Jornal Estado de Minas

ATITUDE POLÊMICA

LinkedIn é acusada de racismo ao retirar vaga para negros e indígenas



O LinkedIn, rede social destinada a divulgação de conteúdo profissional, retirou do ar uma vaga de emprego destinada a negros e indígenas. Segundo a plataforma, direcionar a vaga para um grupo específico contraria a política de publicação da empresa em uma “demonstração de preferência” por características individuais. 



A atitude foi recebida por alguns segmentos como racista e avaliada como um prejuízo à luta contra a desigualdade no Brasil. Procon e Ministério Público Federal cobram explicações da plataforma. Além disso, grandes empresas como Santander, Magalu, Unilever e Ambev, assinaram o “Manifesto empresarial em defesa da ação afirmativa”. 

“Nas últimas semanas, inúmeras empresas e entidades brasileiras, dos mais diferentes portes, têm sido afetadas pela decisão do LinkedIn de retirar do ar, de maneira sistemática e unilateral, anúncios de vagas de emprego que indicam priorizar pessoas negras e indígenas, em políticas de ações afirmativas voluntárias”, inicia o documento.

O manifesto cita o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12888/2010); a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e formas Correlatas de intolerância e a Nota Técnica GT de Raça 001/2018, do Ministério Público do Trabalho, como iniciativas do poder público que legalizam a oferta de vagas para grupos historicamente marginalizados e afirma que “a suposta política antidiscriminatória do LinkedIn é anacrônica, obtusa e deslocada da realidade social, racial e de gênero do Brasil”.



Além do manifesto, a Educafro e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos apresentaram na quarta-feira (23) uma ação civil pública contra o LinkedIn pedindo indenização no valor de R$10 milhões por danos morais coletivos. O valor será direcionado para instituições ou iniciativas indicadas pelo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Desigualdades no mercado de trabalho

A retirada de vagas de ação afirmativas por parte das empresas contraria a luta da população negra para acesso ao mercado de trabalho. A alegação de que se trata de um estatuto mundial da LinkedIn não considera as especificidades de cada país que utiliza da plataforma como intermediária entre empresas e candidatos. 

Pesquisa do Instituto iDados mostra que 37,9% dos homens e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalham em cargos que não exigem o diploma. Dados do Instituto Locomotiva apontam que em cargos com carteira assinada, a média salarial de um homem branco é de R$7.286, enquanto homens negros tem uma média de R$4.990, uma diferença de 46%. Além disso, uma mulher negra ganha em torno de R$3.067, menos da metade que um profissional branco.



Essas pesquisas mostram que no Brasil, país em que a maior parte da população é negra, mas apenas 4,4% dos cargos de chefia são ocupados por pessoas negras, ações afirmativas e previstas em Lei são necessárias para uma reparação histórica efetiva. A Amazon, por exemplo, adequa sua politica de uso de acordo com a localidade, no caso do Brasil se adequando a Lei Geral de Proteção de Dados. Da mesma forma, o LinkedIn poderia adequar sua política às regulações oficiais de cada Estado.

A reportagem entrou em contato com o LinkedIn e aguarda o retorno com o posicionamento da empresa.
 

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM




podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.

 
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz