Ele acena para um, oferece degustação para outro. Distribui sorrisos para todos e faz questão de contar detalhes sobre cada produto que vende. Marcelo Jácome não para. Está tão presente no Empório Du Carmo, no Bairro Santo Agostinho, que virou a cara da loja. “Já ouvi cliente falar que vem aqui por causa do atendimento”, destaca o empresário, que ganha a clientela pela simpatia e também – faz questão de dizer – pela qualidade dos produtos que seleciona.


Marcelo sempre trabalhou com vendas, mas suas experiências eram em multinacional de petróleo e indústria farmacêutica. Quando decidiu deixar o mundo corporativo para empreender, não tinha ideia do que ia montar. “Sou administrador, mas fiz a coisa errada. Achei o ponto, aluguei a loja e depois comecei a pesquisar as necessidades da região para formatar o negócio.”


Todos os dias, ele se sentava na porta da loja e conversava com as pessoas que passavam por lá. Descobriu que, quando queriam comprar um produto diferente, os moradores não iam ao supermercado ao lado. Acabavam saindo do bairro, principalmente para ir ao Mercado Central. Marcelo, literalmente, ouviu os potenciais clientes e tomou a decisão de montar um empório. Não esconde que a sua maior referência é o Mercado Central. Segundo ele, é o melhor lugar para encontrar produtos artesanais.

Na hora de selecionar os produtos, Cíntia Lara, do Empório Barnabé, considera principalmente a qualidade, mas também dá muito valor para as histórias

Leandro Couri/EM/D.A Press


Não era a intenção, mas Marcelo acabou resgatando uma história de família. Seu pai era comerciante e chegou a ter um armazém no Bairro Calafate, há 62 anos, que funcionou por uma década. Na hora de definir o seu mix de produtos, ele pensou logo no seu Caetano, que vendia muitos itens a granel. Com o nome, ele homenageia a mãe, Maria do Carmo.


Na entrada da loja, tem uma seção de biscoitos para comprar no quilo, desde polvilho e amanteigado a rosquinha de nata. Os clientes já se acostumaram a experimentar antes de decidir o que levar. “Sempre ofereço, então tem criança que passa na porta esticando a mão. Vou viciando o pessoal desde cedo”, brinca. Outra vantagem do a granel é poder levar a quantidade que quiser.

“Vai lá no Marcelo”


Em 50 metros quadrados, estão expostos mais de mil produtos. Tirando os vinhos portugueses e os azeites com trufa italianos, todos os outros são mineiros. O empresário aposta em variedade para resolver a vida dos moradores do bairro, bem perto da casa dele, seja na hora de lanchar, receber em casa ou fazer as compras do dia a dia. “Vai lá no Marcelo”, recomendam os clientes, provando o tanto que o negócio está centrado nele.

Em 50 metros quadrados, Marcelo Jácome, do Empório Du Carmo, expõe mais de mil produtos; os queijos são campeões de vendas

Jair Amaral/EM/D.A Press


A estratégia de trabalhar com prateleiras cheias e variedade vem dos tempos em que montava lojas de conveniência em postos de combustíveis. Depois descobriu que seu pai fazia o mesmo. “Olhando para a foto do armazém do seu Caetano, as prateleiras estavam sempre cheias. Às vezes, ele deixava de vender um produto que fosse deixar um buraco na prateleira”, conta.


Impossível listar todos os produtos que podem ser encontrados no Du Carmo. Marcelo começa a falar da geleia da Regina, macarrão da Célia, molho de tomate do Bernardo, chá do Felipe, pasta de amendoim da Raquel... E não para mais. “Sei quem produz e experimento tudo.”


Se for para falar de um produto específico, tem que ser o queijo, o campeão de vendas. O empório chega a vender 120 quilos por semana, dos mais básicos aos premiados internacionalmente. O queijo da Fazenda Capela Velha, na Serra da Canastra, que já ganhou medalha de prata na França, é um dos que não faltam.


Também foi ouvindo os clientes que Marcelo decidiu montar uma cafeteria, onde serve cafés especiais com pão de queijo e outros salgados. As mesas ficam na calçada e no parklet. Na porta, a novidade é uma máquina de sorvete. “Trabalho muito mais, mas sou muito mais feliz.” O empório tem outra unidade, no Cidade Jardim, administrada pela irmã de Marcelo, e outra em Goiânia (GO). No Santo Agostinho, seu plano inclui ampliação para montar uma cozinha e ter mais produtos próprios.

Só os pequenos


Se tem para comprar no supermercado, não interessa. Cíntia Lara, do Empório Barnabé, no Bairro Serra, faz uma curadoria cuidadosa em busca de pequenos produtores e produtos artesanais. Quase todos os itens são mineiros, muitos de Belo Horizonte mesmo. “Fico feliz quando a marca se torna grande e começa a vender para supermercados. Logo chegam outros que estão começando.”

