Clássico atemporal (e kitsch), a novela mexicana "Os ricos também choram" fez tanto sucesso no final da década de 1970 que é reprisada ad aeternum na programação vespertina de inúmeros canais ao redor do mundo. No Brasil, ganhou até uma versão produzida pelo SBT entre 2005 e 2006.

 


Ricky Martin lembrou-se do folhetim ao tentar explicar o apelo de sua nova série, "Palm Royale", recentemente chegada ao catálogo da Apple TV+. "Acho que as pessoas gostam de ver os mais abastados chorando, lidando com problemas, tendo suas questões", avalia. "Existe um fascínio sobre essa questão."

 



 


De fato, o universo da série não pode ser frequentado por qualquer um na vida real. O principal cenário é o clube exclusivíssimo que reúne a nata da sociedade da Palm Beach em 1969. Para se associar, é preciso desembolsar US$ 30 mil (R$ 150 mil no câmbio atual) e ainda contar com a indicação – e passar pelo crivo social e moral – de quem já é sócio.

 


Pois é lá que Maxine Simmons, recém-chegada à cidade, encasqueta de entrar. A primeira vez que vemos a personagem, interpretada por Kristen Wiig, é pulando o muro do local e tentando se misturar com as habituées. Lógico que as ricaças estranham aquela presença inédita, mas Maxine, que é um tanto trambiqueira e vai se enrolando cada vez mais nas mentiras que conta aqui e ali, sempre dobra a aposta.

 


"As personagens (da série) são tão extraordinárias que você não consegue simplesmente sentar e assistir sem se abalar", diz a atriz. "Você enxerga como essas pessoas vivem, como acordam, como almoçam, o que importa para elas, como se vestem para as festas. É intrigante porque parece que vivem numa bolha e não prestam atenção em nada mais. Tem algo de muito sedutor em visitar um mundo que não é o seu."

 

Acontecimentos políticos

 


Ela afirma que um dos pontos fortes da série é a mistura de "assuntos profundos" com "um jeito engraçado" de contá-los. "Estamos em 1969 e não dá para desenvolver a história sem tocar em alguns acontecimentos políticos que estão ocorrendo, nos direitos das mulheres, na guerra (do Vietnã)", enumera. "É uma história completa, que foi criada em um mundo muito interessante para nossos personagens habitarem."

 


O criador Abe Sylvia, que se inspirou livremente no livro "Mr. and Mrs. American Pie" (2018), da escritora americana Juliet McDaniel, avalia que a série trata de identidade e pertencimento. "Todos nós tentamos entender quem somos neste mundo em constante mudança. Esse é um desafio universal que cada um de nós enfrenta a cada dia", afirma.

 


"Nesse sentido, acho que Maxine gera muita identificação. Ela só está tentando entender seu lugar nesse universo absurdo e superficial", explica. "Do que ela precisa abrir mão para alcançar algo que talvez seja só uma ilusão?"

 


Kristen Wiig foi a primeira opção para interpretar a personagem, segundo a produtora executiva Katie O’Connell Marsh. Para ela, a atriz demonstra a vulnerabilidade necessária para que o público consiga torcer por uma alpinista social.

 

"Maxine é incrivelmente otimista, acredita no amor e sempre tenta dar um jeito nas coisas. A personagem tem um tom tão positivo que é meio infeccioso, e Kristen adicionou muitas camadas", elogia.


Além dela e de Ricky Martin, que vive o garçom Robert Diaz, o elenco tem Carol Burnett, Allison Janney, Bruce Dern, Josh Lucas, Amber Chardae Robinson, Leslie Bibb e Kaia Gerber. Laura Dern dá vida à hippie simpaticona Linda, que tenta incutir algumas noções de feminismo na amiga Maxine – quase uma causa perdida.

 


Dern, aliás, também é produtora executiva da série (assim como Wiig) e, segundo Abe Sylvia, ajudou a conseguir os nomes de quem eles queriam em cada papel. "Quando contamos quem era a nossa Maxine dos sonhos, ela disse que sempre quis trabalhar com Kristen, passou a mão no telefone e fez acontecer", conta. (Vitor Moreno)


"PALM ROYALE"


• Criação: Abe Sylvia. Com Kristen Wiig, Ricky Martin, Josh Lucas, Leslie Bibb, Allison Janney, Carol Burnett e Laura Dern. Disponível na Apple TV+.

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