SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - De 2010 a 2020, nasceram cerca de 152 milhões de bebês prematuros de 2010 a 2020 —é como se houvesse um desses nascimentos a cada dois segundos, aponta um novo relatório publicado nesta terça (9).





taxa de mortalidade nesses bebês também é alta: a cada cinco mortes de crianças de até 5 anos, uma tem relação com a prematuridade. Isso faz com que o nascimento antes do tempo adequado seja a principal causa de morte nesse público infantil.

Os dados de países que contam com números sobre nascimento prematuro, incluindo o Brasil, foram divulgados em um novo relatório assinado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em parceria com outras instituições, como o Unicef (Fundos das Nações Unidas para a Infância).


"Esse novo relatório mostra que o custo da inação durante a última década foi de 152 milhões de bebês nascendo muito cedo", resumiu Joy Lawn, da London School of Hygiene & Tropical Medicine e um dos autores do relatório, à OMS.




As informações veiculadas no documento vão até 2020. Naquele ano, foram cerca de 13 milhões de nascimentos de bebês prematuros, o que corresponde a 9,9% de todos os bebês que nasceram vivos. O problema é que não houve queda na incidência de prematuridade. Em 2010, por exemplo, a taxa foi 9,8%, basicamente a mesma daquela de dez anos depois.


O Brasil, ao lado de nações como República Tcheca, Hungria e Dinamarca, é apontado como um dos poucos que conseguiram reduzir os nascimentos prematuros. Mesmo assim, a queda foi pequena, e o país ainda é uma das nações com maior taxa de nascidos prematuros na América Latina, figurando na terceira posição dessa lista.

 

Desigualdade

 

Embora a taxa seja alta em todo o globo, os países mais pobres sofrem mais com a prematuridade. Um dos dados que demonstram isso é a mortalidade de bebês extremamente prematuros, que é quando o nascimento acontece com menos de 28 semanas de gestação.





Segundo a OMS, esse tipo de nascimento ainda é uma minoria, já que 85% dos partos antes do período esperado ocorrem entre as semanas 32 e 37. Isso é um bom sinal porque, normalmente, bebês que nascem nessas semanas mais avançadas, embora ainda sejam prematuros, podem se recuperar sem precisar de internação em UTIs.

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Mas para aqueles extremamente prematuros, as chances de sobrevivência são mais baixas, principalmente nos países mais pobres. As estimativas concluíram que 90% desses bebês extremamente prematuros sobrevivem nos países de alta renda, enquanto a taxa é de somente 10% nas nações mais pobres.





O dado ainda é mais preocupante porque são nessas regiões mais pobres que se concentram a maior parte do nascimento de bebês prematuros. O sul da Ásia e a África Subsaariana são as localidades com a maior incidência de prematuridade em todo o mundo: cerca de 65% desses nascimentos são nesses dois locais. São essas regiões que também apresentam as maiores taxas de mortes maternas e de óbitos de recém-nascidos.


No entanto, o relatório chama atenção para o fato de que as taxas continuam preocupantes mesmo nos países mais ricos. Na Grécia, por exemplo, 11,6% dos nascimentos são prematuros. A diferença para Bangladesh, onde foi registrada a maior incidência do mundo, não é tão discrepante: neste último, cerca de 16,2% dos bebês nasceram antes do tempo ideal.

 

Como resolver?


A resolução do cenário não é fácil, mas já existem ferramentas. O relatório aponta algumas medidas. Um dos caminhos é focado na prevenção. Por exemplo, infecções são um fator de risco para o nascimento prematuro de bebês. Por isso, aplicar ações contra doenças como malária colaboram para evitar a prematuridade.

 





Por outro lado, o relatório também cita que é necessário desenvolver sistemas de saúde robustos para evitar a morte ou sequelas naqueles bebês prematuros. A oferta de UTIs neonatais é um exemplo.

 

Mortes maternas 

 

Outro relatório divulgado também nesta terça mostrou que o número de mortes maternas e de recém-nascidos não apresenta queda significativa desde 2015 e chega a 4,5 milhões de ocorrências a cada ano.

O estudo foi feito por OMS, Unicef e Unfpa (Fundo de População das Nações Unidas). Para chegar à conclusão, as entidades utilizaram dados de análises já publicadas e também contaram com as informações dos próprios países sobre essas mortes.


Além de representar que não há melhoria significativa nos serviços de saúde para esses públicos, os números mostram que as metas estipuladas até 2030 estão longe de serem alcançadas. Espera-se que até lá o número de mortes maternas seja reduzido para cerca de 70 a cada 100 mil nascidos vivos. Para mortes de bebês, a meta é de ser no máximo 12 a cada 1.000 bebês, enquanto em crianças de até cinco anos é de 25 a cada 1.000.






Com a constância do número de mortes registradas, fica cada vez mais difícil atingir os números estipulados. Por exemplo, para alcançar a expectativa no índice de mortes maternas, será necessário reduzir em cerca de 11% os óbitos a cada ano até 2030. O percentual alto para um período de tempo curto ocorre porque, em grande parte, a queda foi significativamente baixa nos anos anteriores.


E a COVID-19 piorou a situação. "Mulheres grávidas e recém-nascidos continuam a morrer em altas taxas inaceitáveis ao redor do mundo, e a pandemia de Covid-19 criou maiores gargalos para prover cuidados em saúde que eles precisam", afirmou Anshu Banerjee, diretor de saúde materna, neonatal, infantil e adolescência e envelhecimento da OMS em um comunicado da organização.

A crise de sanitária aumentou a pobreza e gerou pressão sob os sistemas de saúde, o que dificulta o controle de mortes maternas. Além disso, a infecção aumenta a probabilidade de uma gestante vir a óbito. Segundo um estudo publicado em janeiro de 2023, uma mulher grávida com a doença tem oito vezes mais chances de morrer em comparação com outra que não foi infectada.





O Brasil não consta na lista dos países com os maiores números de morte materna e de recém-nascidos –Índia, Nigéria e Paquistão encabeçam essa lista. No entanto, o país ainda enfrenta dificuldades para reduzir esses óbitos, tendo até mesmo registrado aumento nos últimos anos.


O relatório divulgado indica algumas ações que precisam ser tomadas para reduzir as mortes relacionadas à gravidez. Uma delas é proporcionar no mínimo quatro atendimentos pré-natais durante a gestação. Segundo a OMS, as regiões que apresentam maiores índices desses óbitos, como partes da África e da Ásia, têm um desfalque nesse tipo de serviço.


A organização estipula que oito atendimentos é o ideal, mas menos de 60% de gestantes nessas regiões conseguem pelo menos quatro consultas –o número mínimo recomendado.


Outra ação necessária é prover atendimento neonatal para o bebê, já que grande parte das mortes tem relação com causas evitáveis. Se houvesse o atendimento adequado dos recém-nascidos, os índices poderiam cair. O relatório aponta que a meta é fornecer o serviço para no mínimo 80% dos recém-nascidos em todo o mundo.


Por enquanto, somente a América Latina e o Caribe atingiram esse índice, com 89% da cobertura. Localidades mais críticas, como a África subsaariana, estão longe de alcançar a meta –nesta última região, o índice é somente de 59%. Se não forem adotadas medidas robustas, explica o relatório, alcançar o percentual estipulado se tornará muito difícil.

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