O ator e empresário Rafael Zulu foi uma das vozes do RD Summit 2025. Em um painel no evento de marketing e vendas, na última sexta-feira (7/11), ele detalhou como o projeto Tardezinha, que co-lidera com o cantor Thiaguinho, deixou de ser uma roda de pagode entre amigos para virar um império. Em entrevista exclusiva, o empresário falou sobre o abismo do empreendedorismo para a comunidade negra e o papel social do projeto.

O show musical de 6 horas com samba e pagode já atraiu aproximadamente 1.5 milhão de pessoas ao longo dos 10 anos. 

Apesar da conversa sobre negócios, o momento mais impactante da apresentação de Zulu foi quando ele conectou o legado do projeto com a dura realidade da violência urbana. A Tardezinha mantém uma escola de música no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, forçada a fechar as portas temporariamente devido às operações policiais recentes.

"Eu fico me perguntando sobre esses  jovens mortos. De repente, se eles tivessem contato com uma escola de música talvez estariam com pandeiro, cavaquinho ou uma guitarra, ao invés de estarem com fuzil na mão", declara o ator.

O abismo racial no empreendedorismo

Questionado sobre a dificuldade de empreendedores pretos e periféricos em estruturarem seus talentos como negócios formais, Rafael Zulu foi direto: "A nossa comunidade tem muito menos oportunidades e possibilidades perto da comunidade do povo branco, por exemplo", avaliou. Segundo ele, é comum que a pessoa branca herde empresas e conhecimento empreendedor, enquanto a pessoa negra tenha que aprender do zero.

Ele explicou que, no início do projeto, sua experiência empresarial vinha de negócios que não foram para frente, enquanto Thiaguinho era focado em sua carreira musical. A intuição de que o evento era grandioso existiu desde o primeiro ano, em 2015, mas a estruturação exigiu apoio externo.

"Não é só sobre dinheiro"

Tanto no painel quanto na entrevista, Zulu reiterou que o show de seis horas com clássicos do samba e pagode transcende o entretenimento para se tornar uma plataforma de impacto. Além da escola de música, o projeto se tornou referência com o "Tardezinha Segura", um programa de ESG (Ambiental, Social e Governança) focado na proteção feminina.

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"Sabendo que vocês, mulheres, sofrem tanto assédio... a gente entende que precisa cuidar. A partir disso a gente coloca uma delegacia da mulher dentro de um evento", explicou Zulu. O programa - em parceria com marcas como Avon e Natura, além do poder público -, inclui o acompanhamento de mulheres sozinhas até seus meios de transporte.

Ao final, Zulu resumiu o que considera ser o verdadeiro objetivo do projeto: "O Thiago talvez não queira cantar a vida inteira, eu talvez não tenha mais idade para estar coordenando uma Tardezinha. Mas o legado fica. E o legado é, daqui a 10, 15 anos, a gente ver uma criança que faz parte de uma escola de música com uma vida salva, porque a música salvou." 

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