Jornal Estado de Minas

PERIGO

Minas registra 130 ataques e captura 1.716 cães no ano


Dois ataques de cães da raça pitbull nesta semana, em Belo Horizonte, provocaram a morte de um bebê de 1 ano e 7 meses e deixaram uma mulher de 25 anos e um agente da Guarda Municipal feridos. Em 2022, foram registrados 170 ataques e 1.997 cães terminaram capturados, em Minas Gerais, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Em 2023, até setembro, foram 130 ataques e 1.716 animais apreendidos. No caso envolvendo o guarda municipal, o cão estava solto e sem focinheira em local público, o que fere leis municipal e estadual sobre o tema. Para especialista, agressividade não pode ser associada a uma raça específica, mas tutores devem estar atentos não apenas às normas, mas ao comportamento de seus cães, e é inadequado deixar crianças brincarem com cães como o pitbull que matou o bebê nesta semana.



Entre 2020 e 2023, 592 pessoas no estado foram atacadas por cães, a maioria (184) na área do 2º Comando Operacional de Bombeiros, que atende os municípios de Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Araguari e Araxá. Em seguida, vem o 6º Comando, que cobre Varginha, Poços de Caldas, Alfenas, Lavras, Passos e Pouso Alegre, com 144 ataques e o 1º Comando, responsável pelos municípios da Região Metropolitana de BH, com 136.
Na quarta-feira (4/10), um agente da Guarda Municipal de BH foi atacado por um pitbull dentro do Parque Municipal Professor Amílcar Vianna Martins, no Bairro Cruzeiro, na Região Centro-Sul da capital. Para se defender, o agente precisou atirar no animal. O tiro pegou de raspão e o cão passa bem.
 
De acordo com a Guarda Civil, o agente se exercitava no parque ainda fechado quando foi atacado. Por volta das 6h, a tutora de quatro cachorros soltou os animais, como mostram imagens da câmera de segurança, e se sentou na calçada.




 
Atacado, o servidor atirou no animal, que foi socorrido por equipe do Departamento de Meio Ambiente da Guarda Municipal. Em nota, a corporação destacou que os tutores de cães da raça pitbull são obrigados a manter os animais com focinheira e coleira, conforme determina a Lei Municipal. A tutora foi encaminhada para a Delegacia Adida ao Juizado Especial Criminal (DEAJC) para registro de ocorrência por omissão de cautela.
 
No mesmo dia, um bebê de 1 ano  e 7 meses morreu depois de ser atacado por um cachorro da mesma raça, no Bairro Parque do Cedro, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A tia da criança, de 25 anos, que estava com a criança no colo, também foi ferida. De acordo com a Polícia Militar, o animal, e outro que estava no local pertencem à mulher atacada e ao marido dela, preso por homicídio culposo, mas agora está em liberdade provisória. 
 
Segundo o boletim de ocorrência, os militares encontraram a menina no chão, com muito sangue pelo corpo, mas ainda com vida. Ainda bem agressivo, um dos cachorros rodeava e rosnava para a vítima. Para impedir que houvesse um novo ataque, os militares atiraram contra o pitbull. Tia e sobrinha foram encaminhadas para uma Unidade de Pronto Atendimento Vargem das Flores, em Contagem, também na Grande BH. O bebê não resistiu. A mulher teve que ser atendida pelo cirurgião da UPA. 




 
Na tarde de ontem, o Centro de Controle de Zoonoses e Endemias de Betim (CCZE) recolheu a carcaça do animal morto e do cão vivo, que foi encaminhado para o canil da unidade. Segundo a Prefeitura de Betim, na segunda-feira (9/10),  amostras do cadáver e do cão vivo serão enviadas para o laboratório de referência da Prefeitura de Belo Horizonte para análise de possíveis doenças, como raiva e/ou de leishmaniose, ligadas a comportamento agressivo. 
 
O professor do curso de veterinária do UniBH, Aldair Pinto, diz que não se pode associar agressividade com uma raça específica, já que genética e meio contribuem par as características do animal. “ Existem pitbulls extremamente dóceis, não agressivos”, afirma.
 
Para ele, cachorros de qualquer raça podem atacar pessoas. “O pinscher é medroso e  pode, por ser menor, atacar muito mais fácil do que um pitbull. A diferença está na força e no tamanho, além de como esse animal se porta quando é agressivo.”





“Um animal avança por diversas razões e até sem motivos. Animal defende a comida, dominância, hierarquia. Como não sabemos o que aconteceu nesses casos, não tem como julgar”, diz Aldair, que atendeu o cão que atacou o guarda no parque de BH. “Consegui manipulá-lo, estancar a hemorragia, fazer o raio-X e todos os
procedimentos com ele abanando o rabo. Mas também não fiz nada naquele momento que o levasse a ter medo de mim”, afirma.
 
Em relação ao caso do bebê, o veterinário aponta que é inadequado deixar uma criança pequena brincar com animais como o que a atacou. “A criança de 2 anos não consegue entender a diferença de aperto e carinho. Pode pegar na orelha, pelos ou colocar a mão na vasilha da comida ou na boca do cachorro”, o que pode provocar reações.
 
O veterinário destaca que as pessoas não devem humanizar os animais. O reflexo do cachorro quando se sente ameaçado é morder e rosnar, lembra.

FOCINHEIRA OBRIGATÓRIA 

Desde 13 de julho de 2001, a Lei Municipal Nº 8.198  obriga tutores de cães da raça pitbull a manter os animais com focinheira e presos em coleira com guia quando estão em espaço público. A Lei Estadual Nº 16.301, de 7 de agosto de 2006, determina que cães  pitbull, doberman, rottweiler e outros de porte físico e força semelhantes, com mais de 120 dias de vida, utilizem equipamentos de contenção em via pública e no transporte.

592: total de vítimas de cães no estado desde 2020