O procurador-geral da República, Augusto Aras, usou sua fala na abertura do ano do Judiciário para defender a "imparcialidade" da Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmando que teve atuação "estrategicamente discreta" e que o órgão evitou manifestações de "extremistas de todas as naturezas".
Porém, entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ministros aposentados da Corte, advogados e outros convidados, a fala de Aras foi mal recebida. Além de enxergarem que não o ajuda a mudança de postura para se alinhar ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), consideraram que fez um discurso defensivo, como se tentasse justificar a atuação que teve na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
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Desconforto
O procurador causou ainda mais desconforto ao mencionar o ex-senador cassado e hoje advogado Demóstenes Torres, que defende Anderson Torres - ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, suspeito de ter facilitado o vandalismo bolsonarista de 8 de janeiro e em cuja residência foi encontrada uma minuta de golpe de Estado.
"Li um artigo do ex-senador Demóstenes Torres falando, basicamente, que na hora da batalha não importa o que vai acontecer, mas quem está ao nosso lado na trincheira. O ex-senador, ex-Procurador-Geral de Justiça, um homem erudito, declara seu amor à sua companheira e cita como exemplo a senhora Rosângela Silva", citou, para incômodo dos presentes.
Ao chamar a atenção para o cenário político atual do Brasil, o PGR falou em defesa da liberdade de expressão, mas pediu respeito às instituições. "A polarização política, expressão legítima da intensidade e diversidade da vida democrática em um país plural e multicultural, exige também o respeito às diferenças e a promoção da cultura da tolerância. Esse é um dever permanente de todos", disse.
Segundo Aras, é importante dizer, diariamente, "democracia, eu te amo, eu te amo, eu te amo". Ele pontuou que o regime do Estado de Direito foi conquistado "a duras penas e exigiu sangue, suor e lágrimas de muitos brasileiros".
O procurador observou, ainda, que o momento pede por "pacificação" e fez um breve balanço da atuação da PGR pós-8 de janeiro. Destacou que, até o momento, ofereceu 525 denúncias, 14 pedidos de prisão e nove requerimentos de busca e apreensão.