Saudade da época em que comprávamos um eletrodoméstico e ele durava 30, 40, 50 anos. Um sapato durava 15, 20 anos; uma boa roupa, 30, 40 ou até mais. Hoje, tudo é feito para durar cinco anos, e levante as mãos para o céu se chegar a isso.

 


Há dois anos, me mudei para o Sion e precisei comprar uma série de coisas para a casa. Fui à Leroy para facilitar a vida. Um dos itens de que precisava era torneira para o tanque. Pedi ao vendedor a de ferro, boa, que durasse o resto da vida, ou pelo menos uns 20 anos.

 


A resposta foi rápida: “Não existe. Se durar 20 anos, perco meu emprego e a loja fecha. A melhor torneira de ferro vai durar no máximo uns cinco ou seis anos. Assim, sempre precisarão de nós para comprar torneiras e outros itens”.

 

 


Vejam o que aconteceu comigo na sexta-feira passada. O dia foi cheio. Tive café da manhã de Natal no Hotel Fasano, oferecido a jornalistas da área de gastronomia e alguns colunistas. De lá, tive de ir para a Arte Sacra montar minha participação no Christmas Market. Faço sabonetes artesanais e, na época que antecede o Natal, participo de feiras natalinas com meus produtos.

 

 


Cheguei lá no horário marcado. Quando entrei, a casa é quase toda acarpetada, senti que pisei em algo. Olhei o chão e não tinha nada. Há alguns meses, quebrei o tornozelo e não estou usando salto. Ficaria lá a tarde toda, mas não queria ir de tênis. Então, peguei uma sapatilha mais antiga, de marca boa e confortável.

 


E lá fui eu vencer o dia: de lá, ainda iria à formatura da minha sobrinha e afilhada.

 


Mas a sensação esquisita continuava. Resolvi olhar a sola da sapatilha: faltava um pedaço. Ela estava se desintegrando. Saí correndo e fui até a sapataria mais próxima, a meio quarteirão de distância. No meio do caminho, senti algo estranho no pé esquerdo. O sapato estava se abrindo todo.

 


Consegui chegar à loja com algo ainda nos pés. A vendedora ofereceu ajuda e fui logo pedindo: “Uma lata de lixo e um par de sapatos”.

 

 


Contei o caso para várias pessoas, quase todas passaram pela mesma situação. Ou seja, solas de sapato são feitas de material sintético que resseca com o tempo. Não sabemos como hidratá-las e acabamos ficando na mão de calango.

 


Igualzinho às roupas de couro fake, depois de dois anos. Cuidado, porque a gente sai vestida e no meio da festa percebemos que falta um pedaço. Ele pode ter ficado no banco do carro, no corpo das pessoas que abraçamos ou na poltrona em que nos sentamos...

 

*Isabela Teixeira da Costa/Interina

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