Juliana Silva
Especial para o EM
O ano de 2025 para Belo Horizonte foi de destaque em inovação e empreendedorismo. A capital mineira tem o 4º ecossistema de tecnologia que mais cresce no mundo, junto a Curitiba, que levou o 6º lugar — as únicas cidades brasileiras no top 20 desta categoria, “Rising Stars” ou Estrelas em Ascensão, segundo o relatório The Global Tech Ecosystem Index 2025. VOLL, Morada.ai, Dadosfera, MeEventos, Dynadok e Empresa 1 são empresas que contribuem diretamente para o posto de BH nesse cenário.
O ranking das cidades que mais avançam em tecnologia é definido pelos fatores: aumento do valor de mercado das empresas; volume de startups em expansão; número de startups unicórnio; maturidade dos fundos de investimento locais; e aumento da atração de capital estrangeiro. De acordo com o relatório, as cidades “Rising Stars” estão dando origem a uma nova geração de empresas de tecnologia. Abaixo, conheça seis empresas de BH que são referência em tecnologia e administração para aquelas que estão surgindo.
VOLL
Fundada como uma startup de viagens a trabalho, hoje a VOLL é a maior agência digital de viagens corporativas da América Latins. Em novembro, a empresa recebeu um investimento da gestora de private equity Warburg Pincus (EUA) no valor de R$ 700 milhões, que inclui a aquisição da totalidade da participação da Localiza e um aporte primário destinado a acelerar a inovação da empresa com inteligência artificial (IA).
A plataforma da VOLL funciona como uma central de gestão de viagens corporativas (com gestor e viajante usando o mesmo app): permite que a empresa defina limites de gastos por categoria (alimentação e saúde, por exemplo), compre passagens aéreas e rodoviárias, faça reservas de hospedagem, chame carros de aplicativo, faça pagamentos em restaurantes, farmácias e outros serviços, além de oferecer um atendimento 24/7 em três idiomas, português, inglês e espanhol — tudo isso com a entrega de relatório financeiro da viagem para a empresa em tempo real. Atualmente, o app da VOLL conta com mais de 850 mil usuários, de empresas como Itaú, Nubank, XP, Localiza, CPFL Energia e iFood.
Em 2025, seu maior lançamento foi o Smart Hub, um marketplace de agentes de IA que auxiliam na gestão de viagens e despesas corporativas. O Smart Hub entregou ao mercado os três primeiros agentes já disponíveis na plataforma da agência: o ExpenseHelper, para controle de despesas; o RatesAudit, para auditoria de tarifas de hospedagem; e o AirSave, que troca voos por opções idênticas e mais baratas em tempo real.
Morada.ai
A Morada.ai é uma startup especializada no uso de IA para o mercado imobiliário, fundada em 2021. A proptech desenvolveu a IA Mia para um atendimento digital ao cliente com conversas fluidas e reais, que hoje é utilizada por quase 200 incorporadoras em 17 estados brasileiros, incluindo as maiores do país, Direcional, Patrimar/Novolar, Emccamp, Morar, Canopus, One e VIC. A Mia é usada também para simular a venda de imóveis que estão dentro do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que gera acessibilidade à moradia, financiou cerca de 2 milhões de imóveis neste ano e deve financiar mais 1 milhão em 2026.
Uma captação de R$ 17 milhões foi anunciada neste mês pela startup, em uma rodada liderada pela Parceiro Ventures. O investimento permitirá que a Morada.ai continue desenvolvendo a Mia, IA generativa que, combinada com interfaces de programação de aplicativos (APIs) financeiras, reduz o tempo de resposta do consumidor e aumenta a taxa de vendas de apartamentos. Ela interage com as pessoas de forma natural, e em diversos idiomas, compreende textos, fotos, vídeos, áudios, responde por texto e por voz e ainda consegue fazer simulações financeiras precisas antes de direcionar um cliente a um corretor de imóveis, que pode entrar na negociação já no momento de fechamento da compra.
Dadosfera
Criada em 2019, a Dadosfera é uma startup de dados, IA e análises avançadas, capaz de integrar e organizar múltiplas fontes de dados. A startup já captou mais de R$ 13 milhões para investir no negócio e conquistou clientes dentro e fora do Brasil, como Afya, Boston Scientific e SBM Offshore.
