Jornal Estado de Minas

INJÚRIA RACIAL

Garçom impedido de usar tranças em restaurante japonês de BH pede demissão

Higor Antero, de 25 anos, que trabalha como garçom, denunciou ter sofrido injúria racial de uma sócia e de uma contadora do restaurante Sushi Naka BH na manhã de sábado (19/8), na região Centro-Sul. O caso foi divulgado pelas redes sociais dele. O caso foi relatado por Higor em vídeo divulgado nas redes sociais. Na gravação, ele, que é negro, afirma ter sido impedido de trabalhar no estabelecimento depois de ter chegado com tranças. 





 
“Não acreditava que estava acontecendo aquilo, fiquei muito magoado”, diz Higor, que estava arrumado para uma festa posterior ao expediente. O rapaz procurou ajuda junto a uma contadora, que atuava como gestora contábil, além de gerir férias, atestados e pagamentos.

Por mensagens, a contadora respondeu que Higor “trabalha com japonês, não com brasileiro que é oba oba”, e também perguntou se o rapaz “trabalhava na feira hippie” e se ele “não iria tirar as tranças”. Após o incidente, o contrato da contadora terceirizada foi encerrado. O restaurante diz que ela tentou ajudar o rapaz.

“Para mim foi a gota d'água. Ao invés de ajuda, recebi outra pedrada. Chegando em casa chorei bastante e conversei com minha mãe”, conta Higor. Depois, ele procurou um advogado que o orientou a fazer um vídeo denunciando a situação. Segundo o rapaz, outras pessoas responderam suas mensagens, dizendo que quando trabalharam no restaurante também sofreram pressão psicológica, da mesma sócia.




 
Higor também relatou ao Estado de Minas que, após ter feito a denúncia, recebeu mensagens de apoio e de ex-empregados do estabelecimento que relataram também terem sofrido pressão no ambiente de trabalho.  Sushi Naka diz que, em seus 35 anos de funcionamento, o caso de Higor é o primeiro desse tipo.

O restaurante divulgou uma nota à imprensa. Leia na íntegra:

“A empresa repudia qualquer ato dessa natureza, sobretudo por sua origem oriental. O restaurante tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores e segue todas as normas e deliberações da vigilância sanitária.

A pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços  cancelado. 

Lembramos que ela era uma profissional terceirizada e não tinha autorização para falar em nome do estabelecimento.





Ressaltamos que o fato está sendo apurado internamente com todo respeito a cultura étnica.”

Higor registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) contra o restaurante, a sócia e a contadora. Ele também busca rescisão e não foi trabalhar na segunda-feira (21/8), quando foi às autoridades. A PCMG disse que irá apurar os fatos.
 
Sobre o pedido de recisão, o restaurante diz que "o colaborador continua no quadro de funcionários e a empresa informa que até o momento não recebeu nenhum contato do colaborador.  As medidas a serem tomadas a respeito da rescisão estão sendo estudadas e analisadas. Assim que forem definidas, a imprensa será comunicada."
 
*Estagiário sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa