Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

'Podemos chegar a mais de 500 mil mortos em 40 dias', afirma Nicolelis

Uma das referências da ciência brasileira, o médico neurocientista Miguel Nicolelis afirmou que o Brasil pode atingir a marca de 500 mil mortos nos próximos 40 dias. Nesta quinta-feira (29/4), o país registrou a triste marca de mais de 400 mil mortes em decorrência da COVID-19. “Perdemos histórias de vida que jamais se repetirão. É uma tragédia sem precedentes e que nos toca a todos", disse, em entrevista à Globonews. 






Apenas nas últimas 24h foram registrados 3.001 mortes, segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e do Ministério da Saúde. O total de mortes é de 401.186. “Nós chegamos aqui pela crônica da morte anunciada”, completou. 


Nicolelis destacou  que previu na primeira semana de novembro do ano passado que ela ocorreria. “As previsões foram todas realizadas", pontuou. "A pandemia está assolando o Brasil e, por todas as previsões, nós podemos chegar a mais de 500 mil mortos em 40 dias", completou.  

Para ele, os erros estão sendo cometidos desde a primeira onda. “Erros básicos, primários, que se acumularam. Foram anunciados aos quatro ventos, bem antes de vivermos a aceleração da segunda onda.”


Ele ressaltou também que, infelizmente, o mês de abril foi pior que o de março, em relação ao número de mortes. “Isso ocorreu porque nós, como nação, ainda não temos um comando central, estratégia, política de comunicação e um estado maior de combate à pandemia que ponha em prática, aquilo que o mundo inteiro sabe que tem que ser feito: isolamento social, bloqueio de fluxos e aumento de vacinação.”





O médico citou o exemplo dos Estados Unidos, que estão vacinando por dia mais de 3 milhões de pessoas. “Exatamente o que o Brasil fazia em campanhas passadas.”

 
"Brasil pode sofrer com falta de vacinas"


Segundo Nicolelis, a vacinação no país está lenta pela falta de planejamento do governo. “Não planejamos adquirir o número de doses necessárias e não enfrentamos do ponto de vista logístico e estratégico esta questão da maneira que deveria ter sido enfrentada. Temos capacidade de fazer a vacinação como tem sido feita nos Estados Unidos. Já fizemos em outras campanhas de cunho nacional." 

Para ele, o governo foi negligente com a compra das doses dos imunizantes. “Foi um erro crasso, básico de planejamento. Sentamos em cima de ofertas de dezenas de milhões de doses por meses.”

O neurocientista demonstra preocupação também com a situação da Índia. Segundo ele, a explosão do número de casos do país, pode atrapalhar ainda mais a vacinação no Brasil. 
 
“A Índia é a maior produtora de vacinas do mundo. Com a explosão do número de casos e mortes, ela vai se voltar para si e vai usar os recursos de vacinação que tem para sua população. O Brasil pode sofrer com esse problema também”, alerta. 




 
Nicolelis está preocupado, ainda, com as novas variantes da doença que estão surgindo. “A variante da África do Sul, em um dos estudos, escapou da cobertura produzida pela vacina da Oxford/Astrazeneca. É um sinal de alerta que foi deflagrado no Reino Unido.”

“Como o espaço brasileiro não é fechado, nós estamos expostos a receber estas variantes , se já não temos elas presentes. Seria um desastre. Se nós estamos vacinando lentamente, com variantes que entram ou surgem no Brasil, e começam a se espalhar e não respondem à vacina, teremos um quadro grave, semelhante ao que está acontecendo na Índia nesse momento”, concluiu.   
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria
 

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