Desde o início do governo Romeu Zema, quem cuida do dia a dia da administração estadual é o vice-governador Mateus Simões. Inteligente, preparado, trabalhador e muito disciplinado, o “Professor”, como é chamado, é muito mais técnico do que político, o que hoje é uma enorme qualidade na visão da população, que mostra valorizar mais os chamados “outsiders”. Nessa entrevista exclusiva para o D&J Minas, Mateus Simões fala sobre segurança pública, meio ambiente, a venda da Copasa, as obras do Rodoanel e, claro, sobre a sua caminhada para a sucessão de 2026, passando pela sua recente mudança de partido.
O Sr. é o candidato já definido pelo governador Romeu Zema para sua sucessão ao governo de Minas em 2026. O Sr. se sente preparado para a condução do Executivo estadual. Por que?
A vantagem de ter sido escolhido pelo governador Romeu Zema há sete anos para conduzir o dia a dia do governo me dá a tranquilidade para o desafio que se coloca na eleição do ano que vem. Tenho convicção de que o tempo passado ao lado do governador permite uma condição de leitura privilegiada da situação de Minas Gerais e dos desafios que ainda temos pela frente.
Pesquisas recentes mostram que o quesito segurança é o que mais preocupa o brasileiro. Minas Gerais é tido como um estado seguro. O que avançou nessa seara na atual administração e o que pode ainda ser feito para melhorar ainda mais a segurança no estado?
A segurança no Brasil hoje é um tema multidimensional. Ao contrário do que já aconteceu no passado, em que a violência era considerada um problema social, há um forte impacto cultural da chamada “bandidolatria” e da banalização da violência, que precisam ser combatidos. Além disso, Minas enfrenta o desafio do combate à violência contra a mulher. Se por um lado nossas forças de segurança, as melhores do país, mantiveram fora do estado o crime organizado, por outro, a necessidade imediata de integração das bases de dados policiais é a única forma de nos proteger ao longo prazo. Os acontecimentos no Rio de Janeiro, na última semana, deixam evidente que Minas está longe dessa realidade (ainda que ela ameace nosso vizinho), mas ela só vai se manter distante se continuarmos a agir, pois o crime resiste e se organiza, a cada dia. A aprovação da operação no Rio também revela outras duas outras coisas: as polícias são capazes de combater de forma efetiva a atuação do crime e a população estará sempre ao lado do poder público nessa hora.
Um dos motes da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da segurança pública é incrementar o combate ao crime organizado. Essa PEC não retiraria poder das polícias estaduais? Como Minas tem enfrentado o crime organizado?
A PEC, como proposta pelo governo federal, é um erro. A pretensão de colocar as polícias estaduais sob o comando e direção do governo federal seria um retrocesso operacional sem precedentes. Basta dizer que o desempenho de polícias como de Minas e de Goiás é muito superior àqueles alcançados pela Polícia Federal. Sem modéstia, é mais fácil Minas ensinar a União sobre segurança pública do que aprender alguma coisa com ela.
O Sr., na semana passada, deixou o Partido Novo, onde foi um dos fundadores em Minas, para se transferir para o PSD – Partido Social Democrático. O que motivou essa mudança? O Sr. tem a garantia que, pelo PSD, será o candidato do partido ao governo de Minas? Qual sua expectativa em relação ao PSD na sua caminhada ao Palácio?
Minha filiação no PSD tem por objetivo avançar na formação de uma frente ampla na sucessão do governador Romeu Zema. É vontade do partido e minha decisão a de colocar o meu nome nas eleições do ano que vem, para garantir a sucessão do governador Romeu Zema. Estaremos dentro de uma grande coalisão que já conta neste momento com nove partidos: PSD, Novo, União, PP, Podemos, Solidariedade, Mobiliza, PRD e DC.
A sua migração para o PSD é um indicativo de que o governador Romeu Zema poderá contar com o apoio do partido no caso de uma eventual candidatura à presidência ou à vice-presidência da República?
Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema terá o palanque do PSD. Na verdade, o mais importante será organizar os governadores do Sul e Sudeste isoladamente ou em uma candidatura unificada para a oposição ao atual governo federal e seus erros. Ainda é cedo para definir a posição de cada um, mas o governador Romeu Zema será candidato às eleições nacionais no ano que vem.
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no mês passado, eliminou a necessidade de referendo para a venda da Copasa – Companhia de Saneamento de Minas Gerais. O Sr. acredita que a privatização dessa concessionária vai ser benéfica para o usuário dos serviços da Copasa e para o próprio governo? Por que? Existe a intenção de a Copasa passar a abastecer regiões do estado nas quais ainda não chega seus serviços?
O compromisso é de garantir a universalização do saneamento. A alienação do controle é parte do programa de financiamento da dívida com o governo federal, que infelizmente mantém a cobrança de juros de agiotagem contra os estados. Mas temos segurança de que é também um processo de modernização na direção de serviços mais rápidos, eficientes e alinhados com a legislação que prevê 2043 como prazo final para garantir 99% de cobertura de água potável e 90% de cobertura de esgoto tratado em todas as cidades atendidas pela empresa.
Neste mês acontece a COP30 em Belém. no Pará. Dezenas de países ainda não confirmaram suas presenças na conferência e os Estados Unidos já anunciaram que não comparecerão. O Brasil pode estar perdendo um grande momento para liderar a discussão de temas importantes relacionados ao clima e o meio ambiente do planeta? Qual sua expectativa em relação ao encontro?
Minas Gerais passou os últimos anos cumprindo seu papel na política de carbonização. Aliás, a própria ONU reconhece Minas como um dos melhores exemplos mundiais de políticas subnacionais de descarbonização. Fizemos nosso inventário, temos nosso plano de ação climática e tudo isso com apoio da iniciativa privada. Infelizmente, na esfera federal, muita conversa e pouca ação. Corremos o risco de não ter nada para mostrar em termos nacionais no momento em que o Brasil estará no centro das atenções climáticas.
O que falta para que se iniciem as obras do Rodoanel de Belo Horizonte e qual a importância dessa obra para a região metropolitana e para o próprio estado?
Infelizmente, estamos esperando apenas uma única autorização do governo federal, especificamente do Incra, afirmando que não há impedimentos de reforma agrária ou fundiários na área. Depois de todos os projetos aprovados, de licenças emitidas, de dinheiro separado, é uma vergonha que o órgão federal simplesmente não se pronuncie sobre o fato. Não se trata sequer de exigências ou apontamento de dificuldades, e sim de simples ausência de resposta. Enquanto isso, pessoas continuam morrendo no Anel rodoviário. Espero que a responsabilidade do Judiciário, que já foi acionado, e do governo federal, possa nos permitir o avanço dessa obra que é fundamental para o desenvolvimento da região metropolitana e para segurança daqueles que diariamente transitam pela capital.
