Jornal Estado de Minas

ORIENTE MÉDIO

Conflito entre Israel e palestinos: o que está acontecendo e mais 5 perguntas sobre a onda de violência



A recente escalada de violência entre Israel e o Hamas, o grupo extremista que controla a Faixa de Gaza, atraiu novamente as atenções do mundo para um conflito que se arrasta por décadas, misturando política e religião.





E que já deixou mortos e feridos de ambos os lados, sendo a maior parte das vítimas em território palestino.

Também trouxe à tona muitos questionamentos.

Abaixo, a BBC News Brasil responde a algumas das perguntas mais buscadas em português no Google sobre o confronto.


Houve violenta repressão de palestinos por parte da polícia israelense durante Ramadã (foto: Getty Images)

O que está acontecendo em Israel?

O conflito entre israelenses e palestinos já existe há muito tempo, mas o gatilho para a nova escalada de violência teve origem nas ameaças de despejo de famílias palestinas de Sheikh Jarrah, um bairro fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém.

Tribunais israelenses haviam dado ganho de causa a grupos de colonos judeus que reivindicavam a área em que viviam as famílias.

Mas, como destaca o editor da BBC para o Oriente Médio, Jeremy Bowen, essa é mais do que uma disputa "por um punhado de casas".





Há décadas, israelenses têm ocupado áreas habitadas por palestinos por meio de assentamentos, tanto em Jerusalém Oriental quanto na Cisjordânia.

Só nesta última, são cerca de 430 mil colonos israelenses distribuídos entre 132 assentamentos.

Essas colônias são consideradas ilegais pela lei internacional. Em pelo menos seis ocasiões desde 1979 o Conselho de Segurança da ONU reafirmou que elas são "uma violação flagrante da legislação internacional". A última delas foi em 2016 - o documento oficial também menciona Jerusalém Oriental.


Os assentamentos israelenses em terras ocupadas pelos palestinos têm aumentado ao longo dos anos (foto: Reuters)

Israel defende as iniciativas argumentando que se trata de uma estratégia de defesa de sua integridade, e não uma tentativa de tomada da soberania palestina.





Segundo Bowen, o fato de o conflito ter desaparecido das manchetes internacionais nos últimos anos, diz ele, não significa que tenha acabado. "É uma ferida aberta no coração do Oriente Médio", diz ele, que gera ódio e ressentimento que atravessa não apenas os anos, mas gerações.


(foto: BBC)

Somado a isso nas últimas semanas, houve a violenta repressão de palestinos por parte da polícia israelense durante o Ramadã, culminando com o uso de gás lacrimogênio e de granadas dentro da mesquita de al-Aqsa, o lugar mais sagrado para os muçulmanos depois de Meca e Medina.

O Hamas, o grupo extremista palestino que controla a Faixa de Gaza, tomou a atitude incomum de emitir um ultimato a Israel para remover suas forças do complexo de al-Aqsa e de Sheikh Jarrah.

Israel não acatou a ordem, e o Hamas então começou a disparar foguetes contra cidades israelenses, incluindo Tel Aviv.





Uma foto registrada durante a noite pelo fotógrafo Anas Baba, da agência de notícias AFP, reflete a violência do conflito entre o exército de Israel e os militantes palestinos, que tem escalado nos últimos dias.


Os mísseis israelenses, à esquerda, lançados para interceptar os foguetes do Hamas, à direita (foto: ANAS BABA/Getty Images)

À esquerda, o poderoso sistema israelense de interceptação de mísseis, chamado Domo de Ferro. À direita, os foguetes lançados contra Israel pelo Hamas, partindo de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza.

As luzes dos projéteis do Hamas refletidas na noite e os mísseis lançados pelo Domo de Ferro se converteram em cenas habituais para os habitantes de Ashkelon, Sderot e outras populações que vivem nos arredores da Faixa de Gaza.





(foto: BBC)

A BBC News Brasil conversou com judeus brasileiros que vivem nos arredores de Tel Aviv. Moradores de Ra'anana, eles falaram sobre os momentos de angústia e apreensão.

