Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está analisando o uso de sandálias feitas de juta como uma possível forma de proteção contra doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya. A juta, uma fibra têxtil vegetal, tem ganhado destaque nas vitrines de lojas brasileiras de calçados nos últimos anos, desde marcas simples até as mais luxuosas.





O estudo da UFMG, liderado pelo biólogo Tales Batista Ribeiro, revelou que as sandálias confeccionadas em juta e tratadas com um inseticida específico podem ajudar a repelir o mosquito a uma altura de até um metro e a uma distância de até sete metros.

A pesquisa, que começou durante o mestrado de Tales no Programa de Pós-graduação em Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da universidade, teve financiamento inicial da Usaid, agência de fomento dos Estados Unidos, e do Ifakara Health Institute (IHI), da Tanzânia. Atualmente, Tales continua a pesquisa em seu doutorado.

Casca e talo da juta

A juta é uma planta que pode crescer até 4 metros de altura, com talos de aproximadamente 20 milímetros de largura, e se desenvolve em climas úmidos e tropicais. A fibra é obtida através da maceração da parte entre a casca e o talo interno da planta. A juta foi trazida ao Brasil por imigrantes japoneses, e a maior parte da produção nacional ocorre na Região Norte do país.





Leia também: Fiocruz alerta para ressurgimento do sorotipo 3 da dengue.

Segundo Tales, a pesquisa já comprovou que a sandália de juta realmente repele o mosquito. O repelente químico utilizado é volátil e espacial, criando uma área de proteção ao redor da pessoa que utiliza o calçado. O mosquito Aedes aegypti tem um padrão de voo mais baixo, justificando a escolha da sandália em vez de um chapéu, por exemplo. Além disso, a versatilidade do calçado, usado tanto por homens quanto por mulheres, é outro fator importante.

As sandálias ainda não estão disponíveis para o público em geral, mas a equipe de pesquisa busca parceiros para aumentar a produção. Para testar a eficácia da substância usada nas sandálias, Tales realizou experimentos em laboratório e em semicampo, simulando condições reais com controle de temperatura e umidade. Mosquitos criados em laboratório foram soltos em uma estufa com voluntários usando protótipos dos calçados tratados com diferentes concentrações do repelente. Os mosquitos passaram por testes de PCR para garantir que não transmitissem doenças aos pesquisadores.
 
Leia também: Minas Gerais pode ter uma das piores epidemias de dengue da história.

“Dessa forma, temos certeza da idade do mosquito, do estágio fisiológico dele e, o mais importante, a garantia de que não esteja com um vírus que vá transmitir uma doença”, afirma Tales.

compartilhe