Jornal Estado de Minas

ESTELIONATO

Clientes de escritórios de advocacia de BH são vítimas de golpistas

Golpistas estão se passando por advogados e advogadas para praticar extorsão pelo WhatsApp. Recentemente, escritórios de advocacia de Belo Horizonte foram vítimas do esquema e tiveram grandes prejuízos financeiros. Por isso, alguns advogados da cidade estão fazendo uma alerta sobre o golpe. 





 

O advogado João Paulo Gonçalves, da área de direito do consumidor, teve três clientes que foram vítimas dos golpistas. Uma delas chegou a perder R$ 1 mil. Ele explica que os golpistas têm entrado em portais de consulta, disponíveis na internet, e acessado dados como o nome da pessoa, do advogado, onde ele atua, detalhes dos processos e afins.

 

Assim, eles entram em contato com os clientes, geralmente através de mensagens de aplicativo ou de ligação, requerendo pagamento de custas ou pagamento de eventuais despesas para dar continuidade no processo ou conseguir um pagamento esperado.

“Eles falam o seguinte: olha, o doutor João Paulo está solicitando que seja realizado um pagamento no valor de R$ 1 mil, a título que custa os judiciais para a continuidade desse processo ou então para a liberação do precatório”, afirma Gonçalves. 





 

Ele conta que os criminosos colocaram a foto dele no perfil e se passaram como um terceiro. “Um desses clientes entrou em contato comigo perguntando como está a situação do processo depois do pagamento. Mas fui checar a situação e efetivamente desconhecia qualquer tipo de pagamento que havia sido realizado”, explica.

O golpe é organizado

O advogado pontua que os golpistas passam credibilidade, com mensagens escritas formalmente, o que acaba convencendo as vítimas de que seriam profissionais do direito. “Eles mandam uma mensagem montadinha no WhatsApp. A mensagem é bem feita, porque, antigamente a gente via golpes com muitos erros de português”, afirma.  

 

 

Os clientes do escritório de advocacia em BH onde trabalha a advogada Luciana Moreira, do direito público, também foram alvos dos suspeitos. Felizmente, após ela ter avisado rapidamente sobre o golpe nos canais de comunicação, nenhum dos clientes caiu no golpe.

Por meio de uma investigação própria, Luciana, porém, encontrou um nome recorrente nos processos, o que pode indicar quem são os criminosos. “Quando um terceiro acessa o seu processo, ele é identificado e fica o nome, então nós detectamos em nome em comum que entrou nos processos, certamente para colher as informações dos clientes, dos valores e etc”, diz. 





 

Uma nova onda 

Os golpes começaram há 15 dias e Luciana relembra que algo parecido aconteceu no passado, mas desta vez tem algo diferente. “Em agosto de 2022, houve algo similar, mas que atacou diretamente os escritórios que tinham precatórios. Agora, eles estão entrando nos processos de forma geral”, aponta. 

 

Do mesmo escritório e da área de direito público, o advogado Gustavo Tavares Nascimento ressaltou que os clientes só não caíram no golpe porque foram avisados. Nesta quinta-feira (26/10), ele registrou um boletim de ocorrência na polícia depois da recomendação do promotor de crimes cibernéticos. 

 

Luciana Atheniense, do direito do consumidor, compartilha que seus clientes também foram abordados pelos suspeitos, que os chamaram com a foto dela no perfil das redes sociais. Eles pediam dinheiro para o andamento do processo. A advogada agiu e fez um vídeo para alertarem sobre o golpe. 






 

 

No print das conversas, é possível ver como os suspeitos são bem articulados e chegam a mandar o documento "oficial".

Print de mensagens no WhatsApp com a abordagem dos suspeitos (foto: Arquivo pessoal/Reprodução)
 

Recomendações a serem seguidas

Tiago Augusto Freitas, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB-MG) listou recomendações a serem seguidas para não cair nesse tipo de golpe. 

 

A primeira delas é não fazer nenhum pagamento sem antes entrar em contato com as fontes confiáveis do escritório ou do advogado. "Em segundo lugar, mesmo vindo dessas fontes, não custa nada, já que é para gastar dinheiro, entrar em contato de novo com o escritório, entrar em contato de novo com o advogado e procurar saber se procede ou não aquela guia", acrescenta Freitas.





 

Em terceiro lugar, diz o advogado, é preciso analisar de cabo a rabo como é o boleto enviado. "Se esse boleto está nos padrões dos tribunais, dos padrões dos escritórios. E, na hora de digitar o código de barras, verificar se ele representa, por exemplo, o banco do destino informado no documento", complementa. 

 

"E por fim, não menos importante, é jamais fazer qualquer pagamento ou contato sem verificar antes o que está acontecendo”, concluiu.

 

Em decorrências dos recentes golpes, o perfil da OAB-MG nas redes sociais também listou três ações principais a serem feitas: 

 

 

Números de estelionato em BH e Minas

De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o estelionato por meio eletrônico é cada vez mais comum: uma média de 111 casos por dia foram registrados em Minas Gerais este ano. 

 

Ao todo, 33.218 ocorrências foram computadas pela Polícia Civil - contra 32.606 de janeiro a outubro de 2022. Em Belo Horizonte, em 2023, já foram 6.417 pessoas vítimas de estelionatários virtuais.

*Estagiario sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa