Jornal Estado de Minas

AVENIDA CRISTIANO MACHADO

Enchentes ainda assombram vizinhos de obras para conter chuvas em BH

Moradores do entorno da estação São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, se assustam com cada nuvem escura no céu. Todos os anos, durante o período chuvoso, o drama de enchentes e alagamentos se repete na região. Nesta sexta-feira (20/5), a prefeitura abriu licitação para implantação de um sistema de macrodrenagem para evitar inundações no ribeirão do Onça, ponto crítico da área.



Outra obra já está sendo executada na região, mas o projeto, que deveria ter sido finalizado em maio do ano passado, ainda não foi concluído. Há pouco mais de cinco meses para o início das temporadas chuvosas em Minas Gerais, o problema segue sem uma solução definitiva.

A nova aposta da PBH para ampliar a vazão da água da chuva na região será executada na altura da estação São Gabriel, no bairro Vila Suzana. A estrutura de captação, que recebeu o nome de Praça das Águas, vai conter o volume excedente de escoamento dos córregos Pampulha e Cachoeirinha, que formam o ribeirão do Onça. O reservatório tem capacidade para armazenar 30 milhões de litros de água.

A intervenção é semelhante a que está sendo realizada na Avenida Vilarinho, na Região de Venda Nova, porém, em menores proporções, já que lá o reservatório terá capacidade para armazenar cerca de 230 milhões de litros de água. Por lá, quem sofre ano a com as inundações já vê melhoras desde a conclusão da primeira etapa das obras.





A conclusão dos trabalhos para mitigar os impactos das chuvas no entorno da estação São Gabriel, no entanto, ainda deve demorar cerca de dois anos. O prazo de execução, segundo o edital da PBH, será de 720 dias, a partir da assinatura da ordem de serviço. A obra tem custo estimado em R$ 72,9 milhões, recursos provenientes dos contratos de financiamento junto à Caixa Econômica Federal.

A intervenção, supervisionada pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), vai exigir a adequação da geometria viária do entorno e o remanejamento dos interceptores de esgotos na área do empreendimento.

Máquinas operam em obra que promete reduzir danos das chuvas em BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Na memória dos vizinhos da obra atrasada, uma enchente em fevereiro de 2021 segue tão nítida quanto o barulho dos tratores e escavadeiras que se movimentam atrás de tapumes de madeira a poucos metros de diversas casas e lojas.





Gerentes de um açougue e uma farmácia na rua Volts, no Bairro 1º de Maio, contabilizaram prejuízos de dezenas de milhares de reais com mercadorias que foram por água abaixo na última enchente. Para o gerente de um sacolão na mesma vizinhança, a lembrança dos estragos segue viva.

“Trabalho no sacolão há 20 anos e no ano passado a gente teve uma enchente que prejudicou muito, tivermos um prejuízo muito grande na loja, que teve água com 1,2m, foi mais ou menos 100 caixas de mercadorias que tivemos que jogar fora, tivemos que repor balanças, perdemos computadores, troco em dinheiro, não dá nem para calcular o valor das perdas”, conta Sandro Amaro, de 54 anos.

Ele espera que as obras, mesmo que levando muito tempo, resolvam a situação na região. Além do medo da água subindo com grande velocidade, os funcionários do comércio local temem pelos próprios empregos, já que os proprietários têm dificuldades para arcar com o prejuízo causado pelas enchentes.



Sandro quer trabalhar tranquilo, sem se preocupar com as chuvas (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

"O bom é que o patrão aqui é uma pessoa boa e conseguiu passar por isso sem ter que mandar ninguém embora. Tomara que melhore (com as obras), porque a gente quer o melhor para podermos trabalhar tranquilos e só trabalhar, sem precisar se preocupar com outras coisas”, disse Sandro
 
Nas casas, que ficam em uma área mais baixa do bairro, moradores também seguem contando o prejuízo da cheia histórica. A dona de casa Júlia Guimarães, de 82, mora no bairro há mais de 50 anos e conta que convive com o medo das chuvas.

“Eu tenho medo dessa água voltar de novo. Quando se forma uma ‘nuvinha’ a gente já fica assombrado. Aqui tudo virou só água, teve gente que teve de ser salva com corda, a água foi forte demais. Imagina dois metros de água no terreno da gente. Perdi tudo, tinha três guarda-roupas de sucupira, quase todos novos e perdi tudo. Foi embora estante, foi embora roupa, acabou tudo. A prefeitura veio aqui e anotou o que a gente perdeu, mas não deu um centavo”, disse.

"Eu vivo assombrada", conta Dona Júlia, que veio de Brasília-DF para o 1º de Maio há mais de 50 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Desde 2009, a prefeitura está construindo um canal paralelo de 285 metros, ao lado da estação São Gabriel, para aliviar o impacto das inundações no bairro de nome homônimo e também no Primeiro de Maio. A obra, que tem custo estimado em R$ 36 milhões, estava prevista para ser finalizada em maio do ano passado, mas segue atrasada.  A intervenção deve permitir uma melhor fluidez dos córregos Cachoeirinha, que vêm da Avenida Bernardo Vasconcelos, e Pampulha, oriundo do Bairro Primeiro de Maio. De acordo com a Sudecap, a previsão é de que essa obra seja concluída ainda neste ano.

As intervenções na região do Ribeirão Onça também incluem o reassentamento de famílias que moram nas áreas de risco. Por meio de nota, o Grupo Gerencial de Empreendimentos e Apoio Operacional (Urbel) informou que já foram removidas cerca de 700 famílias do local. O trabalho ainda está em andamento e a previsão é que sejam removidas, no total, aproximadamente 1600 famílias, cadastradas pela equipe social do órgão.