Jornal Estado de Minas

DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS ESCOLAS

Minas tem o maior número de indicações ao Prêmio Educar 2022

 

Por Izabella Caixeta e Fernanda Tiemi Tubamoto*


Iniciativas que abordam o antirracismo e a equidade de gênero garantiram a quatro professores de Belo Horizonte vagas como finalistas do Prêmio Educar 2022. Os mineiros receberão o prêmio, junto a outros 12 professores de outras regiões do Brasil, em 19 de outubro, durante o evento ‘Diálogos para uma Educação Antirracista’, que ocorre nos dias 19 e 20 de outubro, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.





 

Os projetos desenvolvidos em Belo Horizonte são ‘Promoção da Igualdade Racial’, da Escola Municipal Anne Frank; o ‘Contos e Dengos por Uma Formação Identitária Positiva’, da Escola Municipal de Educação infantil Itamarati; o ‘A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização’, da Escola Municipal Florestan Fernandes; e o ‘Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil’, das Escola Municipal Lídia Angélica (Brasil) e do Instituto Politécnico Edik Ramon (Angola).

 

Por meio do Prêmio Educar, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) gera oportunidades de valorização e reconhecimento dos educadores do Brasil, que driblaram as situações adversas e apresentaram propostas inovadoras na educação.

 

“Podemos observar que há experiências em todo país que, sem a dependência de verba pública, conseguem implementar a Cultura Afro na sala de aula de forma natural e bem aceita. Esses educadores conseguiram elevar seus projetos ao cenário nacional por meio de metodologias inovadoras e aplicáveis”, avaliou o geógrafo e educador Billy Malachias, especialista em práticas de diversidade e inclusão. 






Conheça os projetos desenvolvidos em Belo Horizonte: 

  • ‘Promoção da Igualdade Racial’, da Escola Municipal Anne Frank, que através de leituras, oficinas de escrita, palestras e produção artística visava promover reflexão crítica, a consciência da diversidade, a valorização da autoimagem e das representatividades positivas; 
  • ‘Contos e Dengos por Uma Formação Identitária Positiva’, da Escola Municipal de Educação infantil Itamarati, que se propôs a criar uma construção identitária positiva em especial nas crianças negras a partir da prática de contação de histórias com o envolvimento das famílias com base na pedagogia Griô.
  • ‘A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização’, da Escola Municipal Florestan Fernandes, que promoveu a leitura de obras escritas por autoras negras para colaborar para a construção de identidades e autoestima de crianças negras, valorizando figuras femininas no ambiente escolar e na comunidade.
  • ‘Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil’, das Escola Municipal Lídia Angélica (Brasil) e do Instituto Politécnico Edik Ramon (Angola), que promoveu um intercâmbio virtual no qual estudantes angolanos e brasileiros investigaram coletivamente os hábitos, língua, tradições, religião nos dois países.

Impactos

Danielle Cardoso, responsável pelo projeto ‘A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização’, contou ao DiversEM sobre como seus alunos reagiram à leitura deleite feita em sala. “Eu deixava as crianças à vontade para que elas também falassem e se abrissem, porque esses livros têm muitas características do que elas trazem de casa e do que vivenciam no dia a dia”, explicou a professora.

Em uma das atividades desenvolvidas para o projeto, Danielle levou a autora de livros infantis Patrícia Santana para um piquenique com bate-papo. “Uma de minhas alunas pediu que Patrícia fizesse a leitura do livro porque era ela a autora. Achei importante esse reconhecimento de uma mulher preta, porque parece algo simples, mas ainda é uma prática que não vejo acontecer nas escolas regularmente”, conta ela.





Para a professora, o projeto também foi uma maneira de mostrar às crianças determinadas questões do universo feminino. “As pessoas ficam tocadas ao trabalharem com essa Literatura, que teve resultados muito bacanas na valorização das mulheres da comunidade escolar. Afinal, a maioria das crianças têm mulheres como fonte de sustento em casa”, completa.

Já Aline Neves, responsável pelo ‘Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil’, que lidou com alunos de nono ano do Ensino Fundamental II de forma virtual por conta da pandemia da COVID-19, conta que o desenvolvimento das atividades também foi uma maneira de incentivar os jovens a retomarem as atividades escolares, além de levar a discussão sobre questões raciais e culturais para as salas de aula. “A curiosidade foi muito grande porque um intercâmbio e a troca de saberes de outras culturas e povos, querendo ou não, já é algo alimentado pelas redes sociais”, explica ela.

Ana Carolina, uma das alunas de Aline, afirma que o intercâmbio foi uma ótima maneira de descontração e de diversão no cenário pandêmico, e que aprendeu muito sobre a importação de tradições africanas para o Brasil, como a língua Bantu e a cultura dos Congados. “Eu, particularmente, nunca tinha feito um intercâmbio, e o fato de a nossa professora ter possibilitado isso, mesmo durante a pandemia, foi muito importante para que aprendêssemos de uma forma lúdica”, conta a jovem.





A professora também relembra que percebeu um grande potencial no projeto quando viu a possibilidade de usar os próprios celulares e computadores dos alunos – além daqueles arrecadados a partir de doações durante a pandemia – para que pudessem participar, de maneira remota, de atividades e oficinas propostas. “Eles foram recebendo essas ferramentas e se organizando para participarem do projeto a partir do Google Meet”, afirma ela.

Para Aline, a importância do intercâmbio também reside na troca de perspectivas e na criação de empatia e de solidariedade em relação a outras comunidades culturais. “Isso muda toda uma perspectiva. Não é uma lógica apenas de mudança semântica da palavra, porque a gente não estava mais tratando os africanos como objeto, mas aprendendo mais sobre sua cultura, que é muito vasta: a África tem 54 países e nós, aqui no Brasil, somos apenas um”, comenta.

Ao final do projeto, os alunos participantes tiveram que produzir uma apresentação sobre um aspecto cultural livre: os alunos brasileiros fizeram de Angola, e os angolanos, do Brasil. “Tiveram conflitos e dificuldades, mas isso faz parte do contexto educacional. Esse é o local de se frustrar, mas também de se sentir acolhido e de acolher o outro. Foi muito bonito e foi muito grande, apesar de todas as dificuldades técnicas e culturais que tivemos ao longo do processo”, finaliza Aline.





Prêmio Educar

Criado em 2002, o Prêmio Educar surgiu a partir de debates promovidos no CEERT desde 2000, em reconhecimento do papel fundamental dos educadores na efetivação do direito humano à educação a partir da equidade.

 

A homenagem aos professores que trabalham pela causa antirracista no Brasil foi criada antes mesmo da implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura africana, afro-brasileira e indígena, nas escolas de todo o país.

 

“O ensino é um lugar de mobilidade social, mas também sempre foi um espaço de reprodução dos preconceitos. Alterar esse cenário é uma responsabilidade de todos nós, principalmente dos educadores e gestores da educação pública”, afirma Daniel Teixeira, diretor executivo do CEERT.





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* Estagiárias sob supervisão do subeditor Thiago Prata