Edenilson e Paulinho (acima) comemoram um dos gols do Atlético na goleada por 3 a 0 diante do Flamengo, na rodada passada -  (crédito: Pedro Souza / Atlético)

Edenilson e Paulinho (acima) comemoram um dos gols do Atlético na goleada por 3 a 0 diante do Flamengo, na rodada passada

crédito: Pedro Souza / Atlético

O que foi essa quarta-feira, meus senhores e minhas senhoras? Um baile daquele no Rio de Janeiro, em plena quarta-feira, achei que só houvesse na Maré, na Rocinha ou no Vidigal. Enquanto o Galo trocava passinhos, eu podia escutar ao fundo aquele funk do Michael Jackson, Black or White, cujo refrão diz que “o time do Flamengo só ganha com Zé Roberto Wright”. Michael Jackson subiu o Dona Marta, sabia das coisas.

Daqui pra frente o atleticano precavido vai andar com o desfibrilador pendurado no pescoço. Não aceitaremos morrer antes do título! Prepara o cooler, o desfibrilador e o atestado médico para o patrão, porque ele virá. O título de todos os títulos, pra cartório nenhum botar defeito! Aquele que envolverá todos os eventos possíveis da metafísica, Deus e Exu, a cabeça de burro desenterrada, o gol espírita, a fé que moverá montanhas como se fosse a Samarco, o ateu incorporado, o crente que reza pra Oxóssi.

Outro dia vi uma “matéria” com um vidente que, a esta altura do campeonato, agorinha mesmo, previu o Palmeiras campeão. Ah, vá! Isso desmoraliza completamente nossa categoria. Eu, não. Eu digo que seremos campeões com a autoridade do profeta que cravou a queda do Botafogo e o título do Galo quando isso não era modinha. Em agosto, meus amigos, em agosto! Motivo pelo qual fui acusado de “maconheiro”, “escreveu isso bêbado” e, claro, “comunista”.

Embora minhas previsões sejam rigorosamente técnicas, imparciais e sem qualquer clubismo, como os leitores podem testemunhar há mais de 12 anos, fiquei constrangido quando a realidade começou a reproduzir o que eu tinha visto em minha bola de cristal. É que tenho uma quantidade incomum de amigos e parentes botafoguenses, além de artistas e intelectuais que admiro – um pessoal sempre muito cordato, um jeito de ser acabrunhado e melancólico, com o qual me identifico.

Pensava cá com meus esfumaçados botões, sempre que encontrava um deles: que língua! A cada derrota, me compadecia daquela gente. Agora que vamos ser campeões, posso me dirigir a eles com tranquilidade: fooooooodasse!!!

O atleticano que acusou este Nostradamus de comunista acredita no fantasma do comunismo e não acredita nas façanhas do Galo, essa máquina comprovadamente eficaz na tarefa de produzir milagres (tanto que Papa Francisco recebeu Reinaldo esta semana). O que fazer por esse sujeito a não ser enviá-lo para o próximo congresso sobre a Terra Plana, na Sibéria ou Patagônia, onde se encontram os parapeitos do planeta?

Ainda bem que há gente sensata a gritar “Eu Acredito”, essa senha para acessar as coisas do além. Foi no Independência, quando Deus desligou o disjuntor em 11 de julho de 2013, que surgiu no escuro o brado retumbante: “EU A-CRE-DI-TO!!! EU A-CRE-DI-TO!!!”. Quando voltou a luz, Guilherme fez o que fez, sem jamais ter feito nada do que fizera. “Não é milagre”, escreveu a Elen Munaier, “é Atlético Mineiro”.

Há motivos de sobra para acreditar, pequenos indícios que se somam ao óbvio ululante esfregado em nossa fuça. Veja que Paul McCartney está na área, e se derrubar é pênalti. Vai tocar no Terreirão do Galo este domingo. Paul McCartney sempre foi a antítese do Mick Jagger, o grande rival, Beatles versus Stones. McCartney, pois, é a nossa folha de arruda, o nosso pé de galo, para não dizer coelho – o contrário do corvo do Mick Jagger, sempre a assombrar as torcidas mundo afora. Acabo de vê-lo vestido com as cores do Loro José. Sinais...

O óbvio ululante é que diminuiu sobremaneira o espaço para jogadores como José Roberto Wright – que perfila ao lado de Zico, Adílio e Aragão no Flamengo de Todos os Tempos. Também não há uma ditadura que possa perseguir Paulinho como perseguiu Reinaldo. De modo que veja a coisa extraordinária que nos oferece esses novos e alvissareiros tempos: pode-se jogar 11 contra 11, e não mais 10 contra 14.

Agora vou ali ouvir o Michael enquanto aguardo o Paul McCartiney, o São Paulo e o Bahia, que infelizmente rebaixaremos de novo, nada pessoal, muito antes o contrário: “O time do Flamengo só ganha com Zé Roberto Wright”.

E o Crüzeiro? O Crüzeiro perdeu – quer dizer, perderá. Mas a vingança será maligna contra aquele que um dia rebaixou os caras, questão de honra e também de evitar o Galvão: “É tetra, é tetra!!!”. Vamo, Crüzeiro, que eu já tô aqui com o meu desfibrilador no pescoço igual a conta de Oxóssi! Vamo, Galo, pelamodedeus!