O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou nesta terça-feira (3/3) que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estuda rebaixar o status da COVID-19 no Brasil de pandemia para endemia. A classificação foi determinada em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e este mês completa dois anos. Pandemia é o nível mais grave de disseminação de uma doença e a escala da OMS inclui ainda os termos endemia, epidemia e surto.
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Queiroga diz na ONU que vacinação é obrigação do EstadoCOVID: quase 60% dos municípios enfrentam resistência à vacinação infantil COVID-19: São Paulo identifica terceiro caso da subvariante BA.2Queiroga busca consenso para rebaixar pandemia para endemiaMinistro da Saúde diz que não vai decretar fim da pandemia 'sozinho'Rio de Janeiro acaba com obrigatoriedade de máscaras em locais fechadosFiocruz entrega ao Governo Federal 1,9 milhão de doses da AstraZenecaMega-Sena sorteia prêmio de R$ 58,2 milhões nesta quinta-feiraReceita Federal libera serviços do Imposto de Renda para Portal Gov.brGoverno federal lança caderneta do SUS para pessoas com doenças rarasEssa decisão pode ser precipitada, segundo o médico infectologista Estevão Urbano, um dos conselheiros do prefeito Alexandre Kalil (PSD) no Comitê de Enfrentamento à COVID-19. “Acho que os números estão melhores, mas ainda não dá para falar endemia. Para considerar endemia, temos que ter números bem abaixo do que estão hoje e por um período sustentável de tempo. Hoje o número de casos ainda é alto para classificarmos como situação endêmica e mesmo quando baixa, é preciso saber se vai sustentar por mais tempo ou se vai ter um novo surto da doença”, avalia o especialista.
Ele explica: “Endemia é quando você tem um número sustentável de casos por um período contínuo de tempo, começando a fazer parte da vida das pessoas. É o caso da tuberculose e malária, por exemplo, que são doenças seculares que sempre afetam a população dentro de um limite de casos históricos. Na pandemia esse número de casos foge do controle, da média histórica, e se torna mundial.”
Estevão ainda se preocupa com um novo surto de casos do coronavírus. “É preciso ter uma sustentabilidade de casos em alguns meses e o que temos visto na pandemia, é que de tempos em tempos, o número de casos ainda tem piora. Acho que ainda é precoce essa denominação”, ressalta.
Ele aponta que mesmo em um cenário favorável da vacinação, com mais de 80% da população imunizada com a 3ª dose, ainda é necessário ter atenção. “A imunidade da vacina e da doença não parece ser duradoura, vai caindo com os meses. A gente não sabe como vai se comportar a imunidade das pessoas daqui a 6 meses, por exemplo. Ainda pode ser que aumente o número de casos se aparecer uma nova variante, não dá para garantir que ficaremos com números baixos endêmicos, precisamos esperar mais meses, esperar os acontecimentos”, observa.
O infectologista ainda alerta que a mudança de pandemia para endemia não é algo para se comemorar. “Endemia não é necessariamente um quadro bom, significa que uma infecção ficou e não foi embora, faz parte do nosso dia a dia e não conseguimos eliminá-la. Essa endemia pode voltar a se tornar pandêmica novamente. Não podemos comemorar uma endemia”, afirma.
Se o rebaixamento de fato ocorrer, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como uma emergência de saúde e muitas das restrições, como uso de máscaras, proibição de aglomerações e exigência do passaporte vacinal, deixarão de ser aplicadas.