Estado de Minas
Falta de ponte deixa população ilhada e inviabiliza comércio em Jequitinhonha
Pontes de madeira e falta de pavimentação aumentam risco na BR-367

Uma década depois, ponte que custou R$ 3 milhões em Minas Nova continua inutilizada

A estrutura surgiu como importante medida para afastar o trânsito de veículos pesados do Centro histórico, mas até hoje não tem serventia alguma

Paulo Henrique Lobato - Enviado especial , Juarez Rodrigues

Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press
Minas Novas – A ponte de concreto levantada sobre o leito do Fanado, na entrada de Minas Novas, cidade que deu origem a boa parte do Vale do Jequitinhonha, foi erguida há mais de uma década ao custo de R$ 3 milhões. A estrutura surgiu como importante medida para afastar o trânsito de veículos pesados do Centro histórico, mas até hoje não tem serventia alguma.

O elevado não foi encabeçado à BR-367, num exemplo de mau uso do recurso público. O trânsito de caminhões continua nas ladeiras de Minas Novas, abalando as estruturas de casarões históricos, como o Sobradão, ícone da arquitetura nacional e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Erguido no século 19, trata-se do primeiro arranha-céu do Brasil, com quatro andares.

“É algo difícil de entender como nosso imposto é jogado fora, como esta ponte ainda não está encabeçada à BR”, reclama o vereador Américo Fátima. O governo federal, na administração de Dilma Rousseff (PT), planejou que a ponte seria encabeçada à estrada até o fim de 2013, o que não ocorreu porque o asfalto ainda não chegou àquele trecho da rodovia.

O atraso na obra ajudou a comprometer o Sobradão. O vaivém de caminhões em frente ao imóvel e a falta de manutenção correta no prédio abalaram a estrutura do sobrado. Atendendo a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Justiça determinou o fechamento do local, de propriedade do município.

Pedaços do reboco da parede externa despencaram no chão. Serviços e lojas que funcionavam no imóvel foram transferidos para outros endereços. “A obra de restauro já deveria ter começado. Serão reformados o telhado, parte da parede externa e o piso. Esta etapa ficará em torno de R$ 535 mil”, calculou João Neiva Filho, secretário municipal de Turismo de Minas Novas.

A obra precisará de ao menos mais R$ 1,5 milhão para o reparo total. Quando pronto, o prédio abrigará um museu, a biblioteca municipal e um espaço para a venda de artesanatos. O imóvel foi sede da Câmara Municipal e do fórum. Em 1856, quando um projeto de lei foi apresentado à Assembleia Geral do Império propondo a criação da Província de Minas Novas, o Sobradão foi sugerido para ser aproveitado como o Palácio do Governo.

A ideia não prosperou. Tal qual, por enquanto, a utilidade da ponte na entrada da cidade. A verba usada no levantamento da estrutura não incomoda apenas quem mora em Minas Novas. Na comunidade de São Pedro, distrito do município de Jequitinhonha, moradores reclamam que o dinheiro investido há mais de uma década na ponte em Minas Novas poderia ter sido direcionado ao povoado, onde, à ausência de uma estrutura sobre o leito do Jequitinhonha, os habitantes dependem de balsas e barcos para travessias, como mostra a reportagem seguinte.

Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press