Jornal Estado de Minas

PICADO POR NAJA

Incidente com naja no DF acende alerta para cuidados com cobras; conheça as mais venenosas

Um estudante de veterinária de Brasília tomou as manchetes após ter sido picado por uma naja nessa terça-feira (7). O incidente chamou a atenção e acendeu o alerta para a conscientização de cuidados com as cobras.




No Brasil, quatro grupos de espécies podem ser consideradas as mais venenosas: surucucus, corais, jararacas e cascavéis. "Não é possível dizer qual é mais ou menos, porque cada veneno tem sua particularidade. E é difícil comparar só pela toxina porque o comportamento da serpente também influencia na quantidade de acidentes", explica Marcelo Pires Nogueira de Carvalho, professor do departamento de Clínica e Cirurgias Veterinárias da UFMG.

As toxinas de todas essas espécies podem causar efeitos graves para seres humanos. "Todas podem ser fatais, a depender do tempo de espera para assistência médica e se é adequada. Além disso, cada toxina tem suas particularidades", esclarece.

As picadas de jararacas costumam causar lesão no local, dor intensa, hemorragia e necrose do tecido atingido. Já em cascavéis e corais, por sua vez, não ocorrem nenhum tipo de decorrência no local do ferimento, mas, sim, efeitos neurológicos. Nas surucucus, os dois tipos de efeitos são recorrentes.



Cada um desses grupos costuma ser encontrado em algum lugar do Brasil, a depender do bioma. "Em Minas, a cascavel é a mais encontrada por ser típica do cerrado. Em São Paulo, mesmo sendo um estado próximo, é a jararaca, pois o bioma predominante é a mata atlântica. Isso varia", comenta Carvalho.

Em caso de picada de cobra, a orientação principal é lavar o local com água e sabão e buscar atendimento médico o mais rápido possível. "Além das toxinas, elas têm bactérias na cavidade bucal que podem causar outras infecções, por isso a importância de lavar. E o único remédio possível é o soro, por isso tem que levar para o hospital. Todas as crenças são contraindicadas", alerta.

É importante ressaltar que as serpentes não atacam, mas se defendem. "O animal não tem todo esse gasto energético que é dar o bote à toa, só em casos em que se sinta ameaçada e não consiga fugir. É importante manter uma distância, porque elas se sentem ameaçadas e atacam justamente quando as pessoas chegam perto demais", conta.



O caso do estudante


Pedro Henrique Lehkmuhl, de 22 anos, está em coma, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Ele foi tratado por meio de um soro antiofídico, levado às pressas do Instituto Butantan, de São Paulo.

Trata-se de uma espécie rara e exótica, encontrada normalmente no Sul da Ásia. Ela possui uma peçonha capaz de afetar o sistema nervoso central da vítima e pode ser fatal. "Essa naja, em específico, tem no veneno uma neurotoxina que pode causar paralisia do diafragma, que faz com a que respiração pare", explica o professor da UFMG.

As investigações mostram que Pedro mantinha a cobra em casa e pode se tratar de um crime ambiental, já que o estudante não tinha permissão para manter o animal em ambiente doméstico. "É importante ressaltar que, no Brasil, não é permitida a criação doméstica da cobra dessa espécie. Provavelmente é advinda de tráfico de animais e poderia ter atingido vizinhos, crianças e idosos. É uma irresponsabilidade", comenta Carvalho.

A cobra já foi localizada, está em segurança e passa bem. Veja o vídeo:
 

 
 
* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.