Em fevereiro de 1996, a preocupação de um homem com o linguajar de uma menina de 7 anos virou notícia nacional. Então diretor da Radiobrás, na época a empresa responsável pelas emissoras de rádio e TV públicas, Antônio Antunes Praxedes resolveu proibir a execução das músicas dos Mamonas Assassinas porque a neta havia aprendido a palavra suruba (“Fui convidado pra uma tal de suruba”, primeiro verso da canção “Vira-vira”).



O caso não foi adiante, Praxedes acabou demitido. Os Mamonas estavam em todo lugar – então ministro das Comunicações de FHC, Sérgio Motta afirmou ter aprendido a letra da canção com o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães. Não havia quem não soubesse dos cinco garotos de Guarulhos, do Robocop gay, da Brasília amarela.

Bastaram algumas semanas para que tudo acabasse. Em 2 de março de 1996, um acidente aéreo matou os cinco integrantes, que tinham entre 22 e 28 anos. Acabava ali a história de Dinho, Bento, Júlio, Sérgio e Samuel – que, em oito meses de banda, fizeram shows em todo o país, menos no Acre e Tocantins, e venderam 3 milhões de cópias de seu único disco – e começava outra.

Vinte e sete anos após a tragédia que deu fim à banda, os Mamonas já ganharam dois documentários, seis livros (o primeiro deles publicado um mês e meio após a morte dos músicos), um musical, três álbuns, três coletâneas, um disco-tributo, três especiais de TV. Era uma questão só de oportunidade que sua trajetória ganhasse uma cinebiografia, que se concretizou por meio de “Mamonas Assassinas – O filme”, com estreia nesta quinta-feira (28/12), em todo o país.

Quem for ao cinema já tem, obviamente, uma ideia formada sobre a história dos Mamonas. O público sairá da sala sem nada de novo. Primeiro longa do diretor de novelas Edson Spinello (“Malhação”, na Globo, “Rei Davi”, na Record), o filme acompanha a trajetória do grupo desde sua formação, como Utopia, até o último voo (a tragédia e a forma como foi explorada não estão em cena).

É tudo tratado com rapidez e sem nuance, numa briga contra o relógio, já que a trajetória da banda é comprimida em uma hora e meia. O formato é quase de novela, com edição rápida, em que nenhum assunto é aprofundado e algumas questões ficam no ar. Mas está quase tudo ali: a vida apertada em Guarulhos antes da banda, a relação com as respectivas famílias, as groupies, a descoberta do sucesso.

Ainda que com roteiro (de Carlos Lombardi, veterano da TV) e direção tatibitate, o longa chama a atenção pelo elenco. Os cinco atores chamam a atenção não só pela aparência, mas pela mimetização dos Mamonas.

O grande destaque é Ruy Brissac, que incorpora Dinho à perfeição – a escolha não foi difícil, já que ele o havia interpretado no musical de 2016. Sobrinho do guitarrista Bento Hinoto, Beto Hinoto interpreta o tio, que ele não chegou a conhecer. Rhener Freitas é o baterista Sérgio Reoli; Adriano Tunes o baixista Samuel Reoli; e Robson Lima o tecladista Júlio Rasec.

Mesmo que nenhum deles tenha idade para ter vivido a febre do grupo de Guarulhos, não passaram incólumes a ela. "Tenho um irmão, Carlos, que viveu o auge da banda. Foi uma das primeiras bandas que escutei na vida. Minha casa tinha um vídeo cassete e minha família gravava tudo. Então me lembro de ficar horas na sala assistindo aquele material", diz Rhener, de 27 anos, mineiro de Itaú de Minas, Sudoeste do estado. O Sérgio Reoli que o filme apresenta é o galã da turma, que passa o filme inteiro praticamente sem camisa.


EXPERIÊNCIA EM MUSICAIS

Tanto ele quanto Ruy e Robson têm experiência em musicais. "Na verdade, foi um 'match' grande entre as habilidades que a gente já tinha e o que era necessário para o filme. É importante lembrar que tudo o que se vê nas cenas de show foi gravado ao vivo. Houve uma pós (produção) de estúdio, mas, no momento da gravação, tudo, vozes e instrumentos, era plugado", afirma Robson, carioca de 29 anos.

A parte musical, segundo ele, foi a mais complicada. "Porque tínhamos uma plateia de fato. O público que fazia a figuração era de fãs dos Mamonas. (Para as filmagens de show) A gente passava quase que um dia inteiro tocando. Tínhamos que manter a energia lá em cima também por causa da galera da figuração, já que era importante ter essa conexão com a plateia", diz Robson.

O filme foi rodado entre janeiro e março deste ano, em Guarulhos. "Foi muito importante para a gente captar a energia da cidade. Estar lá nos deu o gosto de saber a importância que esses caras têm até hoje para Guarulhos. Qualquer motorista de Uber, qualquer pessoa que trabalhava numa venda, tinha uma história (da banda) para contar", comenta Robson.

O filme não traz uma ideia completa, já que a parte dramática, fragmentada e ingênua, deixa muito a desejar. Mas os números musicais realmente conseguem trazer os Mamonas de volta. Poderia ser muito mais, diante do impacto que os cinco causaram no Brasil quase analógico, pré-Google e redes sociais.


PARTICIPAÇÃO DAS FAMÍLIAS

A Mamonas Assassinas Produções, empresa capitaneada por Jorge Santana, primo de Dinho, assina o filme como coprodutora. As famílias dos cinco integrantes acompanharam as filmagens de perto. O mineiro Rhener Freitas, que faz o papel do baterista Sérgio Reoli, conta que Ito Rasec, pai de Júlio e Sérgio, esteve muito presente. "Teve um dia em que ele foi para o set com a caminhonete que o Sérgio comprou assim que a banda estourou. Observando os pais (dos músicos) a gente teve uma ideia do que foram os filhos", afirma.


“MAMONAS ASSASSINAS - O FILME”
(Brasil, 2023, 95min., de Edson Spinello, com Ruy Brissac, Rhener Freitas, Adriano Tunes, Robson Lima e Beto Hinoto) - Estreia nos cines BH 5, 9 e 10; Big; Boulevard 1 e 5; Centro Cultural Unimed-BH Minas 1; Cidade 1 e 2; Contagem 3 e 8; Del Rey 6 e 7; Diamond 3 e 4; Estação 2 e 6; Pátio 1 e 8; Itaupower 4; Minas Shopping 4 e 6; Monte Carmo 1 e 6; Norte; Ponteio 2; UNA Cine Belas Artes 1 e 2; Via 1 e 3.

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