Jornal Estado de Minas

TRAGÉDIA NA RODOVIA

'Cena de filme de terror', conta voluntária que atuou no acidente da BR-381

Sâmara é voluntária no Sevor de João Monlevade há 8 anos (foto: Ana Raquel Lelles/EM/D.A press)
Na última sexta-feira (04/12), a BR-381 foi palco de mais uma tragédia: um ônibus de turismo caiu de uma ponte de 35 metros de altura, em João Monlevade, na Região Central de Minas Gerais. O acidente deixou 19 mortos e 29 feridos, 10 deles em estado grave. As fotos do local mostravam um cenário de dor e sofrimento.



"Nos meus oito anos de socorrista, essa ocorrência foi a que mais me impactou psicologicamente. Foi uma cena de filme de terror”, recorda a engenheira civil e voluntária do Serviço Voluntário de Resgate (Sevor) de João Monlevade, Sâmara Ferreira, de 27 anos, que estava presente no dia do acidente. Socorrista desde 2012, ela ajudou a resgatar as vítimas da tragédia: um menino com idade entre 10 e 11 anos.

Sâmara conta que estava trabalhando na unidade da Arcelormittal em João Monlevade quando recebeu o comunicado do acidente pelo grupo do WhatsApp dos socorristas. Logo, ela e seu chefe seguiram para a rodovia para ajudar no resgate. “Quando eu cheguei, já tinha uma equipe do Sevor atendendo, e também tinha muita gente tentando ajudar”, conta a engenheira.

“Eu estava com uma blusa larga (uniforme da Arcelormittal) e me confundiram com médica. Assim que eu disse que eu era socorrista, um rapaz me entregou um menino de 10, 11 anos”, relata. Sâmara lembra que a criança estava desacordada em razão de um traumatismo craniano. “Foi a primeira vítima da ocorrência que eu recebi e a que mais me marcou. Por ser criança e também por eu não saber o que tinha acontecido: se ele estava preso no ônibus, ou se ele pulou.” 

Como o estado da vítima era delicado, Sâmara chamou outra socorrista e as duas seguiram com a criança para o Hospital João XXIII em Belo Horizonte. “Foi uma situação em que, no momento, eu só pensava em garantir que ele poderia sobreviver”, comenta.



Assim que chegou ao hospital, a vítima recebeu apoio médico e passou por uma cirurgia. A engenheira relata que não chegou a saber o nome do menino. “Durante todo o percurso, a gente veio tentando achar alguma informação sobre a vítima, mas como ele estava inconsciente, não tinha muito o que fazer”, lembra.  

 

 


Em razão da carga emocional, Sâmara comenta que ser voluntário é um trabalho que requer um psicológico “muito bem preparado”. Para isso, o Sevor dispõe de uma psicóloga para apoio. “A gente já passou por tanta situação semelhante, eu não falo igual, porque cada ocorrência que a gente atende tem algo diferente”, conta. 


Desde a última sexta-feira, Sâmara vem buscando mais informações sobre as vítimas do acidente. Ela explica que o Sevor tem uma estatística mensal de atendimentos, então todas as ocorrências devem ser bem detalhadas.



Na manhã desta terça-feira (8/12), ela e dois companheiros do Sevor foram ao Hospital Margarida, em João Monlevade, recolher dados sobre as oito pessoas que continuam internadas. “Como a gente trabalha com trabalho voluntário, toda pessoa que a gente traz para o hospital, a gente recolhe a ficha para ter um boletim de atendimento. Como se fosse um Boletim de Ocorrência, da polícia”, explica.



Sâmara destaca, porém, que o acidente da última sexta-feira foi de "potencial de gravidade muito alto”, então o grupo ainda não conseguiu todas as informações sobre as vítimas. "Nós tentamos buscar informações com a Polícia Rodoviária Federal e com outros grupos de resgate. Mas não conseguimos. Então a gente vai ter que esperar a Polícia Civil, nessa fase de investigação, para conseguir os dados das vítimas”, conclui.


Depoimentos


A Polícia Civil começou a colher os depoimentos de vítimas do acidente do ônibus que caiu de um viaduto na BR-381. O delegado Diego Morais Carvalho e o escrivão Flávio Ponciano foram ao Hospital Margarida, nesta terça-feira (8), para ouvir as vítimas que continuam internadas.



No dia anterior, na última segunda-feira (7), a Policia Civil interrogou o motorista, Luiz Viana de Lima, que pulou do ônibus antes do veículo cair da ponte. Além de Viana, Uma representante da empresa Localima, a filha da proprietária da empresa, também se apresentou à delegacia.

Entenda o acidente:


Veja o que se sabe sobre o acidente (clique para ampliar a imagem) (foto: Arte EM)


A Polícia Civil de Minas Gerais abriu inquérito para apurar as causas do desastre minutos depois da queda do ônibus. Relatos de testemunhas pontam que as más condições mecânicas do veículo contribuíram para o acidente. 

Segundo as testemunhas, o ônibus seguia pela BR-381, no sentido São Paulo. Ao descer a serra, quando se aproximava da Ponte Torta, viaduto sobre o Rio Piracaba e a estrada de ferro Vitória-Minas, o ônibus perdeu os freios e entrou na contramão, descontrolado, chegando a bater no retrovisor de outro veículo que viajava no sentido contrário.





No “embalo da descida”, o veículo passou pela Ponte Torta, mas na subida perdeu aceleração (possivelmente por um outro problema mecânico) e começou a descer de ré, ainda segundo as testemunhas.

Nesse momento, seis pessoas saltaram do veículo em movimento – uma delas seria o condutor do ônibus, Luiz Viana de Lima. Na sequência, o ônibus despencou do viaduto e pegou fogo. A medição da perícia constatou que a altura é de 23 metros entre o viaduto e a área onde o ônibus caiu, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Vitória-Minas.

Na noite de sábado (05/12), uma equipe da Vale, que opera a ferrovia, trabalhou na liberação da área. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e bombeiros trabalharam na perícia do local do acidente e parte da ponte foi interditada. O ônibus foi retirado dos trilhos com um guindaste e levado para outro ponto.

 

*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz

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