Jornal Estado de Minas

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO

Rosto de mortes por COVID-19 em Minas é masculino, negro e idoso

Mapa informativo que mostra a situação de Minas Gerais com o COVID-19 (foto: Mapa informativo que mostra a situação de Minas Gerais com o COVID-19)

Depois de quatro meses de enfrentamento à COVID-19, as mortes em Minas tem um rosto majoritário: homem, negro e idoso. A maior parte das mortes (75%) corresponde a pacientes com mais de 60 anos. Dos 1.355 óbitos confirmados no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, nesta quarta (8), 1.017 são idosos.  As estatísticas também demonstram que os negros correspondem à maior parte das mortes pela doença no estado. Os homens são a maioria (56%) dos que foram vencidos pelo novo coronavírus.



 

"Os dados comprovam aquilo que sabíamos. As pessoas de faixa etária menor, mais jovens, adultos e adultos jovens, se expõem mais ao risco, por isso adoecem mais. Por outro lado,  pessoas acima de 60 anos, que, possivelmente, já são mais debilitadas e com doenças associadas têm casos mais graves e obituam mais, portanto, correspondem à maior parte das mortes", afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano.

 

O infectologista aponta a responsabilidade dos jovens neste ciclo de contaminação. "Os mais jovens contraem e levam o vírus para as outras mais velhas que têm mais chances de morte. Um ciclo muito perigoso", conclui.  A maior parte das contaminações está na faixa de 30 a 39 anos, correspondendo a 25,3% dos casos. Na sequência, vem a faixa etária de 40 a 49 anos com 20,04%. As contaminações acima dos 60 anos correspondem a 16,1%.

 

No entanto, há uma mudança significativa no perfil dos mortos pela doença, com maior letalidade entre os idosos. Depois da faixa acima de 60 anos, no perfil de óbitos aparecem pessoas entre 50 e 59 anos, com 180 óbitos, de 40 a 49,  com 99 mortes, de 30 a 39 anos, com registro de 34 mortes. Há duas mortes de crianças na faixa de 1 a 9 anos.



 

Os homens são mais acometidos pela COVID-19 do que as mulheres. Eles representam 54% dos diagnósticos positivos, enquanto elas correspondem a 46%.  Os homens são 56% dos mortos, enquanto elas 44%.

 

 

 

A doença não faz uma distinção por raça ou etnia. No entanto, oprofessor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cristiano Rodrigues destaca que as mortes entre negros ocorrem devido às condições desiguais de acesso à saúde.

 

"A COVID-19 não tem preferência racial. A doença atinge a todas as pessoas, mas, os dados indicam condições desiguais de acesso à saúde e comorbidades. As comorbidades estão relacionadas também a acesso desigual à saúde e ao racismo estrutural, que indicam que as doenças afetam desproporcionalmente as pessoas negras", afirma. 

Tendência nacional 

No Brasil, pessoas com mais de 60 anos representam 71,4% das mortes. O que também se apresenta em outros países. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, que incluem faixa etária, 71,4% dos óbitos estavam na faixa etária acima dos 60 anos, com prevalência para homens (59%). Logo em seguida, vem a faixa etária de 50 a 59 anos, com 14,7%.