Jornal Estado de Minas

REDES SOCIAIS

Alunos da PUC Minas cobram diálogo após adiamento das aulas presenciais



Alunos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) vêm utilizando as redes sociais para cobrar transparência da faculdade após um novo recuo e adiamento das aulas presenciais. A universidade, que tinha anunciado que voltaria a funcionar no próximo dia 2, voltou atrás da decisão e comunicou que os alunos terão aulas remotas até o dia 21.




 


Nas redes, a tag #VegonhaPucMinas vem sendo compartilhada junto a um texto que cobra respeito com os alunos. “Após confirmarem as aulas presenciais no dia 27 de janeiro, a PUC Minas emite um vergonhoso comunicado no dia 28 de janeiro, no intuito de adiarem as aulas presenciais, faltando apenas 4 dias para o retorno das mesmas. Um completo descaso com seus estudantes”, diz o comunicado.
 
Comunicado assinado por estudantes da PUC Minas (foto: Redes Sociais/Reprodução)
 

O Estado de Minas conversou com quatro alunos da universidade que cobraram o retorno presencial. Todos citaram o aumento na mensalidade de quase 10% registrado em dezembro, mais uma vez, segundo os alunos, sem diálogo por parte da faculdade.

O organizador do movimento “PUC Contra Ao Aumento”, o estudante de pedagogia Gabriel Souza Luna, de 25 anos, diz como as redes sociais dos alunos foram transformadas em palanques virtuais. "Por meio dos diretórios acadêmicos, estamos nos organizando, desde o início da pandemia, para tentar garantir alguns direitos básicos para alunos, professores (que foram demitidos em massa), e funcionários da PUC. São dois longos anos de pandemia, dois anos que a faculdade fechou as portas e não tem os mesmos gastos de antes. As redes sociais surgiram pela necessidade de discutir essas pautas durante a pandemia”, conta.





Gabriel conta que a universidade anunciou um aumento de 9,8% e, em menos de duas semanas, sem nenhum tipo de diálogo, enviou os boletos para os estudantes.

“Não tivemos nem tempo para debater com a universidade sobre esse aumento”, comentou. “Milhares de estudantes precisaram deixar as salas de aula durante a pandemia de COVID. A turma da PUC não mostra compromisso com os estudantes”, disse. 

De acordo com Gabriel, a maioria dos alunos estava preparada para a retomada das aulas. “São inúmeros os estudantes que não moram em BH e já haviam se organizado para essa mudança e estão tendo um baita prejuízo financeiro”, disse. “O modus operandi da PUC Minas é não ter dialogo”, afirma.
 
 

Para tentar se organizar e cobrar medidas da faculdade, os estudantes vêm se organizando em grupos de Whatsapp e disparando mensagens no Instagram e Twitter.





O estudante de jornalismo Hugo La-Côrte, de 21 anos, postou em suas redes a mensagem compartilhada pelos alunos. “Eu achei um absurdo o comunicado feito pela PUC, que mostra uma completa desorganização por parte da instituição. Primeiro, eles soltaram um aviso confirmando a volta das aulas presenciais e, depois de um dia, soltaram outro falando que a princípio vão manter o regime remoto. Isso faltando apenas quatro dias para as aulas começarem? É um absurdo”, conta. 

De acordo com Hugo, a PUC mantém uma postura de “total descaso com os alunos”, que já pagam uma “mensalidade altíssima” e que agora sofreu reajuste.

“Sem contar com os estudantes que moram fora de Belo Horizonte e ficam perdidos com essa situação. Para mim, a solução ideal e única é voltar com as aulas presenciais. O vírus não vai desaparecer, temos que saber lidar com ele”, diz. “Já são dois anos de regime remoto e não dá para ficar mais adiando. Isso atinge de forma direta a nossa formação acadêmica, que já está comprometida”, afirma.

A estudante de Direito, N.O, de 20 anos, que preferiu não ser identificada, é moradora da cidade de Rio Vermelho, na Zona da Mata, e diz que acabou sendo atingida pela falta de comunicação da PUC.



De acordo com ela, o adiamento das aulas presenciais não foi o único empecilho que a universidade proporcionou aos alunos. Ela conta que faltaram vagas para os alunos do 7° período de direito do turno da manhã do campus Coração Eucarístico.

“Desde 2019, sempre foram duas turmas no turno da manhã, duas à tarde e duas à noite. Com o passar do tempo, isso mudou, muitos alunos mudaram de turno, de campus etc. Independentemente disso, sempre se manteve duas turmas no turno da manhã. Ocorre que, com a falta de organização, esse semestre não tinham vagas suficientes e abriram apenas uma turma nesse turno e mais de 40 alunos ficaram sem vagas, mesmo pagando a matrícula não conseguiram se matricular”, conta.

