A presidente do Banco do Brasil Tarciana Medeiros disse que a instituição 'pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país' -  (crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A presidente do Banco do Brasil Tarciana Medeiros disse que a instituição 'pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país'

crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Banco do Brasil anunciou neste sábado (18/11) uma série de medidas institucionais para combater o racismo estrutural depois que o Ministério Público Federal abriu um inquérito para investigar o envolvimento do banco na escravidão e no tráfico de cativos africanos durante o século 19, história revelada com exclusividade pela BBC News Brasil.

A presidente da instituição, Tarciana Medeiros, primeira mulher negra no cargo desde a fundação do BB em 1808, diz em comunicado no site oficial que "o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país".

"O BB não se furta a aprofundar o conhecimento e encarar a real história das versões anteriores da empresa. Mas o simples fato de sermos uma instituição da atualidade nos move a realizar atividades voluntárias com o compromisso público e com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial e buscar por justiça social no âmbito de uma sociedade que guarda sequelas da escravidão, independentemente de existir ou não qualquer conexão, ainda que indireta, entre atividades de suas outras versões e escravizadores do século 19", acrescenta Medeiros.

O banco anunciou ações para promover inclusão racial, entre as principais estão:

  • cláusula de fomento à diversidade em contratos com fornecedores
  • parceria para encaminhar jovens do programa Menor Aprendiz para o mercado de trabalho
  • workshop sobre a promoção da diversidade, equidade e inclusão com estatais e fornecedores
  • lançamento de edital para apoiar iniciativas e empreendimentos de mulheres negras
  • programa para selecionar e desenvolver internamente a carreira de funcionários pretos e pardos

O inquérito do Ministério Público foi proposto por um grupo de 14 historiadores de 11 universidades, que pesquisaram e escreveram um texto sobre o que se sabe da relação do Banco do Brasil com a economia escravista e seus negociantes.

Eles descobriram, por exemplo, que entre os fundadores e acionistas do BB estavam alguns dos mais notórios traficantes de escravizados da época — entre eles José Bernardino de Sá, tido como o maior contrabandista de africanos do período.

A escravidão é considerada um crime contra a humanidade. Por isso, não prescreve e permite que ações relacionadas ao período ainda possam correr na Justiça.

O Banco do Brasil também divulgou uma carta aberta aos movimentos negros que foi lida em audiência pública no Rio também no sábado.

"As sequelas de um processo histórico perverso, que atingiu as comunidades negras e seus descendentes, ainda esperam novas medidas estruturais de todas as esferas sociais que tenham a capacidade de enfrentar e transformar esse triste cenário", diz trecho do documento.

Clemente Penna, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que o sistema financeiro da época "dependia da escravidão", mas ainda faltam mais pesquisas acadêmicas para determinar o papel de cada instituição.

"Era uma economia que tinha pouca moeda oficial circulando. O que havia era um sistema baseado em títulos de créditos, hipotecas, letras de câmbio… Quem tinha muito dinheiro em caixa eram os traficantes. Então, foram eles que financiaram o Estado, os títulos da dívida e o capital societário dos bancos", explica.

O Banco do Brasil também concedeu empréstimos a fazendeiros proprietários de escravizados.

Segundo a tese de doutorado de Thiago Campos Pessoa, da UFF, o banco emprestou 800 contos de réis para José e Joaquim de Souza Breves, conhecidos como Irmãos Breves, em 1871.

A pesquisa aponta que, além de acionista e com membros na diretoria do BB, a família Breves era conhecida como uma das maiores proprietárias de escravizados do país, com cerca de 5 mil pessoas espalhadas em suas fazendas no Rio e em São Paulo.