Jornal Estado de Minas

CONTRA O ASSÉDIO

'Não estamos no cardápio': mulheres pedem basta a assédio no Mercado Novo


Uma rede de proteção formada por funcionárias do Mercado Novo, localizado na Região Central de Belo Horizonte (MG), está organizando um protesto contra o assédio em local de trabalho. Autointituladas “Minas do Mercado”, elas se organizarão em frente à escadaria do segundo andar da galeria às 20h30 deste sábado (25/6).





A ação parte de uma série de denúncias de assédio que ocorreram no Mercado Novo nos últimos meses, com estopim há duas semanas, quando uma das funcionárias da Cozinha da Vó Anna, operada somente por mulheres, foi alvo de um episódio que terminou com a prisão de um homem.

Segundo a vítima, ela estava sozinha quando o dono de uma loja de elétrica foi buscar uma chave no restaurante e, quando entregou, ele agarrou sua mão e disse que era “doido” com ela enquanto encarava suas partes íntimas.

O ocorrido começou a circular entre outros funcionários da galeria, o que teria incomodado um funcionário do empresário, que surgiu aparentemente embriagado na Cozinha da Vó Anna alguns dias depois. Lá, ele xingou as mulheres e as ameaçou de morte, afirmando que seu chefe não teria assediado ninguém. Em seguida, saiu gritando pelos corredores e urinou em local próximo ao restaurante.





O homem foi contido por um segurança e a polícia, acionada. A dona da Cozinha da Vó Anna, Fernanda Delazari, afirma que o sujeito chegou a cuspir em um dos agentes, mas após ser levado para a delegacia, ele foi liberado. Ela denunciou a importunação sexual na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher no Barro Preto e a administração do Mercado Novo busca a responsabilização do suspeito.


Delazari ainda afirma que não é a primeira vez que o dono da loja vizinha é denunciado por assédio. Por isso, criou um grupo de WhatsApp com funcionárias e lojistas do Mercado Novo com o intuito de criar uma rede de proteção. Sthéfanie Ruas, coordenadora de cozinha do restaurante, afirma que, no espaço da galeria, há diversas denúncias escritas que são apagadas pela administração do local.

“Nos nossos banheiros, existem várias denúncias. Estão nas portas e nas paredes, mas eles apagam, lavam e não se pronunciam, nem tomam nenhuma atitude para reverter essa situação”, explica. “A rede de proteção é uma forma mais rápida que encontramos de poder socorrer qualquer menina que pudesse vir a sofrer o mesmo que a nossa colega sofreu”, completa.





Sthéfanie também afirma que também há a necessidade de tornar o protesto público. “A gente entende que isso não é um problema que afeta só nós, funcionárias do Mercado. É um problema público”, afirma. “Muitas de nós trabalham como ‘freelas’ (sem vínculo empregatício), sem carteira assinada, e as meninas ficam com medo de denunciar, de se envolverem e acabarem perdendo seu emprego. Também decidimos fazer uma coisa pública para que essas meninas não fossem mais expostas do que elas já estão”, finaliza.

Minas do Mercado fazem chamada pública para protesto (foto: Minas do Mercado/Reprodução)

As “Minas do Mercado” têm se organizado internamente nas últimas semanas, mas ainda não têm página própria nas redes sociais.
 
A reportagem tentou contato com a administração do Mercado Novo, mas ainda não obteve resposta. 
 

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