Levantamento realizado pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) aponta que o consumo das carnes bovina, suína, de frango e de peixe caiu 67% entre os brasileiros em 2022 na comparação com o ano anterior. A mesma pesquisa também revela que, do total de consumidores que diminuíram a carne na alimentação, 47% pretendem reduzir ainda mais em 2023. Hoje, quatro a cada 10 pessoas afirmam optar por alternativas vegetais em substituição aos produtos de origem animal pelo menos três vezes por semana.





Esses dados também sofrem influência do vasto leque de denominações, hoje existentes, para os diversos tipos de dietas em que a carne fica totalmente fora do cardápio, como o veganismovegetarianismo, crudivorismo, apivegetarianismo e frugivorismo.

Sócio da Clínica Be Light, o nutricionista Thiago Cunha, especialista em performance, emagrecimento e longevidade, afirma que apesar da expectativa de redução no consumo de carne entre os brasileiros, apontada pela pesquisa, é importante relativizar o assunto, ou seja, analisar os prós e contras dessa escolha. “Ela (carne) é o único alimento que tem os aminoácidos essenciais à nossa alimentação. Isso sem falar que é rica em vitaminas do complexo B, principalmente a B12, (presente nas carnes vermelhas), a D, além de nutrientes como ferro e zinco. Logo, ao substitui-las será necessário um aporte maior de vegetais”, explica.
 
Leia também: 
47% dos brasileiros pretendem reduzir o consumo de carne em 2023




Ainda segundo o especialista, além dos vegetais existem outros grupos de alimentos que podem ser inseridos na dieta daqueles que buscam alternativas à carne. “Caso o paciente não seja adepto do veganismo, por exemplo, condição que inviabiliza o consumo de qualquer item de origem animal, ele pode recorrer a ovos e laticínios, o que facilita um pouco na elaboração do plano alimentar”, destaca acrescentando que o primeiro oferece um suporte completo de aminoácidos. Já o leite, por sua vez, é ótima fonte de cálcio. “Vale destacar ainda que na atual situação do país, com o alto preço das carnes, os ovos acabam sendo uma opção mais rentável”, completa. 

Consumo de ovos 

O nutricionista Thiago Cunha destaca que além dos vegetais existem outros grupos de alimentos que podem ser inseridos na dieta daqueles que buscam alternativas à carne

(foto: Arquivo Pessoal)
Cunha reforça, inclusive, que é preciso desmistificar a informação de que o consumo de ovos está relacionado ao aumento das taxas de colesterol. “Hoje o que temos de estudo nesse sentido é que (o consumo) dois a três ovos por dia podem, até mesmo, contribuir de forma positiva para o aumento do HDL, o chamado bom colesterol”, destaca.

Não existem alimentos ruins, mas sim os que devem ser controlados

Thiago Cunha ressalta que uma das grandes polêmicas propagadas, inclusive, em grupos de internet, desprovidos de conhecimento científico, é atrelar o consumo de carnes à problemas de saúde. “Que fique bem claro: não existe alimento ruim. O que devemos sempre levar em consideração é a forma como lidamos com todos eles, ou seja, o excesso é que não é bem-vindo, tanto por várias questões de saúde quanto de meio ambiente. O que não é válido, é criar factoides sobre um alimento específico, que só confundem a cabeça da população”.





E como relativizar é a palavra de ordem do nutricionista, Thiago recomenda sempre ter dois olhares sobre qualquer assunto relacionado a práticas alimentares. “Assim como consumir carnes vermelhas de forma demasiada não é saudável, uma dieta vegana, por exemplo, sem a orientação de um profissional qualificado pode deixar o indivíduo com deficiência de muitas vitaminas, o que aumenta as chances de um quadro de anemia”.
 
Leia também: Conheça 16 mitos e verdades sobre o consumo de ovo

O especialista ainda é taxativo ao dizer que não basta apenas tirar a carne da dieta vegana para que tudo esteja resolvido. Além de precisar ser rica em vegetais, a alimentação que hoje virou tendência deve contar com o aporte de leguminosas como o feijão, lentilhas, ervilhas, além de quinoa, soja e grão de bico. “No caso de Minas Gerais, por exemplo, uma dica é incorporar o ora-pro-nóbis no prato, planta abundante em nosso solo, rica em ferro e que pode diminuir de forma representativa o mau colesterol (LDL)”.
 
Leia também:  O bom colesterol (HDL) não evita complicações cardiovasculares, diz estudo.

Por fim, Cunha deixa um importante recado: “Que todos nós, ao começarmos uma dieta ou mudarmos o perfil de nossa alimentação, tenhamos respostas claras para a seguinte pergunta: Essa dieta é para que? O grande sucesso de qualquer plano alimentar é o quanto ele faz sentido para cada um de nós. E repito: não há um alimento proibitivo. Existe, na verdade, aquele que deve ser controlado. Logo, todo grupo alimentar tem vantagens e desvantagens. O importante é conciliar de forma saudável as diversas possibilidades que nos são dadas”.

compartilhe