Antes de vestir a toga, Jéssica Grazielle Andrade Martins veste a camisa de atleta. Aos 41 anos, ela concilia audiências, filhos e treinos em diversas modalidades esportivas, sem perder o bom humor ou a energia. Mãe de dois filhos, juíza da Justiça do Trabalho desde 2013 e professora dedicada, mostra que é possível equilibrar carreira, maternidade e paixão por esporte.
Nascida em Belo Horizonte e criada em Santa Luzia, na região metropolitana, Jéssica cresceu em uma família ligada à educação e ao serviço público. O pai era professor de matemática, a mãe, assistente social, a irmã, psicóloga, e o irmão, advogado. Foi por meio da mãe, que trabalhava no Fórum, que teve seu primeiro contato com o universo jurídico.
“Quando eu era adolescente, quase me
profissionalizei no futsal do Cruzeiro”, lembra. Na época, precisou escolher entre o esporte ou o vestibular e optou pelo Direito. Mas os esportes nunca saíram de sua vida.
Formada em 2006 pela UFMG, Jéssica começou a carreira como servidora no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, passou pelo Ministério Público Federal e pelo TRT do Rio de Janeiro, até ingressar na Justiça do Trabalho. Entre os casos mais marcantes de sua trajetória estão uma decisão sobre racismo no ambiente de trabalho e a primeira decisão relacionada à SAF do Cruzeiro, que teve repercussão nacional. Atualmente, é juíza do Trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG).
Em ação, sem glamour
Quem imagina a vida de juiz cheia de privilégios precisa rever os conceitos. “É muito trabalho, muita audiência, muita gente com histórias de vida diferentes. Não tem sala VIP, não tem mordomia. Mas eu gosto de ouvir e mediar conflitos, é ali que tudo acontece”, diz.
Para ela, as audiências são o coração da magistratura. “É ali que você escuta as pessoas, busca soluções e tenta resolver os conflitos pelo diálogo.” Além da carreira, Jéssica é professora e formadora desde 2022, ministrando cursos para servidores e magistrados sobre os mais diversos temas. “Procuro trazer cursos mais interativos, que as pessoas possam fazer no seu tempo e que não fiquem só na teoria chata”, explica.
Coleção de medalhas
Ela é uma atleta completa: futsal, handebol, basquete, tênis de mesa, beach tennis e atletismo. Já conquistou medalhas em diversas modalidades nas Olimpíadas do Judiciário.
“Meu favorito é futsal. Já o tênis de mesa é um desafio: exige concentração e controle da ansiedade. Mas cada esporte me ajuda a evoluir como pessoa”, conta. Os treinos se intensificam próximo às Olimpíadas, com sessões de dois a três dias por semana para cada modalidade, conciliando preparo físico, trabalho e maternidade. “Minha mãe e minha irmã ajudam muito nos cuidados com os meus filhos, que têm 10 e 16 anos. A organização é essencial para conseguir conciliar tudo”, afirma.
Nos momentos de descanso, Jéssica gosta de séries, livros e música, desde histórias históricas a conteúdos leves e divertidos. Para ela, o que importa é humanidade e equilíbrio. “Quero ser lembrada como alguém humana, que consegue lidar com as pessoas sem violência e com sentimento”, resume.
