O fetiche que muitos, com a mentalidade do século passado, ainda nutrem em relação à privatização, se desfaz no ar com o novo caos inaugurado em São Paulo: 2,2 milhões de residências e estabelecimentos da Região Metropolitana – atingindo 8,5 milhões de pessoas – ficaram sem energia elétrica e, sete dias depois do ciclone extratropical varrer o coração financeiro do país, ainda há consumidores às escuras.

A crise é tão grave – e a reincidência da concessionária de energia elétrica Enel, que também em 2023 e em 2024 registrou apagões de até uma semana para alguns clientes – que promoveu o imponderável. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o presidente Lula (PT) estão em acordo e irão acionar juntos a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que seja iniciado o traumático processo de caducidade da concessão da Enel. Se é para dividir danos políticos, nada como a velha política. Os gritos, imprecações e discursos antissistêmicos ficam reservados aos tempos de bonança.

A menos de um ano das eleições – Tarcísio de Freitas adora surrar o martelo nos leilões de concessões, comemorando quando quebra algum símbolo da B3 –, a Enel virou a Geni. Pedra nela. Não que a concessionária mereça ser poupada de tanto descaso e desinvestimento para aumentar lucros. Mas, em todo esse processo, a ironia do destino expressa na política: entre as equipes de outras distribuidoras de energia convocadas pela Aneel e pelo Ministério de Minas e Energia para socorrer São Paulo, estão os valorosos servidores da estatal Cemig.

 

Ao todo, foram destinadas 83 equipes, entre as quais 40 da Enel Ceará e da Enel Rio de Janeiro; 43 da Light, Elektro, CPFL e Cemig. A Enel de São Paulo divulgou comunicado tentando naturalizar a mobilização de equipes de outras distribuidoras: “é um procedimento de praxe em situações de contingência no setor elétrico”. Mas parece ter se tornado rotina: em outubro de 2024, quando 2,1 milhões de clientes da Grande SP mergulharam na escuridão após uma tempestade, a agência tomou emprestado 400 colaboradores de outras distribuidoras.

Clientes da Enel em São Paulo amargam, em média, 462 minutos por ano sem energia. Na Itália, país onde fica a sede da companhia, os consumidores passam 48 minutos sem energia. Brasileiros perdem no ranking dos “sem luz” apenas para os argentinos. Os dados se referem a 2024 e constam de relatório da própria empresa. Levantamento da Aneel confirma: os clientes da capital paulista permanecem, em média, 400 minutos no escuro por ano.

A estatal mineira Cemig, desqualificada em eventos públicos por membros do próprio governo Zema, vai sobrevivendo ao segundo mandato do Novo – que aproveita como pode para manter a política de desinvestimento e de venda de ativos. Não que a Cemig não possa melhorar os seus serviços. Mas, para isso, é preciso decisão política para investir.

Em resumo: privatizar não é sinônimo de eficiência e universalidade. Pode dar certo, como, igualmente, há experiências muito negativas; e governantes que ganham muito nos processos de privatização. Igualmente, ser estatal não é sinônimo de ser ineficiente. Depende do governo eleito. Há governos que podem sucatear a imagem de companhias lucrativas impedindo investimentos.

Em tendência inversa à Europa, onde a reversão das privatizações dos serviços de água e sua consequente remunicipalização já alcança cerca de duas centenas de cidades de 37 países, em Minas, a Copasa será privatizada. Essa lucrativa companhia estatal, que rendeu nos nove primeiros meses de 2025 R$ 1,07 bilhão – e atende 637 municípios mineiros –, encerra 2025 diante de uma interrogação.

Uma vez privatizada, as concessionárias vencedoras irão fazer o que a estatal não fez – e não fez porque o governo não determinou que fizesse – universalizando a água e esgoto para as pequenas cidades mineiras, em que o investimento é alto e o retorno baixo? Coisas assim – principalmente quando se referem a direitos básicos de vulneráveis – só o estado faz. Mas, para isso, é preciso vontade política.

 
Rede de boatos

O senador Cleitinho (Republicanos) informa à coluna que o senador Flávio Bolsonaro (PL) jamais lhe pediu para retirar a sua candidatura em Minas Gerais em apoio ao vice-governador Mateus Simões (PSD). E, segundo Cleitinho, ele jamais conversou com Flávio Bolsonaro sobre a eleição em Minas. Segue candidato ao governo do estado.

 

IPVA

Interlocutores de Cleitinho afirmam que Mateus Simões mandou mensagem ao senador, informando-lhe que Minas irá se adaptar para implantar a emenda constitucional aprovada no Congresso Nacional, de autoria do senador, que isenta de IPVA carros com mais de 20 anos. Mateus disse que estaria em Brasília e tinha expectativa de se encontrar com o senador.

 

Férias

O prefeito Álvaro Damião (União) encaminhou ofício ao presidente da Câmara Municipal, professor Juliano Lopes (Podemos), em que comunica que estará em férias no período compreendido entre 2 e 30 de janeiro. A interinidade será exercida por Juliano Lopes pela quinta vez, desde que Damião assumiu o governo, em 3 de abril de 2025, após a morte de Fuad Noman (PSD).

 

Alerta

O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) emitiu alerta nesta quarta-feira, dirigido ao governador do estado, Romeu Zema, e ao presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Luiz Carlos Corrêa Júnior, pelo descumprimento dos limites estabelecidos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), no 2º quadrimestre de 2025, em relação aos gastos com pessoal. No alerta emitido, o governo de Minas Gerais está sendo notificado quanto à extrapolação dos limites prudencial (46,55%) e de alerta (44,10%) estabelecidos na LRF para a Receita Corrente Líquida (RCL). No 2º quadrimestre de 2025, o montante total registrado foi de R$ 53.034.126.687,00 em despesa com pessoal, valor que equivale a 48,52% da RCL. Com relação ao Tribunal de Justiça, o órgão está sendo alertado por ter ultrapassado o limite de alerta que, no caso do TJMG, seria de 5,32%. No mesmo período analisado, a despesa total com pessoal chegou a R$ 6.008.771.801,00 – que corresponde a 5,5% da RCL.

 

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Nova CNH

A resolução que propõe a modernização e desburocratização da emissão e renovação da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) será tema de uma audiência pública nesta quinta-feira (18/12), na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O objetivo é debater os impactos das novas regras no funcionamento de autoescolas e na qualidade da formação dos novos condutores.

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