liberar seu uso desbragadamente, transferindo os processos pedagógicos para o ambiente digital é uma possibilidade viável? É essencial que qualquer alteração na lei considere estratégias para mitigar os pontos negativos, como políticas de uso responsável, enquanto se aproveita os benefícios que a tecnologia pode trazer para o ambiente educacional. Vejamos então os prós e contras. Antes, porém, quero deixar claro que, mesmo com minha experiência de mais de 25 anos como professor e um nomofóbico (viciado em celular) assumido, eu ainda não tenho uma opinião formada sobre esse assunto e espero que, ao elencar vantagens e prejuízos, eu consiga ao menos desfiar um pouco esse novelo de dúvidas e contradições.

Para auxiliar minha tarefa, joguei essa discussão num gigantesco e conturbado grupo de WhatsApp composto por professores(as), do qual eu faço parte. A conversa rendeu - e como rendeu! Afinal, vivemos na “Era dos Debates” e praticamente todos aqueles que têm um celular têm opinião - e vice-versa! Logo, um professor se vangloriou de seu método inovador de ensinar a gramática da Língua Portuguesa por meio do (onipresente) aplicativo de mensagens. Não conheço o método para afirmar se é bom ou não, mas reconheço que “a propaganda é a alma do negócio”. Ponto para o professor!

Um outro colega de profissão, por sua vez, se insurgiu quanto ao uso dos aparelhos, que sequestram o foco, destroem a concentração e massacram qualquer chance que o professor tenha de disputar a atenção dos estudantes. Como convencer alguém que uma aula sobre ligações covalentes é mais interessante que a cobertura que um tiktoker fez do cruzeiro do Neymar? Como fazer um adolescente crer que a truncada poética de João Cabral de Melo Neto pode ser mais divertida que os meandros digitais da luta de boxe ente Bambam x Popó?

Podemos, porém, listar os incontáveis benefícios de estarmos conectados full time durante a aula. É possível, por exemplo, encontrar imediatamente no Google Maps a localização de Tuvalu (um Estado da Polinésia formado por nove ilhas e atóis, conforme acabei de pesquisar em meu celular), assim como
é possível transformar o aparelho numa calculadora científica, numa enciclopédia robusta ou num tradutor minimamente confiável. E aí chegamos a um ponto, digamos, bastante desconfortável da nossa discussão: estamos nos aproximando do fim de uma era em que o professor é o principal agente e promotor do aprendizado? Sim, é possível evocar o clichê que, ainda que as máquinas tragam rapidamente as respostas, quem faz as perguntas ainda (ainda) são os seres humanos. Será, porém, que com tanta informação disponibilizada nos aparelhos, conseguimos encontrar uma brecha pra refletir e
questionar? Não sei. Sinceramente não sei. Vou perguntar ao ChatGPT, vejamos o que o oráculo do algoritmo tem a nos dizer:

A questão que você levanta é bastante relevante na era digital contemporânea. A capacidade dos dispositivos móveis e da internet de fornecer respostas quase instantâneas trouxe enormes benefícios para o acesso à informação e aprendizado. No entanto, isso também pode levar a uma sobrecarga de
informações e à passividade em relação ao consumo de conteúdo, o que pode diminuir o espaço para reflexão crítica e questionamento profundo. Apesar dessa tendência, a habilidade de refletir e questionar continua sendo um traço distintamente humano, intimamente ligado à nossa curiosidade natural e ao
desejo de entender o mundo ao nosso redor. Para que possamos manter e cultivar essa habilidade, é importante criar espaços e tempos específicos para desconectar das fontes constantes de informação e engajar em pensamento profundo e contemplação.

 

Receio que tenhamos voltado à estaca zero... Pois a questão é justamente essa: como “criar espaços específicos para desconectar das fontes de constante informação”? Proibindo o uso sob pena de punição? Mandando os usuários de celular para a Sibéria (onde provavelmente o serviço de internet paga é melhor que o do Brasil)? Ou equipando as salas de aula com monitores de alta definição e presenteando os professores com celulares de última geração? (Posso deixar aqui a minha chave pix caso o leitor tenha concordado com a última proposta).

Considero que, antes de tudo, estudantes, pais, professores e gestores, seja por tédio ou necessidade, flertamos todos com a nomofobia, ou seja, com o vício em celulares. Sabemos que a proibição do álcool nos EUA durante a Lei Seca na década de 20 acabou, paradoxalmente, estimulando o tráfico e o
consumo de bebida. Por outro lado, sabemos também que países como a Holanda e Finlândia voltaram atrás na permissão do uso dos aparelhos em sala de aula após a constatação dos evidentes prejuízos cognitivos e pedagógicos que essa tecnologia causou.

E assim como no início do solilóquio mais famoso da peça "Hamlet", escrita por William Shakespeare, eu refaço uma pergunta que é ao mesmo tempo profunda e vazia, que remete a um turbilhão de respostas e a um incômodo silêncio. Proibir ou não o celular em sala de aula? Eis a questão! Por enquanto, a única certeza que tenho, é a de que eu vou voltar a pensar esse tema – e espero que o leitor também.

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Sobre o autor: Flávio de Castro é pós-graduado em Letras pela Unicamp e escritor. Escreveu Desaparecida (2018) e Minério de Ferro (2021), além de colaborar em diversas revistas, jornais e suplementos. Atualmente é pesquisador no Posling do CEFET-MG e professor de Literatura e Interpretação de Textos no Curso DetOnline.