Determinado a surfar na “polarização” e na divisão da sociedade como narrativa central de sua pré-campanha à Presidência da República, o governador Romeu Zema (Novo) já paga o preço. A fatura chega por todos os lados. Na dimensão política, ao importar do bolsonarismo a máxima do “inimigo interno” – nesse caso, o petismo, Lula e tudo mais a ele associado – que precisa ser “varrido do mapa”, teve fogo amigo. A mensagem postada no X pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), compartilhada pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi ao estilo da dupla: os governadores presidenciáveis, entre os quais Romeu Zema, acabara de formalizar a sua pré-candidatura, foram chamados de “ratos” a oportunistas “canalhas”.
Eduardo Bolsonaro tem explicitado que o “espólio” eleitoral do pai deva ficar na própria família, na hipótese – muito provável, embora jamais admitida por nenhum deles – de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não reverta a sua inelegibilidade. Não interessa ao ex-presidente nem aos seus filhos que outra liderança no campo da direita ultraconservadora emerja. Nesse sentido, a artilharia “amiga” seguirá frontal não apenas dirigida a Zema – quem se expôs mais recentemente –, mas aos demais governadores pré-candidatos: Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo. Adicionalmente, a família Bolsonaro se sente também traída, pois a franquia eleitoral do “antipetismo” foi sequestrada. “Limitam-se a gritar ‘fora PT’, mas não entregam liderança, não representam o coração do povo. Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”, escreveu Carlos Bolsonaro.
Ao compreender que navega em mar revolto, Zema procurou minimizar as declarações de Carlos Bolsonaro, avalizadas por Eduardo Bolsonaro. Disse que estava surpreso, que se solidariza com a família e que a direita segue caminhando junto. “Até marido e mulher discordam, então o que dizer de partidos políticos diferentes”, minimizou Zema.
Se por um lado Zema inicia a semana aplacando “aliados”, dos adversários, a artilharia já era esperada. Ela veio sábado (16/8) no dia do lançamento da pré-candidatura, em São Paulo, por meio de carta ao país assinada pelo bloco de oposição na Assembleia Legislativa, integrado pelo PT, PV, PcdoB, Psol e Rede. O governador foi criticado, entre outras questões, pelas políticas da segurança pública, saúde e educação, por atacar o Brics, bloco que reúne países que respondem por 42% das exportações mineiras, por não apresentar os beneficiários de isenções fiscais que somam R$ 25 bilhões.
Para além da dimensão política, contudo, nesta segunda-feira talvez Romeu Zema tenha compreendido por que a cautela e o cuidado com as palavras são características inegociáveis para um governante. Após o discurso ao estilo “exterminador de petistas”, Zema se viu, nesta segunda-feira, numa solenidade institucional ao lado da prefeita reeleita de Contagem, Marília Campos (PT), com quem o estado realizou obras em parceria para a contenção de enchentes, com repercussão metropolitana. Trata-se da bacia de contenção que vai receber até 103 milhões de litros das águas do Ferrugem, retardando o lançamento no Arrudas. Foi inaugurada a primeira de duas bacias, com recursos do estado provenientes da tragédia de Brumadinho e contrapartida municipal. É esperada repercussão dessas obras na avenida Tereza Cristina, inundada em grandes temporais. Zema participava da solenidade com a prefeita, que recebeu o “convite” do cerimonial do governador para que se afastasse dele no momento das imagens. Conhecida por sua habilidade política e gentileza no trato, Marília deixou o evento, entendeu ser descabido permanecer ali.
Em Minas, antes de petistas, centristas ou bolsonaristas, todos são mineiros. E o governador é um só. Ainda que no Palácio Tiradentes cogitava-se um telefonema para o pedido de desculpas, prevalece a lição do ex-governador Itamar Franco: ofensa pública, desculpas públicas.
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Depois da tempestade
Marília Campos foi recebida nesta segunda-feira à tarde por Mateus Simões, no BDMG. O encontro já estava agendado para tratar da segunda bacia de contenção, de valor estimado em R$ 74,6 milhões, que serão repassados pelo estado ao município. Parte dos recursos são originários do acordo judicial de reparação em torno da tragédia de Brumadinho. Apesar do climão pela manhã, o encontro foi mantido. E foi cordial.
Sem vaga
Embora tenha cogitado se aposentar algumas vezes nos últimos anos, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, de 67 anos, descartou nesta segunda-feira, em Cuiabá, que pretenda antecipar-se. Ele deixa a presidência da Corte em 29 de setembro e será substituído pelo ministro Edson Fachin, atualmente, vice-presidente do STF. “Não, não estou me aposentando, não. Estou feliz da vida”, disse.
Candidato em Minas
Com a declaração, Barroso põe fim, pelo momento, às especulações de que haveria, no horizonte, uma cadeira a ser preenchida no STF. Ao mesmo tempo em que se encerra a guerra surda entre postulantes aliados, também caem por terra as suposições de que o senador Rodrigo Pacheco (PSD) não seria candidato ao governo de Minas porque aguardava ser indicado para a vaga de Barroso.
Comitiva
O recém-indicado ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Carlos Augusto Pires Brandão é natural de Teresina e ali fez a carreira jurídica. Mas será grande a comitiva mineira que irá à sua posse, em 4 de setembro, em Brasília, organizada pelo promotor Leonardo Távora Castelo Branco, com quem o futuro ministro mantém antigos laços de amizade. Além do presidente do Tribunal de Justiça, Corrêa Junior, vários desembargadores mineiros, procuradores e promotores de Justiça estarão presentes. Leonardo irá representar o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho.
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