Orgânicos certificados chegam toda terça-feira de manhã ao Fazenda de Minas, que se orgulha de vendê-los por um preço justo

Jair Amaral/EM/D.A Press


Isso tem uma explicação. Quando Cíntia deixou o ramo de mineração, no meio da pandemia, queria se conectar com a roça, que a fazia lembrar do seu passado em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro. Para isso, fez – e ainda faz – um trabalho “de formiguinha”, que envolve pesquisas na internet e viagens pelo interior. Seu critério principal é a qualidade, mas ela dá muito valor para as histórias dos produtores, que faz questão de contar para os clientes. Ela tem um olhar especial para o empreendedorismo feminino.


Entre as histórias, tem a goiabada da moça que atravessa o rio de balsa para fazer as entregas (às vezes chove e o transporte fica complicado). Tem a geleia da executiva que foi desligada da empresa onde trabalhava, precisou se reinventar e criou geleias que fazem muito sucesso, como café com cardamomo. Tem a família que estava vivendo uma situação financeira difícil e começou a produzir queijos, hoje premiados e disputados.


Boa parte dos clientes são vizinhos da loja. “Acho legal essa ideia de prestigiar o comércio local. A minha mãe falava para evitar grandes redes, e é o que sempre procuro fazer.”


Mas também há casos de clientes que saem de longe para ir ao empório. Normalmente, por indicação. É comum Cíntia receber pessoas que comeram o pão de queijo que vende e se apaixonam. “O pão de queijo é o nosso carro-chefe. Tem queijo de verdade, não é essência, e fica com uma crosta de queijo do lado de fora”, comenta Cíntia. Para ela, não tem nada melhor do que ver a satisfação do cliente de comer algo realmente gostoso.


Como está no dia a dia da loja, ela estreita a relação com os clientes, conhece todos pelo nome e ganha a confiança de indicar produtos que eles compram de olhos fechados. Diz que parece interior.

Boa de papo


De um jeito ou de outro, quem decide abrir um empório tem ligação com o interior. Fundadora do Fazenda de Minas, Heneida Costa é filha de fazendeiro e cresceu vendo a família produzir de tudo, incluindo arroz, feijão, fubá e queijos. Só compravam sal e macarrão. Seu irmão chegou a ter um armazém para vender o que vinha da fazenda em Dom Joaquim, na Região Central de Minas.

"Não tenho produtos industrializados. Todos são artesanais e naturais, sem conservantes. Aqui a pessoa entra e encontra comida de verdade." Aracy Bicalho (Empório Nacional)

Leandro Couri/EM/D.A Press


Corta para o dia em ela começou a pensar em um plano B. Era dentista, tinha consultório, mas o trabalho estava ficando cansativo demais. Há 22 anos, montou o primeiro empório, no Horto. Seis anos depois, abriu outra unidade, no mesmo bairro. Nove anos atrás, levou o Fazenda de Minas para o Bairro Funcionários. “Quanto mais me distanciava do consultório, mais me aproximava do comércio. Fora que gosto muito de gente, de conversar com as pessoas, saber as histórias delas. Na odontologia, só eu falava. Agora estou feliz da vida.”


A loja só tem produtos mineiros. Normalmente, Heneida visita os produtores, conhece as histórias e experimenta de tudo. Então, está sempre viajando. O queijo é o produto mais vendido, é o que mineiro não fica sem. Lá, os clientes podem experimentar e levar a quantidade que quiserem. Um dos seus destaques é o queijo Quilombo, do Serro, que este ano ganhou ouro na França.


Mas ela não deixa o cliente sair só com queijo, não. Como boa vendedora, desperta a curiosidade dos clientes com histórias e eles acabam sempre levando mais uma coisinha. “Sei a história das pessoas e sei como elas fazem os produtos, então fica fácil de vender. Aqui o pessoal não sai de mão vazia, não. Experimentou, levou, porque trabalho com qualidade.” Muitos tomam um cafezinho antes de ir embora.


Heneida fala do doce de leite de Bichinho feito no fogão a lenha, da linguiça de Paraopeba, do azeite de abacate do Sul de Minas, dos vinhos (de 16 vinícolas mineiras), das frutas, verduras e legumes orgânicos certificados (que, com orgulho, consegue vender por um preço justo). A verdade é que praticamente toda semana chega produto novo.

Interior em BH


Aracy Bicalho vem de família ligada ao comércio e ao campo. Com o Empório Nacional, ela uniu os dois mundos. “Moro no Gutierrez e sempre senti falta de produtos locais. Quando precisava, tinha que pedir para o meu irmão, que tem loja na Feira dos Produtores há mais de 30 anos”, conta. Segundo a fundadora, essa é uma forma de trazer o interior para BH.

Mix de produtos do Knastra é resultado de um ano de pesquisas e viagens

Leandro Couri/EM/D.A Press
 


Inicialmente, o foco eram os produtos a granel, que ocupam boa parte da loja. São mais de 500 opções, entre farinhas, temperos (chama a atenção o “pega esposa”, com ingredientes como mostarda, pimentão, tomate, alho e cebola), chás, castanhas, queijos e frutas desidratadas. “Você experimenta, escolhe e leva a quantidade que precisa. Muitas pessoas fazem na hora o mix de sementes”, aponta, mostrando que esse serviço incentiva a compra consciente.


