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Estado de Minas

A convite do Estado de Minas, atores mudam de papel e se entrevistam

O ator Alfredo Del-Penho, em cartaz no Teatro I do CCBB-BH, com Suassuna - O auto do reino do sol, entrevista o mineiro Léo Quintão, em temporada no Teatro II


05/11/2018 08:00 - atualizado 05/11/2018 08:58

O ator e músico Alfredo Del-Penho assina composições da trilha de Suassuna - O auto do reino do sol(foto: JONATAS MARQUES/DIVULGAÇÃO )
O ator e músico Alfredo Del-Penho assina composições da trilha de Suassuna - O auto do reino do sol (foto: JONATAS MARQUES/DIVULGAÇÃO )

Léo Quintão é mineiro de Belo Horizonte e tem 46 anos. Alfredo Del-Penho é de São Fidélis, interior do estado do Rio, e tem 37. Os dois são atores e estão em cartaz de sexta a segunda (até o dia 12), no CCBB-BH, na Praça da Liberdade.

Ao lado das atrizes Jussara Fernandino e Neise Neves, Léo está em cena no Teatro II daquele espaço, com o espetáculo Um pouco de ar, por favor, que celebra os 25 anos de sua Companhia Pierrot Lunar. Com direção de Chico Pelúcio e dramaturgia de Luis Alberto de Abreu (SP), o espetáculo mostra um grupo de atores que resolve debater as questões que os angustiam ao montar uma peça de teatro. Para isso, constroem personagens cujas trajetórias se dão em diferentes épocas.

Já Alfredo, que também é cantor e compositor, está no elenco do musical Suassuna - O auto do reino do sol, junto à companhia Barca dos Corações Partidos. A montagem ocupa o Teatro I. Com texto de Bráulio Tavares e direção de Luiz Carlos Vasconcelos, a montagem faz um tributo ao escritor paraibano, mesclando referências de sua obra e do universo na qual foi produzida. Ao lado de Chico César e Beto Lemos, Alfredo Del-Penho é autor de canções criadas especificamente para o espetáculo.

O Estado de Minas convidou os atores a se entrevistar. Nas questões de ambos, surgem aspectos relacionados ao fazer teatral e ao momento da cultura no país. Confira a seguir:


DE LÉO QUINTÃO
PARA ALFREDO DEL-PENHO


Como foi o processo de montagem do espetáculo?
Criamos o espetáculo em oito meses de pesquisa. Trabalhamos a partir dos textos, da história de vida, das aulas de Suassuna. Viajamos para Pernambuco e para a Paraíba. Fomos aos redutos de cultura popular e fizemos o espetáculo em um processo coletivo de experimentação.

O espetáculo de vocês já recebeu diversos prêmios. Qual a importância dos prêmios para a vida de um espetáculo?
Prêmios ajudam o espetáculo a durar mais em cartaz, ganhar mais espaços. São um reconhecimento que nos ajuda e envaidece, mas buscamos que isso não turve o nosso olhar para o processo. Ficamos muito felizes com o acolhimento da crítica, mas certamente nossa recompensa maior é a sensibilização do público.

Como é para você poder circular com um espetáculo que presta homenagem ao universo do grande escritor, dramaturgo e romancista Ariano Suassuna?
É uma alegria e uma honra. Ariano foi um dos grandes pensadores e fazedores de cultura no Brasil. É muito bom fazer parte de um espetáculo baseado em suas ideias e sua história, apoiado pela família, acolhido pelos estudiosos de sua obra, e levar isso para todos os cantos do Brasil com a gratidão de termos aprendido isso com Ariano e com os mestres da nossa cultura popular.

Qual é a importância de casas voltadas para a cultura, como o CCBB, e espaços culturais alternativos que prestam um serviço de fruição e formação cultural de uma sociedade, de um lugar?
Esses polos são fundamentais para que a gente tenha espaços de qualidade para veicular nosso trabalho. Lugares como esse têm um público recorrente. Fomentam nossa cultura e aglutinam quem compartilha nossa visão da importância da arte para nossa vida.

Ariano Suassuna era um grande defensor da cultura brasileira. Qual é a sua opinião sobre a iminência de extinção e fusão do Ministério da Cultura, que há anos vem realizando um trabalho de construção de uma política de cultura nacional, anexando-o a outras pastas, como educação e esporte, sendo essas de grande importância e com suas especificidades?
Por mais que digam que o orçamento da pasta vai aumentar, que vão distribuir de maneira mais justa o recurso de fomento, ter o ministério conjunto impossibilita a autonomia e, em muitos casos, enfraquece a cultura quando há conflito de interesse entre as subpastas. É muito triste ver um país tão diverso e potente culturalmente não entender sua vocação para nossa cultura e o impacto que isso tem em todos os outros setores da nossa vida. Sem o ministério, acredito que enfraqueceremos tanto na alimentação de uma economia transversal a partir da cultura quanto no campo do simbólico, ou no impacto na educação e na qualidade de vida e, principalmente, no papel da arte de nos mostrar o quanto é possível sonhar.