Um deles contou sobre como os foguetes enviados pelo Hamas interromperam um jogo de futebol de imigrantes brasileiros.

"Tudo aconteceu muito rápido, no meio do jogo. Já estávamos jogando havia meia hora. Quando tocou a sirene, corremos em direção ao salão de ginástica do clube, que fica no subsolo, designado como nosso abrigo oficial", diz Uri Blankfeld, organizador da partida, que emigrou de São Paulo para Israel há cinco anos.

Qual é a origem do conflito Israel x palestinos?

As tensões entre os dois povos aumentaram quando a comunidade internacional deu ao Reino Unido a tarefa de estabelecer um "lar nacional" na Palestina para o povo judeu ao fim da 2ª Guerra Mundial.





Durante esse conflito, ocorreu o chamado Holocausto - o genocídio em massa de milhões de judeus, bem como cidadãos de etnia polonesa, soviéticos, homossexuais, ciganos e prisioneiros de guerra de várias nacionalidades, além de Testemunhas de Jeová e outras minorias a partir de um programa de extermínio sistemático executado pelo Partido Nazista.

O Reino Unido havia assumido o controle da área depois que o ocupante daquela parte do Oriente Médio, o Império Otomano, fora derrotado na 1ª Guerra Mundial e posteriormente desmembrado.

Naquela ocasião, a área era habitada por uma minoria judia e maioria árabe.

Para os judeus, era seu lar ancestral, mas os árabes palestinos também reivindicavam a terra e se opunham à mudança.


Fortes %u200B%u200Bconfrontos ocorreram do lado de fora da Mesquita de Al Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém (foto: Reuters)

Entre as décadas de 1920 e 40, o número de judeus chegando à região cresceu, com muitos fugindo da perseguição na Europa e buscando uma pátria após o Holocausto.





Mas por que Israel? Eles foram incentivados pelo chamado 'sionismo', o movimento nacionalista judaico surgido no século 19 que promovia a ideia de um Estado para o povo judeu.

Ao passo que cresceu o número de judeus emigrando à Palestina, violência entre judeus e árabes e contra o domínio britânico também aumentou.

Em 1947, a ONU votou para que a Palestina fosse dividida em Estados judeus e árabes separados, com Jerusalém se tornando uma cidade internacional.

Esse plano foi aceito pelos líderes judeus, mas rejeitado pelo lado árabe e nunca implementado.

Em 1948, incapazes de resolver o problema, os governantes britânicos partiram e os líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel.

Muitos palestinos se opuseram e uma guerra se seguiu. Tropas de países árabes vizinhos invadiram o país recém-independente.





Centenas de milhares de palestinos fugiram ou foram forçados a deixar suas casas no que eles chamam de Al Nakba, ou a "Catástrofe".

Quando o confronto terminou em cessar-fogo no ano seguinte, Israel controlava a maior parte do território.

A Jordânia ocupou terras que ficaram conhecidas como Cisjordânia e o Egito ocupou Gaza.

Jerusalém foi dividida entre as forças israelenses no Ocidente e as forças da Jordânia no Oriente.

Como nunca houve um acordo de paz - cada lado culpou o outro -, houve mais guerras e confrontos nas décadas que se seguiram.


Comandantes militares israelenses chegam a Jerusalém Oriental, depois que as forças israelenses tomaram Jerusalém Oriental, durante a Guerra dos Seis Dias em 1967 (foto: Getty Images)

Em outra guerra, em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental e a Cisjordânia, bem como a maior parte das Colinas de Golã da Síria, Gaza e a península egípcia do Sinai.





A maioria dos refugiados palestinos e seus descendentes vivem em Gaza e na Cisjordânia, bem como nas vizinhas Jordânia, Síria e Líbano.

Nem eles nem seus descendentes foram autorizados por Israel a retornar para suas casas - Israel diz que isso sobrecarregaria o país e ameaçaria sua existência como um estado judeu.

