Gerais

Dermatologista de 91 anos se mantém produtivo na profissão

Médico compartilha com a sociedade suas descobertas no combate ao HPV, à herpes e ao molusco contagioso

Carolina Lenoir

Heuser Brant Aleixo: "Esse é o sentido da minha vida. Quero passar os meus conhecimentos porque não quero que, com o meu desaparecimento, eles desapareçam também"
A figura frágil do dermatologista Heuser Brant Aleixo, de 91 anos, desperta um incontrolável instinto de proteção no interlocutor recém-apresentado. Bastam algumas palavras, ditas ao mesmo tempo com firmeza e serenidade, para a primeira impressão se dissipar. Afinal, Heuser se sente melhor no papel de cuidador, não de cuidado. Com 65 anos ininterruptos de profissão, o médico é um exemplo de vida e faz do objetivo de divulgar suas descobertas o combustível para se manter produtivo. Graças às suas observações minuciosas, pacientes com lesões cutâneas causadas pelos vírus HSV – 1 e 2 (herpes simples), HPV (papiloma humano) e pelo molusco contagioso (que ataca principalmente crianças) vêm sendo curados por meio de um tratamento desenvolvido com ineditismo por ele.


A partir do uso oral e tópico de uma substância indicada inicialmente como antipisicótico, pacientes de Heuser com graves lesões, como verrugas de grande extensão na pele, apresentaram eliminação completa dos sinais e marcas, sem recorrências. Ele registrou seus achados e compartilhou seus estudos este ano, em uma conferência do Instituto Mineiro de História da Medicina, realizada na Associação Médica de Minas Gerais. “Esse é o sentido da minha vida. Quero passar os meus conhecimentos porque não quero que, com o meu desaparecimento, eles desapareçam também”, afirma, com tranquilidade.

Formado em 1944 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Heuser seguiu os passos do pai, o renomado dermatologista Antônio Aleixo, com quem trabalhou na Santa Casa e no consultório localizado no Edifício Mariana, na Avenida Afonso Pena. O pai não chegou a ver o filho com o diploma nas mãos – morreu um ano antes, de infecção generalizada decorrente de um acidente de trânsito, numa época em que ainda não existia antibiótico –, mas sempre foi sua principal inspiração.

Com base em uma descoberta feita por Antônio, de que a hanseníase modifica as impressões digitais de seus portadores, Heuser desenvolveu sua tese de doutorado, que incluiu um trabalho de campo na Colônia Santa Isabel. Além dessa influência direta, o médico segue à risca ensinamentos herdados do pai. “Para ele, todas as especialidades eram importantes. Dermatologia nunca foi só cuidar da pele. O organismo é uma coisa só. Posso identificar um diabetes por meio de uma lesão ou um aumento do colesterol por causa de determinada doença da pele.”