Alfredo, o que te tira o ar?
O que me tira o ar são as manifestações populares. São as mais ricas, humanas e formidáveis demonstrações do que temos de mais bonito em nós. Não precisamos só de pragmatismo e funcionalidades; precisamos sempre de beleza e transcendência. Precisamos de um Brasil sincopado, do Brasil brincante.

SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL
Texto: Bráulio Tavares. Direção: Luiz Carlos Vasconcelos. Até 12 de novembro. De sexta a segunda-feira, às 20h. No Teatro I do CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Vendas: bilheteria do teatro e pelo site eventim.com.br.

 

Léo Quintão divide o palco com Jussara Fernandino e Neise Neves em Um pouco de ar, por favor (foto: GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO)
Léo Quintão divide o palco com Jussara Fernandino e Neise Neves em Um pouco de ar, por favor (foto: GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO)
 

 

DE ALFREDO DEL-PENHO
PARA LÉO QUINTÃO


Como é o processo de criação da Companhia Pierrot Lunar? Varia muito a cada espetáculo? Como foi a criação desse espetáculo?
Nesses 25 anos de grupo, já passamos por diversos processos, mas a música e a literatura sempre estiveram presentes. Desde 2007, a gente desenvolve sistematicamente um processo de investigação que estuda e experimenta os modos do fazer narrativo na cena teatral. Para Um pouco de ar, por favor tivemos o prazer de ter o Luis Alberto de Abreu na dramaturgia, que produz o texto através do material criado pelos atores. Um processo que partiu muito dos atores, do que queríamos falar e estávamos sentindo.

Como companhias mais longevas podem estimular o desenvolvimento de novas trupes?
Acredito muito que a troca com outras gerações é fundamental para oxigenarmos os grupos mais experientes e para abrir um novo caminho para os mais novos. Sendo assim, a troca por meio de residências artísticas, cursos e projetos de formação – como o que temos em nossa companhia, o Pierrot Teen, que é um grupo de jovens atore – é importantíssima. Isso tudo possibilita a formação de novas companhias ou coletivos artísticos.

Qual é sua relação e da sua companhia com autores brasileiros como Ariano Suassuna? Quais são seus outros autores brasileiros prediletos?
Na nossa trajetória, trabalhamos mais com autores nacionais, como Edmundo de Novaes Gomes e Aníbal Machado. Tenho admiração pelo Suassuna, Oduvaldo Vianna Filho, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Eid Ribeiro, Luis Alberto de Abreu e tantos outros. Eles foram e são referência na minha vida como artista. Temos uma safra de dramaturgos contemporâneos, como Byron O’Neill, Grace Passô, Vinícius Sousa, Ana Régis, Raysner de Paula, Saulo Salomão e Louraidan Larsen, que trazem uma energia e um olhar amplo deste mundo do século 21 em que vivemos. São autores muito antenados com temas que pulsam na sociedade moderna.

Que alternativas de inclusão, expansão e formação podem ser criadas por nós, artistas, nesse momento em que a cultura é tratada como algo supérfluo ou então demonizada como algo a ser combatido?
Ahhhhhh. Um pouco de ar, por favor. Precisaremos cada vez mais estar atentos a quem está ao lado. Precisaremos, ainda mais, trabalhar do micro para o macro, valorizando o que é feito em cada região da cidade, para depois ampliar e reforçar o fazer artístico. Um país não vive sem essa troca fundamental entre artista e público. Precisaremos manter abertas as portas que já abrimos no passado e nos fortalecer para abrir as que se apresentarão fechadas no futuro. Precisaremos estar unidos.

Qual o papel da música, do som, e do ruído nos espetáculos de vocês?
É tudo para a gente. Para nós, até a sonoridade de um nome serve de mote para a criação de um espetáculo. O silêncio, o respiro, o som de uma taça, a guitarra, a musicalidade de um texto, esses são elementos que pesquisamos e temos sempre presentes em nossos trabalhos. As gotas de sangue, a trilha executada ao vivo ou trilha gravada e as intervenções sonoras recheiam nossos trabalhos há muitos anos.

Como podemos criar mais momentos de troca entre companhias, atores, produtores e fazedores do teatro em todo Brasil?
Não temos desculpas para não nos conhecer nos dias atuais. As redes sociais são uma ferramenta importantíssima para encurtar distâncias. Mas o melhor, mais saudável e que nos preenche mais são os encontros em festivais e eventos artísticos. Precisamos de mais.

UM POUCO DE AR, POR FAVOR
Texto: Luis Alberto de Abreu. Até 12 de novembro. De sexta a segunda-feira, às 19h. No Teatro II do CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada). Vendas: bilheteria do teatro e pelo site www.eventim.com.br.


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