Israel ainda ocupa a Cisjordânia e, embora tenha saído de Gaza, a ONU ainda considera aquele pedaço de terra como parte do território ocupado.

Israel reivindica toda Jerusalém como sua capital, enquanto os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a capital de um futuro estado palestino. Os Estados Unidos são um dos poucos países a reconhecer a reivindicação de Israel sobre a cidade inteira.

Nos últimos 50 anos, Israel construiu assentamentos nessas áreas, onde vivem mais de 600 mil judeus.

Os palestinos dizem que isso é ilegal segundo a lei internacional e é um obstáculo à paz, mas Israel nega isso.





O grupo Hamas lançou um grande número de foguetes sobre várias cidades israelenses (foto: AFP)

O que é a Faixa de Gaza?

A Faixa de Gaza é um estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo. Faz fronteira com Israel no leste e no norte e com o Egito a sudoeste.

O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de seis a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados.


(foto: BBC)

Isso equivale a pouco mais de um terço da área total da cidade do Rio de Janeiro. Ou pouco mais de um quarto da área total da cidade de São Paulo.

Mas sua população é de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o que a torna um dos territórios mais densamente povoados do planeta.


As tensões vêm aumentando há semanas (foto: Reuters)

A imensa maioria de seus habitantes (98% a 99%) é palestina. Os últimos 21 assentamentos judeus na área foram desmontados em 2005 e seus colonos, evacuados. Naquele ano, os militares israelenses desocuparam o território.





Chama-se Faixa de Gaza devido à cidade de Gaza, cuja existência remonta à Antiguidade, e é governada pelo grupo extremista palestino Hamas.

O que é o Hamas?

O Hamas é o maior dentre diversos grupos de militantes islâmicos da Palestina.

O nome em árabe é um acrônimo para Movimento de Resistência Islâmica, que teve origem em 1987 após o início da primeira intifada palestina, ou levante, contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em seu estatuto, o Hamas se comprometeu com a destruição de Israel.

O grupo inicialmente tinha o duplo propósito de implementar uma luta armada contra Israel, liderada por seu braço militar, as Brigadas Izzedine al-Qassam, e de oferecer programas de bem-estar social aos palestinos.

Mas desde 2005, quando Israel retirou tropas e colonos de Gaza, o Hamas também se envolveu no processo político palestino. Venceu as eleições legislativas em 2006, pouco antes de reforçar seu poder no ano seguinte, derrubando o movimento rival Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.





Desde então, militantes em Gaza travaram três guerras com Israel, que junto com o Egito manteve um bloqueio na região para isolar o Hamas e pressioná-lo a interromper os ataques.

O Hamas como um todo, ou em alguns casos sua ala militar, é classificado como um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido, bem como outras potências globais.

Em sua fundação, o Estatuto do Hamas definiu a Palestina histórica, incluindo a atual Israel, como terra islâmica e exclui qualquer paz permanente com o Estado judeu.

O documento também ataca os judeus como povo, fortalecendo acusações de que o Hamas é antissemita.

Em 2017, o grupo produziu um novo documento de política que suavizou algumas de suas posições declaradas e usou uma linguagem mais moderada.

Não houve reconhecimento de Israel, mas ele aceitou formalmente a criação de um Estado palestino provisório em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, algo que é conhecido como linhas pré-1967.





O documento também enfatiza que a luta do Hamas não é contra os judeus, mas contra "os agressores sionistas de ocupação". Em resposta, Israel disse que o grupo estava "tentando enganar o mundo".

Qual é o poder de fogo do Hamas?

Embora sejam o lado mais fraco do conflito com Israel, Hamas e Jihad Islâmica têm armas suficientes para atacar Israel e já experimentaram diferentes táticas.

O armamento mais significativo no arsenal palestino são, de longe, seus mísseis superfície-superfície.

Parte deles, acredita-se, entra em Gaza por túneis cavados a partir da península do Sinai, no Egito. Essa também seria a origem de outros artefatos, como os mísseis guiados antitanque Kornet.





