Kevin Hart interpreta Cyrus, que encara a síndrome de Robin Hood em

Kevin Hart interpreta Cyrus, que encara a síndrome de Robin Hood em "Lift", roubando tesouros de milionários desonestos

crédito: Matt Towers/Netflix

O público costuma simpatizar com grandes ladrões de obras de arte. Eles geralmente são espirituosos, charmosos, usam mais a cabeça do que os músculos. Vinte e cinco anos atrás, "Thomas Crown – A arte do crime" (1999, refilmagem de "Crown, o magnífico", de 1968), com Pierce Brosnan, estabeleceu o padrão – não havia como não torcer por ele. E, no fim das contas, ainda tinha um romance no meio. 

"Lift: Roubo nas alturas", filme que estreia nesta sexta (12/1) na Netflix, segue esse caminho, mas com um pendor para a ação. Tem muito de "Lupin", a série francesa da mesma plataforma que fez de Omar Sy um astro mundial, e também um quê de "Missão: Impossível" e das aventuras de James Bond. 

Kevin Hart não tem o charme de Brosnan ou Sy, mas é uma figura amigável. Sua carreira como comediante o levou dos palcos para a TV e logo depois para o cinema, onde se destacou na franquia "Jumanji". Aqui sob a direção de F. Gary Gray (de "Velozes e furiosos 8"), ele comanda um time diverso de ladrões – todos igualmente afáveis, com uma síndrome de Robin Hood (já que só roubam obras de pessoas que estão longe de ser corretas). 

Sequência fantástica

A trama tem início com uma sequência fantástica, digna das aventuras capitaneadas pelos agentes Ethan Hunt e 007. Estamos em Veneza (também cenário do mais recente "Missão: Impossível") em um leilão de arte. Para milionários, claro. Só que a maior atração não tem a assinatura de Picasso ou Leonardo da Vinci. 

É um NFT (grosso modo, um arquivo digital único) do artista N8 (Jacob Batalon), que vive atrás de uma máscara e é muito badalado da arte contemporânea (personagem ficcional, claro). Se Banksy não aparece em público, N8 aparece – mas sempre mascarado. Na plateia do leilão, entre os muito ricos, está Cyrus Whitaker (Hart). Ele é vigiado pelas câmeras da agente Abby Gladwell (Gugu Mbatha-Raw). 

Com sua equipe, ela vigia Cyrus, o maior ladrão de obras de arte do mundo. Sabe que alguma coisa vai acontecer ali – só não imagina quão inventivo será o roubo. Para não entregar mais, dá para contar que a partir do leilão o filme segue para uma perseguição fantástica de lancha pelos canais de Veneza. Cyrus e sua equipe se dão bem, deixando Abby frustradíssima (logo também vamos ver que a raiva também tem uma relação com o passado que a policial tem com o ladrão). 

De caça a caçador

 Isto tudo é só um preâmbulo da história, já que "Lift" vai tratar de outro roubo, que não tem nada a ver com obra de arte. Lógico que tem um super vilão na história, Jorgensen (o sempre ótimo Jean Reno, aqui mal aproveitado), que quer ficar ainda mais rico por meio da compra de uma máquina do mal. O pagamento? Meio bilhão de dólares em barras de ouro. 

Tal fortuna será transportada em um voo comercial com destino a Zurique, na Suíça. De uma hora para outra, a caça se torna o caçador. A equipe de Cyrus, acredita a Interpol, é a única capaz de realizar o roubo a mais de 12 mil metros de altura. Desta maneira, Jorgensen não terá como adquirir o artefato maligno. 

A partir deste ponto a história vai mostrando um pouco de cada integrante da equipe, formada por pessoas de diferentes nacionalidades. O elenco é afiado. Vincent D'Onofrio é Denton, o veterano da turma, mestre dos disfarces. Úrsula Corberó (Camila), está em casa, já que a atriz espanhola ganhou fama como Tóquio, a principal assaltante de "La casa de papel". No filme ela é uma piloto – faz maravilhas, seja em terra, água ou ar. 

Sem histrionismo 

Completando o time estão os técnicos Magnus (Billy Magnussen), um gênio capaz de abrir qualquer coisa; Mia-Sun (Yun Jee Kim), a hacker; e Luke (Viveik Kalra), que só vai justificar sua parte na equipe na sequência final. Cada qual é o melhor em sua área – e Cyrus o mestre que antecipa erros e cria soluções onde ninguém mais consegue. 

Tem muita ação no ar, algumas piadinhas e coelhos tirados da cartola. Como todo filme de ação, vai se tornando cada vez mais inverossímil, ainda mais porque parte do embate entre os dois grupos de ladrões acontece em pleno ar. Mas escapismo de ação que se preze tem que mostrar o impossível. 

Kevin Hart, que assina "Lift" também como produtor, está quase comportado em cena, sem arroubos histriônicos (o que já é um ganho). Só o final que decepciona. É bem careta, ainda mais diante de uma trama tão mirabolante. 

“LIFT: ROUBO NAS ALTURAS”


(EUA, 2024, 104min., direção de F. Gary Gray, com Kevin Hart, Gugu Mbatha-Raw e Úrsula Corberó). Filme estreia nesta sexta (12/1), na Netflix