Em 2025, a Dadosfera anunciou uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para desenvolver uma tecnologia de IA inédita: um Modelo de Linguagem Natural Brasileiro para Análise de Dados Tabulares do DATASUS, o Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto tem o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
A iniciativa pretende tornar dados públicos sobre saúde mais acessíveis à população brasileira. Hoje, o DATASUS concentra milhões de registros sobre internações, tratamentos e indicadores de saúde no país. Embora os dados sejam públicos, eles estão organizados em grandes tabelas técnicas, que exigem conhecimento avançado para serem consultadas. A nova tecnologia permitirá que qualquer pessoa faça perguntas em português simples ao DATASUS e receba uma resposta, sem precisar navegar por planilhas.
Também neste ano, a Dadosfera foi um ponto de virada para o Clube Atlético Mineiro com o uso de IA. Como funciona? O Atlético recebe informações (dados quantitativos) de 40 ligas com milhares de atletas ao redor do mundo, além das informações do próprio time. A cada partida, são registradas entre 2 e 3 mil ações por jogador, desde o posicionamento em campo até as finalizações. Esses dados alimentam modelos estatísticos que, somados ao parecer da comissão técnica do Galo, permitem tomadas de decisão. No futuro, o Atlético pretende explorar dados biomecânicos, com a ajuda da Dadosfera, para entender com mais profundidade o movimento dos atletas.
MeEventos
Há um movimento no mercado de eventos, rumo à previsibilidade, com menos planilhas e improvisos e mais controle real do que está acontecendo. Isso fortalece a startup MeEventos, que criou uma plataforma integrada de gestão de eventos centralizada, na qual um empreendedor consegue coordenar equipes, contratos, pagamentos, fornecedores e tudo o que um evento precisa em uma só lugar. Em 2025, mais de 200 mil eventos, realizados em todo o país, foram gerenciados por ali, 22% a mais que em 2024, o que fez o seu faturamento saltar 60%, para R$ 5,8 milhões.
Outra peça-chave para esse crescimento foi o lançamento e uso do DataEventos, a base de dados da MeEventos, para gerar insights de inteligência de mercado. São 1,6 mil empresas cadastradas, de todas as regiões do Brasil, e 8,5 mil usuários na plataforma. A base de dados não só fortaleceu o relacionamento com os clientes como também abriu caminhos comerciais por colocar a empresa em posição de fornecer análises e indicadores por estado e segmento de mercado, como buffet, drinks e coquetéis, decoração, fotos e vídeos.
Dynadok
Fundada há pouco mais de um ano, a Dynadok é uma startup de validação documental por IA, com tecnologia própria que agiliza processos, reduz custos e elimina os erros manuais na análise de documentos, e atende a todos os setores da economia. Sem investimentos externos, a startup fechará 2025 com um faturamento de R$ 3 milhões.
A Dynadok foi criada com base em uma forte demanda de mercado. Seu setor de atuação, conhecido como “Intelligent Document Processing” (IDP) ou Processamento Inteligente de Documentos deve alcançar US$ 26,53 bilhões em 2032, de acordo com a DataIntelo, com uma taxa anual de crescimento de 37,5% até 2027.
A tecnologia da startup é capaz de reduzir em 95% o tempo gasto nas análises documentais. Em empresas que já utilizam a IA da startup, a produtividade aumentou em até 30%, o que significa que o trabalho que demorava horas ou dias para ficar pronto, agora é feito em segundos.
Empresa 1
Na década de 1990, o vale-transporte ainda era feito de papel. Tamanha era sua circulação que começou a ser usado como “segunda moeda” para compras em padarias, supermercados e em outras transações financeiras, gerando uma grande evasão tarifária. Até que, em 1997, um projeto de bilhetagem trouxe para o Brasil uma tecnologia francesa de cartões inteligentes; eles substituíram os bilhetes de papel e inauguraram uma nova era na mobilidade urbana do país. A criadora desse projeto pioneiro foi a Empresa 1.
A Empresa 1 continuou, por todos esses anos, desenvolvendo tecnologias que agilizam os processos do serviço de transporte público que usam ônibus, facilitam a circulação de pessoas pelas cidades, dão mais segurança para o motorista e o passageiro e evitam fraudes no setor. Hoje, a Empresa 1, que tem sede em Belo Horizonte, atende mais de 150 cidades, gerencia 90 datacenters, mantém 18 milhões de cartões inteligentes em uso, realiza 20 milhões de certificações de crédito por dia e gera 218 milhões de imagens biométricas por mês.