De acordo com ela, a universidade argumentou que não seria possível colocar uma quantidade maior de alunos dentro da mesma sala. “Fomos procurar a coordenação, lutamos atrás de informação e, finalmente, depois de dias com esse transtorno, nós conseguimos a nossa vaga para aula presencial. Porém, horas depois, veio a frustrante notícia do adiamento dessas mesmas aulas presenciais”, conta.




 
De acordo com ela, o comunicado da universidade foi um choque. “Nós estávamos achando que era fake news, mas não. Infelizmente, concretizamos ali o descaso da PUC com os alunos, a falta de compromisso e responsabilidade. Nós nos sentimos abandonados, sem apoio, sem uma base e totalmente sem voz na universidade que tanto amamos, admiramos e respeitamos. Estamos sem saber o que de fato fazer, como seguir”, disse.

N.O. faz estágio em Belo Horizonte. Ela conta que, por isso, não foi tão prejudicada como alguns de seus colegas. “Mas tenho amigos de sala que vieram da Bahia, do Amapá, do Rio e de tantos lugares do Brasil e do interior de Minas. Eles ficaram diretamente prejudicados, pois poderiam ter adiado suas passagens, a locação do apartamento, poderiam ter adiado a saudade de casa e ter passado mais alguns dias preciosos com a família”, conta. 

“Entendemos toda a questão da COVID- 19, do crescimento do número de casos. Porém, isso não ocorreu em uma semana, isso vem desde o início do mês. Então, por que nós encheram o nosso coração de esperança? Nos fizeram programar as nossas vidas? Este é o ponto, o descaso com a vontade dos alunos.”





Também estudante de direito, Pedro Henrique Alves, de 22 anos, conta que a PUC não tem respeito com seus estudantes. Para ele, o comunicado emitido pela faculdade mostra o descaso com os alunos que se preparam para o início de um novo semestre. 

“O que eu acredito é que eles precisam que as aulas sejam à distância, porque aí eles não têm gastos. Eles aumentaram a nossa mensalidade e não conversam sobre isso. É preciso continuar. O vírus da COVID está no mundo e precisamos aprender a conviver com ele. Não é uma situação fácil, devido ao aumento de casos, mas querendo ou não, nosso ensino também é prejudicado com isso”, diz.

Com a palavra a PUC Minas


No dia 27 de janeiro a PUC Minas confirmou a volta presencial das aulas da universidade. Um dia depois, foi comunicado aos alunos o recuo da faculdade por meio de nota.

De acordo com a Reitoria, "tal medida, que altera a deliberação anterior da universidade de retomar as aulas presenciais no dia 2 de fevereiro, foi possível a partir de decisão do Conselho Nacional de Educação (CNE), divulgada nessa quinta, 27 de janeiro, em que se respalda a manutenção temporária e de curto prazo das aulas em regime remoto".





Ainda conforme a PUC Minas, as aulas no regime remoto devem ocorrer até o dia 19 de fevereiro. "A expectativa da universidade é que no dia 21 todas as atividades passem a se dar presencialmente."

Apesar da mudança, a PUC Minas reitera que o calendário escolar está mantido com as aulas tendo início no dia 2 de fevereiro para veteranos, em regime remoto, e no dia 21 de fevereiro para calouros, data em que, observados os dados epidemiológicos daquele momento, todas as atividades acadêmicas passarão a se dar presencialmente.
 
A universidade também informou que um grupo especializado, o Comitê de Monitoramento do Coronavírus da Universidade, disponibilizou um protocolo específico para o retorno às aulas, que orienta todos os estudantes a responderem, por meio do aplicativo PUC Mobile ou do Sistema de Gestão Acadêmica (SGA), o questionário sobre seu estado de saúde atual.
 
"Essa autoavaliação é a porta de entrada para o Sistema de Vigilância Epidemiológica da PUC Minas, que tem o objetivo de identificar oportunamente casos de COVID-19 com potencial de transmissão na comunidade universitária e realizar as medidas de contenção", informou.
 
O protocolo também orienta que os estudantes informem sobre sua condição de imunização em relação à COVID-19, pelo PUC Mobile ou SGA. Essa informação servirá para que o comitê tenha um mapeamento da cobertura vacinal do corpo discente da Universidade e realizar campanhas de conscientização sobre a importância e necessidade das vacinas.
 
O Estado de Minas tentou contato com a PUC Minas neste sábado (29/1), mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
 





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