Jornal Estado de Minas

BEM-ESTAR

Hérnia de disco x atividade física: como conciliar


Lesão muito comum na coluna, a hérnia de disco é caracterizada por alterações nos discos da coluna, responsáveis por absorver impactos e promover o movimento entre as vértebras. À medida do envelhecimento, hábitos errados, como o sedentarismo, tabagismo, sobrepeso e má postura, acabam fazendo com que esses discos se desgastem e parcialmente saiam do lugar. O resultado são fortes dores na parte inferior da coluna ou no pescoço e , quando causam compressão de nervos, dores irradiadas para os braços ou pernas, acompanhados ou não de perda de força e sensibilidade desses membros.



Uma das indicações para aliviar os sintomas, diminuir a dor e fortalecer a estrutura que dá sustentação ao corpo é a atividade física. Segundo o médico ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT, Daniel Oliveira, é fundamental, porém, estar atento aos exercícios praticados para não piorar ainda mais a condição.

"Atividades de alto impacto ou aquelas que geram uma sobrecarga na coluna devem ser evitadas. Podemos colocar nessa lista a corrida, saltos, agachamentos com peso e stiff, por exemplo. É fundamental que o paciente seja acompanhado por um médico especialista para saber qual o tipo de hérnia de disco, possíveis tratamentos e movimentos recomendados para cada caso."

O diagnóstico da hérnia de disco, segundo o ortopedista, começa a partir da conversa com o paciente sobre os sintomas que sente, além de um exame físico neurológico detalhado, a fim de descobrir os principais focos de dor, dos sintomas, perda de força e sensibilidade. Uma vez suspeitado, o problema pode ser confirmado com exames de imagem como a ressonância e a tomografia.



Tayron Mendes Oliveira, de 32 anos, descobriu uma hérnia de disco em meados de 2019, após sentir fortes dores em uma manhã, ao acordar. Na ocasião, o médico disse que, pelos sintomas, provavelmente ele estaria com o problema.

"Eu já sentia essas dores desde 2016. Trabalhava no shopping e fui várias vezes ao hospital com queixa de dor na lombar, só que nunca deram muita atenção para isso. Sempre me indicavam realizar um raio-X e entrar com medicação. Só três anos depois, nesse episódio de muito incômodo, é que foi pedida a ressonância magnética."

Ele conta que a dor era na região da lombar e no quadril. "Como o ciático estava inflamado, descia para a perna direita inteira, e até o dedão do pé doía", ressalta.

O diagnóstico de Tayron foi hérnia de disco entre a vértebras L3, L4 e L5. Uma delas estava muito evoluída e as outras duas ainda em fase inicial. Um dos responsáveis pelo desenvolvimento do problema foi o jiu-jitsu. "Faço atividade física desde os 18 anos, mesmo que dando alguns intervalos de tempos em tempos, mas nunca fiquei parado. Infelizmente, foi a arte marcial que colaborou para os deslocamentos dos discos intervetebrais, devido às quedas bruscas."



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"Atividades de alto impacto ou aquelas que geram uma sobrecarga na coluna devem ser evitadas" - Daniel Oliveira, médico ortopedista especializado em coluna vertebral, diretor do NOT (foto: Ellen Casadonte/Divulgação)
De acordo com Daniel Oliveira, é de suma importância buscar os exercícios corretos de musculação e sempre com a orientação profissional. "Os exercícios devem ser iniciados em pacientes já sem crise de dor, ou seja, após melhorar com o tratamento medicamentoso e fisioterápico. Algumas modalidades são indicadas especialmente para pacientes diagnosticados com a hérnia de disco e essa indicação vai depender, inclusive, do grau em que ela se encontra, como o pilates e o yoga, por trabalharem a consciência corporal, a mobilidade, o alongamento e não gerarem impacto na coluna. Também a natação, a hidroginástica, atividades aeróbicas e a musculação, feitos sob orientação médica e de um educador físico."

O fisioterapeuta esportivo Vitor Alvarenga ressalta que a atividade física deve ser realizada não só para quem sofre de hérnia de disco, mas de qualquer problema crônico da coluna. "Isso deve ser devidamente planejado e acompanhado. O fisioterapeuta, no caso, deve fazer uma avaliação prévia, antes de a pessoa começar a praticar qualquer modalidade e ela deve ser acompanhada, inclusive, durante o exercício."

Vitor garante que o exercício físico é muito importante para o controle da dor. Segundo o profissional, a ciência já provou que a sensação da dor é extremamente subjetiva e envolve uma série de fatores, principalmente, fatores psicológicos.



"Manter a mente ocupada durante a prática dos exercícios é uma das coisas que fazem a prática tão importante. Além disso, há a liberação da serotonina, que é o hormônio do prazer, o que também ajuda no controle da dor. Manter o corpo em movimento vai ajudar também no fortalecimento do sistema muscular, que é essencial para a proteção da coluna e para aliviar a pressão sobre ela."

Tayron relata que, depois do diagnóstico, fez fisioterapia durante um ano. "Só então fui liberado para voltar para a musculação, com os exercícios indicados para minha condição, e pilates. Desde então, estou intercalando os dois para fortalecer a minha musculatura e evitar novas dores. O esporte melhorou muito minha condição, principalmente a musculação."

O fisioterapeuta esportivo Vitor Alvarenga garante que o exercício físico é muito importante para o controle da dor (foto: Fernando Trancoso/Divulgação)
Vitor Alvarenga endossa que a fisioterapia contribui para a montagem e execução de um planejamento personalizado de exercícios que vão promover a estabilização e melhora do paciente. Além da fisioterapia e da prática de atividade física supervisionada, Daniel Oliveira indica como tratamento o uso de medicamentos que vão desde a analgésicos simples e anti-inflamatórios a opioides e corticoides. Apenas 20% dos casos precisam de alguma intervenção cirúrgica.



"São os casos com uma perda de força e uma sensibilidade muito intensos, dor forte intratável ou ausência de melhora após dois meses de tratamento conservador. Tudo deve ser avaliado de forma individualizada e de acordo com as necessidades de cada paciente. Atualmente, mesmo em casos mais graves, em que há a necessidade de cirurgia, é possível realizá-la de forma minimamente invasiva, o que resulta em uma recuperação muito mais rápida."

O procedimento é uma evolução da cirurgia tradicional e permite acessar a coluna de maneira direta, por meio de cortes menores. O médico conta que, por meio de endoscópicos associados a câmeras, o cirurgião consegue acessar e remover a hérnia de disco, além de descomprimir a região, causando um dano mínimo nas estruturas da coluna e na musculatura.

"O resultado é um pós-operatório com pouca dor e um retorno rápido às atividades normais. A incisão normalmente necessita de apenas dois pontos para o fechamento de pele e um pequeno curativo. Nesse caso, a anestesia pode ser a local quando associada à sedação ou a anestesia geral", finaliza.