Jornal Estado de Minas

Pandemia

COVID-19: Protocolo de reabertura preocupa donos de bares em BH

Ronaldo Chaves Bahia, dono do Amarelim, diz que não adianta reabrir de uma forma que o setor não "vai aguentar" (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Ainda sem data para retorno, bares e restaurantes de Belo Horizonte começam a pensar na possibilidade de atender o cliente à mesa. Na quarta-feira (15/7), a prefeitura apresentou protocolo de funcionamento de bares, restaurantes e lanchonetes que poderão ser abertos, segundo a PBH, quando indicadores epidemiológicos (ocupação de leitos de UTI e de enfermaria, número médio de transmissão do coronavírus por infectado, índice de isolamento social e projeção do número de casos) forem favoráveis. As medidas propostas, no entanto, não agradam parte dos comerciantes, que se dividem entre o medo da falência e o receio da disseminação da COVID-19.




Uma das medidas que ainda serão avaliadas pelo setor de alimentação envolve providenciar a medição de temperatura dos clientes e funcionários antes da entrada no estabelecimento. Essa aferição terá de ser realizada sem contato físico, com termômetro digital infravermelho. A prefeitura afirma que elaboração dos protocolos foi feita com base em sugestões dos comerciantes e de acordo com critérios estabelecidos pela Vigilância Sanitária e pelo Comitê de Enfrentamento à COVID-19. Mas nem todos estão satisfeitos com as propostas que devem reduzir a capacidade de clientes dentro das lojas.



Ronaldo Chaves Bahia, de 41 anos, é proprietário do Amarelim, bar na Avenida Prudente de Morais, Região Centro-Sul da capital. Há quatro meses ele só funciona com entregas e diz ter precisado fazer “muitas demissões” por causa da redução de ganhos. “É uma coisa inviável como eles querem que voltem. Como o restaurante vai sobreviver desse jeito? Há muita restrição, não adianta reabrir de uma forma que a gente não vai aguentar”, reclama o empresário sobre a possível necessidade de distanciamento de ter uma mesa a cada 6,5m².

Calçadas isoladas

Além disso, o documento indica que os proprietários devem alocar os clientes preferencialmente em área externa ou em locais com maior ventilação, respeitado o distanciamento mínimo de 2,5m entre mesas, com no máximo duas pessoas por mesa. Será permitido o uso das calçadas, porém o espaço deverá ser isolado, para evitar aglomeração e circulação.



“Concordo em não ter aglomeração, mas dá pra fazer mais pessoas por mesa, por metro quadrado. Também concordo em não abrir os brinquedos, não dá pra controlar as crianças. Creio que tem que ter um meio termo nisso aí. Não dá pra abrir e falar ‘agora vocês se viram’”, critica Ronaldo. “Tem que pensar não só na pandemia, mas na administração. Não temos mais fluxo de caixa, não tenho mais dinheiro. Acho que está mal feito. Concordo que é perigoso a COVID-19, mas tem que pensar em todo mundo.”

(foto: Soraia Piva)


Com o protocolo sugerido pela PBH, as áreas de lazer e espaços kids ainda não poderão funcionar. O self-service fica proibido e a montagem de pratos poderá ser feita somente por funcionário do estabelecimento, que deverá usar equipamentos de proteção.

As sugestões também foram criticadas pelo proprietário do Barbazul, no Bairro Funcionários, que teme fazer demissões com a falta de auxílio aos empresários. “Acho que já está na hora de voltar, os comerciantes não aguentam mais. Quem tinha reserva comeu, não tem ajuda do governo, a gente não sabe o que vai acontecer no final do ano”, disse José Márcio Ferreira, de 50 anos. “Se eu estou com dificuldade, imagina meu funcionário. Estou segurando o tanto que eu posso.”



"Quase parando"

Seu bar e restaurante também adotou a prática do delivery, mas está longe de ter a quantidade de pedidos que tinha quando atendia os clientes nas mesas. “No almoço ainda tem pedido, mas a noite está bem devagar, quase parando”, conta o empresário conhecido pelos clientes como “Marcinho”. Somente no início deste ano, o estabelecimento sofreu furtos por duas vezes.

Apesar das dificuldades, o comerciante não deixa a peteca cair. Além do delivery, José Márcio agora faz pratos por encomenda e topa qualquer negócio. “Tinha uma brincadeira que se falava de vender até a mãe. Agora eu tô vendendo e mandando entregar”, disse, em tom de brincadeira.



Para Marcinho, há preocupação também com o emocional de colegas que entraram em depressão com as portas fechadas e, apesar de não acreditar em uma autorização para abrir nas próximas semanas, torce para que aconteça logo. “Se está chovendo, você sai com guarda-chuva. Se faz frio, você sai com agasalho. Infelizmente estamos com a pandemia, então o jeito é fazer alguma prevenção. Se vai ser máscara, mesa longe, eu não sei. Mas parar de tudo não tem jeito.”