As chuvas históricas que atingiram cidades do litoral norte e da Baixada Santista, em São Paulo, deixaram até o momento 36 mortos. O total de pessoas fora de casa subiu para 2.496.
Os desaparecidos somam 40, mas os números ainda devem aumentar já que ainda há relatos de que pessoas estariam sob os escombros de construções que cederam.
Nesta segunda-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estão em São Sebastião. O chefe do Executivo estadual pediu que os turistas não tentem voltar à capital paulista, já que há uma série de bloqueios em estradas.
Segundo ele, pessoas isoladas, sem comunicação e informação e sem conseguir comprar alimentos, "esta fazendo com que várias pessoas tentem sair de suas casas para retornar em direção a São Paulo e outras partes do estado. Ideal é que as pessoas não façam isso".
"A grande via de deslocamento será a Rio-Santos e a Tamoios. A recuperação da Mogi-Bertioga vai levar um tempo maior. A recuperação da Rio-Santos de Boiçucanga em direção ao Sul pode levar um tempo enorme, a gente não sabe nem dizer."
As equipes de resgate, compostas por diversos órgãos, estão no segundo dia de buscas por sobreviventes e desaparecidos.
O trabalho de resgate das vítimas é feito por uma força-tarefa composta por mais de 500 pessoas, entre servidores das forças de segurança e resgate do governo estadual, das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Prefeitura de São Sebastião e voluntários, seguem empenhadas para localização, resgate, salvamento e identificação das vítimas.
Os esforços no atendimento às vítimas começaram no domingo (19) e seguem de forma ininterrupta, com o apoio de 53 viaturas do Corpo de Bombeiros, dois cães especializados na busca de pessoas, 31 maquinários, sete helicópteros Águia do
Comando de Aviação da Polícia Militar e outras duas aeronaves do Exército. Mais três helicópteros Águia deverão chegar ainda hoje para auxiliar nos trabalhos.
Chuva deixa serviços de telefonia e internet instáveis
As operadoras de telefonia confirmaram neste domingo, no final do dia, que os sistemas de telefonia e internet nas cidades do litoral norte sofrem com instabilidade porque as redes foram danificadas pelas chuvas, quedas de árvores e deslizamentos, o que dificulta ainda mais a situação. Muitas pessoas que têm parentes e amigos, inclusive que foram passar o Carnaval nas regiões atingidas, estão aflitas por não conseguir contato.
Além da dificuldade de comunicação, a população também enfrenta desabastecimento de água, já que muitos sedimentos invadiram os pontos de tratamento, que precisaram ser interrompidos.
Segundo o governo do estado, as concessionárias trabalham para restabelecer os serviços essenciais o mais rápido possível.
Diversas rodovias tiveram sérios problemas estruturais causados por erosões, quedas de barreiras, deslizamentos e queda de árvores. A Defesa Civil estadual orientou a população a não se deslocar ao litoral norte até que a situação esteja controlada.
O recorde de chuva que atingiu o litoral norte de São Paulo desde sábado deixou um rastro de destruição e mortes, com dezenas de casas que solaparam, muita lama, e vias locais intransitáveis, o que também atrapalha as ações de resgate. De acordo com a Defesa Civil do estado, além das mortes já confirmadas, o número de desalojados subiu para 1.730, e o de desabrigados, para 766.
Entre os mortos há uma criança de 7 anos, vítima de um deslizamento de terra em Ubatuba. Os outros mortos são de São Sebastião, a cidade mais afetada pelo temporal -a maioria na Barra do Sahy, além de Juquehy, Camburi, e Boiçucanga.
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De acordo com o governo do estado, em menos de 24 horas o acumulado de chuva ultrapassou os 600 mm em alguns pontos do litoral. As áreas mais atingidas estão entre Bertioga (683 mm) e São Sebastião (627 mm). Tais índices pluviométricos são dos maiores já registrados no país em curto período e em situação não decorrente de ciclone tropical.
Bombeiros recebem número recorde de chamadas
O Corpo de Bombeiros informou que recebeu, até a tarde de domingo, um número recorde de chamadas para socorro -só para São Sebastião foram 481 solicitações.