O mix de produtos cresceu e resultou em uma lista quase interminável, com, por exemplo, pães, biscoitos, geleias, doces em calda, manteiga e pão de queijo. Na seleção, pesam os critérios de qualidade e procedência. “Não tenho produtos industrializados. Todos são artesanais e naturais, sem conservantes. Aqui a pessoa entra e encontra comida de verdade.”


Muitos clientes vão ao Empório Nacional para tomar café e aproveitam para fazer compras. E vice-versa. Na área com mesas, são servidos itens como cappuccino (com acréscimo opcional de colágeno), suco verde, crepioca e omelete. Há, ainda, a opção de pegar um vinho na prateleira e um tira-gosto a granel, como amendoim com alho e ervilha com wasabi, e se sentar para um happy hour.


Ao lado do filho e sócio, Fernando, Aracy fala que a sua motivação é fazer a ponte entre o produtor e o consumidor. “Estamos sempre trazendo produtos novos e dando oportunidade para quem está começando, porque sabemos que é muito difícil chegar a um ponto de vendas em BH.”

 

Vitrine coletiva


Mostrar o que tem de bom em Minas Gerais. Marcelo Yuri abriu o Knastra, no Bairro Belvedere, com o desejo de revelar preciosidades que acabam passando despercebidas pelos próprios mineiros e, muitas vezes, nem são vendidos em BH. “As pessoas ficam muito surpresas e falam que não podem ficar muito na loja senão querem comprar tudo”, conta.

Quem produz a goiabada vendida no Empório Barnabé, de Delfinópolis, atravessa o rio de balsa para fazer as entregas

Leandro Couri/EM/D.A Press


Marcelo era dono de restaurante no Jardim Canadá, em Nova Lima, que fechou na pandemia. A convite de um amigo, ele foi para a Serra da Canastra descansar e se apaixonou pelo que viu. Tantas histórias e tantos produtos interessantes que já voltou para BH decidido a montar um empório. Daí o nome Knastra, que faz referência ao lugar que o inspirou.


Por um ano, Marcelo ficou pesquisando produtos em todos os cantos de Minas. Há três meses, quando sentiu que já tinha um mix de histórias e sabores interessantes, abriu as portas do empório. Ele conhece praticamente todos os fornecedores pessoalmente. Sempre que dá, convida produtores para que apresentem seus produtos na loja. “Sei que mineiro adora uma história e tenho o maior carinho do mundo para falar dos produtos e dos produtores.”


O Knastra tem uma seleção de clássicos mineiros, como goiabada de Ponte Nova (da sobrinha da famosa Zélia), doces em calda de Carmo do Rio Claro, doce de leite de Coronel Xavier Chaves, carne de sol de Montes Claros, linguiça de Formiga e seis cachaças que estão entre as melhores do Brasil.


Por outro lado, busca surpreender o cliente com produtos diferentes. Entre eles, chocolate de Sete Lagoas, crispy de alho doce com mel e azeite de BH, azeite da Serra da Mantiqueira, geleia de mexerica de São Lourenço, pesto de manjericão amêndoas defumadas de BH e uísques premiados de Matozinhos. “O empório está aberto para todo mundo. Quanto mais produtos tivermos, melhor.”

Crepioca com queijo, tomate, rúcula e mix de sementes com cappuccino e pastéis de nata do Empório Nacional

Leandro Couri/EM/D.A Press


Como tem um pé na gastronomia, Marcelo montou uma cafeteria com cafés especiais. Fez até curso de barista para entender como se faz a melhor bebida. Para acompanhar, o cliente pode escolher entre itens como pão de queijo artesanal, croissant e broa de fubá.

 

Crepioca com queijo, tomate, rúcula e mix de sementes (Empório Nacional)


Ingredientes
3 ovos caipira; 3 colheres de sopa de tapioca; sal a gosto; 120g de queijo canastra; 1/2 tomate; 5 folhas de rúcula; orégano a gosto; mix de sementes


Modo de fazer
Em um recipiente, bata os ovos. Adicione a tapioca e bata novamente. Coloque todo o conteúdo em uma frigideira antiaderente levemente quente e mantenha em fogo baixo. Deixe por alguns segundos e vire para dourar do outro lado. Recheie com queijo canastra, tomate, rúcula e sal a gosto. Finalize com mix de sementes (abóbora, girassol, chia e linhaça dourada).

 

Serviço


Empório Du Carmo (@emporioducarmosantoagostinho)
Rua Rodrigues Caldas, 525, Santo Agostinho
(31) 98303-1703
Avenida Prudente de Morais, 590, Cidade Jardim
(31) 98807-0696

Barnabé Empório (@barnabeemporio)
Rua do Ouro, 918 – loja 19, Serra
(31) 98419-2282

Fazenda de Minas (@fazendademinas)
Rua Santa Rita Durão, 941, Funcionários
(31) 98346-3946

Empório Nacional (@emporionacionalbh)
Avenida Francisco Sá, 1267, Gutierrez
(31) 3024-8833

Knastra Empório & Cafeteria (@knastraemporio)
Rua Juvenal de Melo Senra, 339, Belvedere
(31) 99803-6105

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