Igreja da Natividade, em Belém, ficou deserta na semana que antecedeu o Natal
 -  (crédito: Hazem Bader/AFP)

Igreja da Natividade, em Belém, ficou deserta na semana que antecedeu o Natal

crédito: Hazem Bader/AFP

Neste dia de Natal, Belém, a cidade da Cisjordânia ocupada onde Jesus Cristo nasceu, vive o drama da guerra. Está de luto.

“Parou tudo”, contou o comerciante Abood Suboh à Agência France Presse, na semana passada. Peregrinos sumiram da terra de Jesus às vésperas desta data tão cara ao cristianismo e à humanidade.

Calcula-se que bombardeios israelenses já deixaram cerca de 19 mil mortos no pequeno território controlado pelo Hamas, autor do cruel massacre em Israel que causou 1.140 óbitos em outubro, informa a agência AFP.

Abood Suboh vende lenços e bolsas para turistas, mas ficou sem clientes. Nos últimos dias, em vez do intenso e tradicional movimento de gente, só havia carros estacionados na praça perto da Igreja da Natividade, Patrimônio Mundial da Unesco. Centenas de milhares de peregrinos costumavam se concentrar ali nesta época. Os hotéis estão praticamente às moscas, relata a AFP.

A oficina de Jack Giacaman, que produz artigos religiosos de madeira para uma loja de souvenires, estava vazia. Cerca de 80% da renda anual do negócio é obtida no período natalino. “Belém está totalmente fechada”, desabafou o artesão.

Em 2022, Giacaman contraiu empréstimo para lidar com o baque da pandemia de COVID-19. “Fizemos um cálculo de três anos para cobrir as perdas, mas agora não sabemos como terminar este ano”, lamentou ele, diante das ruas vazias do Centro Histórico de Belém, um local onde cristãos e muçulmanos costumavam conviver.

Entretanto, as tradições cristãs são resilientes. Na Itália, a cidade de Greccio comemora, nesta segunda-feira de Natal, os oito séculos do presépio.

Em 1223, Francisco de Assis, ao voltar da Terra Santa, criou presépio vivo numa caverna daquele povoado italiano. A intenção era singela, e por isso fortemente simbólica: reunir a gente de Greccio em torno do estábulo com um boi e um burro.

A devoção ao menino Jesus se tornou crescente, e no século 17 ganhou destaque o presépio de São Francisco de Assis. Dali em diante, surgiram conjuntos com grandes estátuas, como os de Napóles, ou aqueles em vitrines com figuras em cristal, cera ou papel machê. No final do século 18, já chamavam a atenção os presépios familiares.

A Revolução Francesa perdeu a “guerra” para esta tradição natalina. Ao limitar os cultos, fez com que os presépios se multiplicassem em ambientes privados.

Na noite deste Natal, milhares de meninos Jesus foram colocados sobre manjedouras. Pena que seja tão grande – e triste – a distância que separa Greccio de Belém.

Mas fiquemos com o papa Francisco: “Neste novo mundo inaugurado por Jesus, há lugar para tudo o que é humano”. Estas sábias palavras constam da carta apostólica que convida o mundo a refletir sobre o presépio e seu significado.