A maior parte do arsenal de Hamas e Jihad Islâmica vem, contudo, da própria faixa de Gaza, que conta com uma capacidade produtiva relativamente complexa e sofisticada para esses armamentos.

Especialistas internacionais, inclusive israelenses, acreditam que o know-how iraniano e a assistência do país tenham um papel importante no crescimento da indústria bélica na região.

Estimar a dimensão exata do arsenal do Hamas é impossível, mas ele certamente inclui milhares de armas de diferentes alcances. Os militares israelenses têm suas próprias estimativas - que não chegam, contudo, a compartilhar publicamente.

Um porta-voz se limita a dizer que o grupo poderia manter o poder de fogo dos ataques da escalada do conflito em 2021 por "um período significativo de tempo".

Os grupos palestinos têm usado diferentes tipos de mísseis, nenhum deles novo em termos de design básico. De forma geral, contudo, as armas têm apresentado alcance maior e cargas explosivas mais potentes.





Os israelenses realizaram vários bombardeios em Gaza (foto: AFP)

O Hamas opera uma variedade de mísseis de longo alcance como o M-75, que avança até 75 km, o Fajr (até 100 km) e o R-160 (até 120 km). Também conta com alguns M-302s, que chegam ainda mais longe, até 200 km.

Assim, o grupo teria capacidade de atingir tanto Jerusalém quanto Tel Aviv, além da faixa costeira, que concentra maior densidade populacional e infraestrutura.

O Exército israelense diz que mais de mil foguetes foram disparados contra o país em três dias de conflito em 2021. Outros 200 teriam caído na própria Faixa de Gaza, um possível indicativo dos problemas oriundos de um processo de produção disperso e ainda pouco desenvolvido.

Entre os mísseis que cruzaram a fronteira, 90% foram interceptados pelo sistema antimísseis Domo de Ferro, parte de um amplo sistema de defesa aérea que opera em Israel.

Seu objetivo é proteger o país de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro, foguetes e outras ameaças aéreas. As baterias são feitas de mísseis interceptores, radares e sistemas de comando que analisam os lugares que os foguetes inimigos podem atingir.





A Palestina é um país?

A Palestina, reconhecida oficialmente como o "Estado da Palestina" pela ONU, é um Estado soberano de jure (expressão em latim que significa pela lei ou pelo direito). Ou seja, é independente teoricamente, mas não na prática.

Seu território é formado pela Cisjordânia e Faixa de Gaza e advoga Jerusalém como sua capital, ainda que, na prática, seu controle administrativo parcial é mantido apenas sobre as 167 "ilhas" na Cisjordânia e no interior da Faixa de Gaza, enquanto seu centro administrativo está atualmente localizado em Ramallah.

O Estado da Palestina é reconhecido por 138 dos 193 membros da ONU, entre eles o Brasil, ao passo que Israel é reconhecido por 164. Desde 2012, a Palestina tem o status de Estado observador não membro nas Nações Unidas.





Bombardeio israelense destruiu uma torre de 12 andares, que abrigava escritórios do grupo Hamas (foto: AFP)

O reconhecimento brasileiro ocorreu em 2010 durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Argentina fez o mesmo dias depois.

O Brasil e a Argentina foram os primeiros países ocidentais a reconhecer o Estado palestino, que já havia sido reconhecido por cerca de 100 países da Ásia e da África.

Na ocasião, o ministério das Relações Exteriores de Israel manifestou "pesar e decepção" com a decisão do presidente brasileiro e afirmou que o reconhecimento "prejudica o processo de paz".

O governo israelense da época considerou que o reconhecimento "constitui uma violação do acordo interino firmado em 1995, que estabelecia que o status da Cisjordânia e da Faixa de Gaza será determinado em uma negociação entre as partes".





A Palestina é membro da Liga Árabe, da Organização de Cooperação Islâmica, do G77, do Comitê Olímpico Internacional e de outros organismos internacionais.

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