No início da noite deste domingo, o governador Tarcísio decretou estado de calamidade pública para as cidades de Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, todas no litoral norte de São Paulo, além de Bertioga.
A cidade de São Sebastião, principalmente a região sul, foi o mais afetado pelos temporais. As regiões da Barra do Sahy e Juquehy estão isoladas em razão das quedas de barreiras ao longo da rodovia.
A Polícia Civil e a Superintendência da Polícia Técnico Científica reforçaram os efetivos na região para dar mais celeridade aos trabalhos de polícia Judiciária e de identificação das vítimas. Uma equipe com 40 servidores entre peritos e auxiliares atuará no IML (Instituto Médico Legal) de Caraguatatuba. Outros 12 papiloscopistas do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt trabalharão em apoio aos profissionais no IML de Caraguatatuba e no Serviço de Verificação de Óbitos de Ubatuba.
CONFIRA A SITUAÇÃO EM CADA CIDADE
SÃO SEBASTIÃO
A Prefeitura de São Sebastião (197 km de SP) decretou estado de calamidade pública. A programação do Carnaval foi cancelada.
Uma das vítimas é Fabiana de Freitas Sá, 40, coordenadora do Programa Criança Feliz. Ela morreu após a casa em que morava, na estrada da Maquinha, em Boiçucanga, desabar.
À reportagem, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), disse que, após as chuvas, a cidade ficou totalmente ilhada, sendo impossível chegar por estrada, pois todas estavam interditadas. Segundo ele, a região mais afetada é a Vila do Sahy.
"Diversas casas desmoronaram, muitas pessoas ainda estão debaixo dos escombros. As equipes de busca e salvamento não estão conseguindo acessar diversos locais. A situação é muito caótica."
O prefeito afirmou que 80% do bairro Toque Toque está destruído.
UBATUBA
Durante a madrugada de domingo, um deslizamento de terra fez com que uma pedra atingisse uma casa na rua Benedito Alves da Silva, no bairro Estufa, em Ubatuba (220 km de SP). Uma criança de sete anos que estava no imóvel morreu na hora, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
A cidade registrou 335 mm de chuva, segundo a Defesa Civil.
BERTIOGA
Bertioga foi a cidade que registrou o maior volume de chuvas. Segundo a Defesa Civil, foram 687 mm em 24 horas. Foram diversos pontos de alagamentos, inclusive na Riviera de São Lourenço, bairro de alto padrão.
Em comunicado nas redes sociais, a prefeitura afirmou que as atrações de Carnaval foram adiadas.
CARAGUATATUBA
Em Caraguatatuba também houve alagamentos. A cidade registrou acumulado de 395 mm. Diversas famílias desalojadas foram abrigadas em espaços públicos ou em foram para casas de parentes.
Equipes da prefeitura trabalharam ao longo do domingo na limpeza das ruas, retirada de árvores caídas, desobstrução de valas e limpeza de rios, como Guaxinduba e Itororó, para melhorar o escoamento da água e reduzir os alagamentos.
ILHABELA
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) colocou a região sul do arquipélago em estado de atenção devido às fortes chuvas que atingiram a cidade. Em 18 horas, choveu 337 mm no local, segundo o governo do estado.
A Defesa Civil registrou deslizamentos de terra, alagamentos e quedas de galhos e postes da rede elétrica. Há monitoramento nas áreas de risco.
O abastecimento de água na cidade foi interrompido. A prefeitura pede para que a população evite desperdiçar água até a normalização do sistema.
GUARUJÁ
A chuva também causou estragos no Guarujá, na Baixada Santista. Na região do Jardim Acapulco —um condomínio de alto padrão—, ruas e casas ficaram alagadas.
Ao todo, 190 pessoas ficaram desalojadas e foram montados dois polos para receber essas famílias.
Segundo a prefeitura, foram registrados quase 400 milímetros na cidade, ultrapassando a previsão de 234 milímetros para todo o mês de fevereiro e alcançando o maior índice da série histórica nos últimos 70 anos.
MOGI-BERTIOGA INTERDITADA
A rodovia Mogi-Bertioga (SP-98) está interditada desde a 0h30 de domingo na altura do km 82, em Biritiba Mirim, devido ao rompimento de uma tubulação e consequente erosão causados pelas fortes chuvas que atingiram a região.