A partir da década de 1980, eventos literários começaram a ganhar tração em Belo Horizonte. A cidade de onde saíram os escritores Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Cyro dos Anjos, Ziraldo, Otto Lara Resende e Autran Dourado, entre outros, formou público cativo de leitores, o que se reflete nos eventos em prol do livro.
Atualmente, a agenda conta com os projetos Sempre um Papo, Letra em Cena, Bienal Mineira do Livro, Feira Urucum, Primavera Literária, Festival Bitita, Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH), Dizer Sim, República Jenipapo, Festa do Livro da UFMG, Psiu Poético Beagá e o recém-criado Labirinto da Origem.
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Criado em 1985, o Sempre um Papo promoveu encontros entre o público de BH e nomes de destaque da literatura nacional e internacional, como Adélia Prado, Darcy Ribeiro (1922-1997), José Saramago (1922-2010), Rubem Alves (1933-2014), Sebastião Salgado (1944-2025) e Mia Couto, entre outros.
Encontro com o escritor Mia Couto lotou o auditório do Tribunal de Contas do Estado, em Belo Horizonte, no dia 20 de outubro
“Acompanho o Sempre um Papo há pelo menos 30 anos, desde quando ainda era estudante”, diz a relações públicas Patrícia Guimarães. No dia 20 de outubro, ela fez questão de levar o marido, Alexandre, e a filha, Mariana, ao auditório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para assistir à conversa de Mia Couto com a jornalista Leila Ferreira.
Patrícia conta que acompanhou o crescimento do projeto e o aumento do público. “É muito positivo, porque nos dá a oportunidade de conhecer escritores que, em outras ocasiões, não conheceríamos”, afirma ela, revelando ter assistido à edição do Sempre um Papo com Jô Soares (1938-2022), em novembro de 1995.
O humorista veio a BH lançar o livro “O xangô de Baker Street”. Atraiu tanta gente que a organização precisou colocar cadeiras ao redor de Jô para aproveitar ao máximo o espaço do auditório do extinto BDMG Cultural.
Outro convidado que atraiu multidão foi José Saramago. O Nobel de Literatura participou do projeto em 2000, quando lançou “A caverna”. Todos os 1,7 mil lugares do Grande Teatro Cemig Palácio das Artes foram ocupados. Mesmo assim, o público formou fila do lado de fora, que seguia até o antigo Mercado das Flores. Com tantos interessados, o autor português aceitou fazer uma sessão extra.
“Esse tipo de evento é excelente para a formação de público leitor”, ressalta Geraldo Coimbra Amaral. Ele e a esposa, Rosângela Coimbra, ambos aposentados, são frequentadores assíduos de projetos literários em BH – na maioria das vezes, por influência do filho, o escritor Alexandre Coimbra Amaral. “Nunca li nada do Mia Couto. Viemos porque nosso filho nos convidou”, disse o aposentado, durante o Sempre um Papo com o autor moçambicano.
Em maio, Conceição Evaristo fez palestra para 500 pessoas durante a Bienal Mineira do Livro
O Letra em Cena, criado em 2006, traz a BH escritores para debater lançamentos recentes ou comentar a obra de autores já falecidos. Ignácio de Loyola Brandão discutiu a literatura de J. J. Veiga (1915-1999); Hugo Almeida falou sobre a obra de Osman Lins (1924-1978); Murilo Marcondes de Moura revisitou a poesia de Murilo Mendes (1901-1975).
Itamar Vieira Junior participou do projeto no ano passado, lotando o teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas para falar sobre os romances “Torto arado” e “Salvar o fogo”. Conceição Evaristo debateu o conceito de “escrevivência” e foi recebida como popstar na Bienal Mineira do Livro, em maio deste ano, por cerca de 500 pessoas.
O Letra em Cena oferece leitura dramatizada de trechos de obras dos autores contemplados. Na maioria das vezes, a dramatização cabe ao ator Odilon Esteves, que, por sua vez, também desenvolve um projeto literário próprio.
Com o ciclo de palestras cênico-literárias “Para abrir outras janelas”, Odilon oferece três opções de autores para o público escolher. A partir daí, faz a leitura dramatizada e comenta a obra apresentada.
“O meu público é predominantemente feminino, de mulheres acima de 50 anos, embora também compareçam alguns homens e jovens. São pessoas que já têm contato com a literatura, mas, eventualmente, dizem não gostar de ler”, observa ele. “O mais interessante é que elas se sentem estimuladas a ler ao terem contato com a literatura dessa forma”, acrescenta.
Roda de conversa
República Jenipapo é outro evento que mantém a periodicidade. A roda de conversa idealizada pelo Projeto República, em parceria com a Livraria Jenipapo, ocorre na última terça-feira do mês em frente à livraria, na Savassi. Já participaram Zélia Duncan, Bob Wolfenson, Cidinha da Silva e Marçal Aquino, entre outros.
Com menos periodicidade, são realizados Feira Urucum, Primavera Literária, Festival Bitita, Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH), Dizer Sim, Festa do Livro da UFMG e Psiu Poético Beagá, que promovem vendas de livros e encontros com autores convidados para mesas-redondas.
Em meio a essa efervescência cultural, cada roda de conversa, feira ou festival revela que Belo Horizonte não apenas produz leitores, mas também cultiva vínculos afetivos com a palavra.
