Risco e experimentação norteiam o trabalho da produtora Música Quente, fundada em Belo Horizonte há 10 anos por Marcelo Santiago. Não será diferente no evento que marca esta primeira década de atividades. Carro-chefe das iniciativas desenvolvidas pela produtora, o Festival Música Quente chega à terceira edição neste sábado (24/2), com programação que foge do convencional. 

As atrações escaladas para o Deputamadre, referência da música eletrônica “de raiz” na cidade, são a banda estadunidense Lightning Bolt e as brasileiras Deafkids, de Volta Redonda (RJ), e Test, de São Paulo. Outro destaque é a cantora e compositora Juçara Marçal, com o show de seu mais recente álbum, o premiado “Delta Estácio Blues”, acompanhada por Kiko Dinucci (guitarra), Alana Ananias (bateria) e Marcelo Cabral (baixo). 

Santiago diz que a programação se orientou pela oportunidade de trazer a BH o Lightning Bolt. “Assisti a um show deles em 2022 e quando soube que estavam planejando vir para o país, fui atrás. Esta edição do Música Quente existe para trazê-los, além, claro, de marcar os 10 anos da produtora”, explica.

 

Duo americano Lightning Bolt gosta de tocar na pista, no meio do público

Reprodução

 

Formado pelo baterista e vocalista Brian Chippendale e pelo baixista Brian Gibson há quase 30 anos, o duo transita no improvável cruzamento entre free jazz, metal extremo e noise rock. Seus shows são descritos como viscerais, barulhentos e agressivos. O Test se situa mais ou menos nessa mesma confluência sonora, e o Deafkids soma à receita música eletrônica, elementos psicodélicos e levadas percussivas de matriz africana. 

“Apesar do gancho do Lightning Bolt, pensamos em não fazer um festival só com banda barulhenta, misturando outras coisas de que a gente gosta para sair do lugar-comum. É o que justifica o convite à Juçara, que, na minha opinião, faz um dos melhores shows hoje no Brasil”, diz o produtor. A cantora abre a noite, seguida do Deafkids, do Test e da atração internacional.

 

 

Santiago afirma que todos convergem na originalidade. “Ninguém ali está acomodado, fazendo mais do mesmo, repetindo fórmulas. São estilos diferentes, mas está todo mundo criando coisa nova, se arriscando. Esta é a essência do festival: o risco estético e conceitual. A ideia é fugir do óbvio”, pontua. 

Ele destaca no Lightning Bolt a potência da apresentação ao vivo, geralmente no meio do público, sem palco. “É uma galera que tocava jazz, fazia artes visuais, e derivou para um negócio muito barulhento, muito agressivo. É free jazz pesado, para o lado do punk, mas com muito improviso. É bem explosivo, nenhum show é igual ao outro”, diz. 

O produtor cita o “estranhamento” causado pelo Deafkids. “Não se parece com nada. Já vi shows deles no Brasil e no exterior, lá fora os gringos ficam sem saber o que está acontecendo, tentando entender aquilo”, diz Santiago. O grupo faz parte da trilha sonora do game “Cyberpunk 2077”, um dos mais comentados do mundo em 2022. “É música alternativa, pesada, de vanguarda.” 

No caso do Test, salta aos olhos (e ouvidos) a postura de guerrilha. “Eles começaram tocando no chão com equipamento numa Kombi, na porta de grandes shows de metal. Não se rendem a convenções, não estão no Spotify e fazem shows no Brasil inteiro de Kombi, vendendo discos no formato físico”, diz. Grindcore e free jazz se encontram na sonoridade do Test. 

 

Mosaico de sons 

Vencedora do prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA) e do Prêmio Multishow com “Delta Estácio Blues”, Juçara Marçal aposta na estética ruidosa, que explora ritmos brasileiros e africanos em colagens eletrônicas. Ela conta que desde a última passagem por BH, em 2022, o show amadureceu.A banda está mais fluente no manejo de samples e recursos eletrônicos, diz. 

“Ganhamos desenvoltura, conseguimos brincar mais com o som, colocando mais peso. Isso foi construído na estrada. De início, a questão era como executar um disco totalmente eletrônico no palco com a formação instrumental. Foi uma verdadeira feira de samples. Somos os quatro manipulando os elementos, a gente toca os samples no contexto da banda, de forma orgânica. Com o tempo, a gente foi ganhando nosso jeito de tocar ao vivo o que estava no computador”, afirma Juçara Marçal.

 

 

Palco especial 

Há mais de 20 anos referência da cena eletrônica em BH, o Deputamadre recebe o Música Quente por uma conjunção de fatores, diz o produtor Marcelo Santiago. Primeiro, porque se conecta à experiência estética que o evento – já realizado no Automóvel Clube e no Galpão da Fósforo – busca oferecer. 

“Lugar histórico, o Deputamadre vai gerar estranhamento no público que não é o habitual de lá. O espaço tem estética punk. Acompanhando nossas redes, vejo muita gente dizendo que nunca foi ou está há muitos anos sem ir lá. Isso vai ao encontro do que a gente pretende: driblar expectativas”, comenta o produtor do Música Quente.

 

FESTIVAL MÚSICA QUENTE


Com Juçara Marçal, Deafkids, Test e Lightning Bolt.

Neste sábado (24/2), a partir de 21h, no Deputamadre (Av. do Contorno, 2.026, Floresta).

Inteira: R$ 180 (1º lote) e R$ 240 (2º lote).

Meia social: R$ 120 (com doação de 1 kg de alimento não perecível)


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