Mudanças significativas na estrutura do cérebro podem estar ligadas ao desenvolvimento da anorexia nervosa, mostra o maior estudo feito até o momento sobre os dois fenômenos. Neurocientistas da Universidade de Bath, no Reino Unido, com o apoio de parceiros internacionais, detectaram diferenças "drásticas" entre a estrutura cerebral de pessoas com e sem o distúrbio alimentar. A expectativa do grupo é de que as descobertas ajudem no desenvolvimento de abordagens terapêuticas contra o problema, que costuma ser mais incidente em mulheres jovens.



O estudo reuniu mais de 1,5 mil exames de ressonância magnética cerebrais de mulheres. Das participantes, 685 tinham diagnóstico de anorexia nervosa e 963 integravam o grupo controle (não tinham o distúrbio alimentar nem estavam em recuperação). Entre as voluntárias com anorexia, 68% (485) estavam agudamente abaixo do peso e 32% (251) estavam sob tratamento e com o peso parcial restaurado.

Ao analisar o material, os cientistas constataram que as participantes com anorexia apresentavam "reduções consideráveis" em três medidas críticas do cérebro: espessura cortical, volumes subcorticais e área de superfície cortical. Os autores do estudo, publicado na revista Biological Psychiatry, enfatizam que essas reduções despertam preocupação porque podem sinalizar a perda de células cerebrais ou das conexões entre elas.

Paul Thompson, professor de neurologia da University of Southern California, nos Estados Unidos, conta que o grupo se deparou com uma redução do órgão em proporções inéditas. "As alterações cerebrais na anorexia foram mais graves do que em qualquer outra condição psiquiátrica que estudamos", enfatiza, em comunicado.



As análises mostram que pessoas com o transtorno alimentar apresentaram reduções no tamanho e na forma do cérebro entre duas e quatro vezes maiores do que alterações observadas em pessoas com depressão, transtorno do deficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

"A anorexia afeta o cérebro mais profundamente do que qualquer outra condição psiquiátrica. Esse é realmente um alerta, mostrando a necessidade de intervenções precoces para pessoas com distúrbios alimentares", enfatiza Thompson.

Reversível

A hipótese levantada pelo grupo de cientistas é de que as mudanças observadas no tamanho do cérebro podem ser atribuídas a reduções expressivas no índice de massa corporal (IMC) de quem tem anorexia. Dessa forma, a recuperação do peso poderia reverter as alterações cerebrais. Líder do estudo, Esther Walton relata, também em comunicado, outra constatação feita pela equipe que sinaliza que as mudanças podem não ser duradouras.



"Descobrimos que as reduções na estrutura cerebral que observamos nas pacientes eram menos perceptíveis naquelas que estavam no caminho da recuperação. Esse é um bom sinal, pois indica que essas mudanças podem não ser permanentes. Com o tratamento certo, o cérebro pode ser capaz de se recuperar", detalha a pesquisadora do Departamento de Psicologia da universidade britânica.

Com base nos resultados, a equipe enfatiza a importância do tratamento precoce para ajudar as pessoas com anorexia a evitar alterações cerebrais estruturais de longo prazo. O tratamento atual combina psicoterapia e ganho de peso. A expectativa é de que os resultados do trabalho inédito ajudem a melhorar essas abordagens. "Os efeitos dos tratamentos e intervenções podem, agora, ser avaliados usando esses novos mapas cerebrais como referência", sugere Thompson.

O pesquisador também chama a atenção para o tamanho do estudo, que envolveu equipes da Universidade Técnica de Dresden, Alemanha, da Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai, em Nova York, e do King's College de Londres.

"A escala internacional desse trabalho é extraordinária. Cientistas de 22 centros em todo o mundo reuniram seus exames cerebrais para criar a imagem mais detalhada até hoje de como a anorexia afeta o cérebro", afirma.

A extensão do estudo também é destacada por Ewres de exames cerebrais de pessoas com anorexia nos permitiu estudar as alterações cerebrais que podem caracterizar esse distúrbio com muito mais detalhes", diz a líder do estudo.

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