Léo Quintão é mineiro de Belo Horizonte e tem 46 anos. Alfredo Del-Penho é de São Fidélis, interior do estado do Rio, e tem 37. Os dois são atores e estão em cartaz de sexta a segunda (até o dia 12), no CCBB-BH, na Praça da Liberdade.
Já Alfredo, que também é cantor e compositor, está no elenco do musical Suassuna - O auto do reino do sol, junto à companhia Barca dos Corações Partidos. A montagem ocupa o Teatro I. Com texto de Bráulio Tavares e direção de Luiz Carlos Vasconcelos, a montagem faz um tributo ao escritor paraibano, mesclando referências de sua obra e do universo na qual foi produzida. Ao lado de Chico César e Beto Lemos, Alfredo Del-Penho é autor de canções criadas especificamente para o espetáculo.
O Estado de Minas convidou os atores a se entrevistar. Nas questões de ambos, surgem aspectos relacionados ao fazer teatral e ao momento da cultura no país. Confira a seguir:
DE LÉO QUINTÃO
PARA ALFREDO DEL-PENHO
Como foi o processo de montagem do espetáculo?
Criamos o espetáculo em oito meses de pesquisa. Trabalhamos a partir dos textos, da história de vida, das aulas de Suassuna. Viajamos para Pernambuco e para a Paraíba. Fomos aos redutos de cultura popular e fizemos o espetáculo em um processo coletivo de experimentação.
O espetáculo de vocês já recebeu diversos prêmios. Qual a importância dos prêmios para a vida de um espetáculo?
Prêmios ajudam o espetáculo a durar mais em cartaz, ganhar mais espaços. São um reconhecimento que nos ajuda e envaidece, mas buscamos que isso não turve o nosso olhar para o processo. Ficamos muito felizes com o acolhimento da crítica, mas certamente nossa recompensa maior é a sensibilização do público.
Como é para você poder circular com um espetáculo que presta homenagem ao universo do grande escritor, dramaturgo e romancista Ariano Suassuna?
É uma alegria e uma honra. Ariano foi um dos grandes pensadores e fazedores de cultura no Brasil. É muito bom fazer parte de um espetáculo baseado em suas ideias e sua história, apoiado pela família, acolhido pelos estudiosos de sua obra, e levar isso para todos os cantos do Brasil com a gratidão de termos aprendido isso com Ariano e com os mestres da nossa cultura popular.
Qual é a importância de casas voltadas para a cultura, como o CCBB, e espaços culturais alternativos que prestam um serviço de fruição e formação cultural de uma sociedade, de um lugar?
Esses polos são fundamentais para que a gente tenha espaços de qualidade para veicular nosso trabalho. Lugares como esse têm um público recorrente. Fomentam nossa cultura e aglutinam quem compartilha nossa visão da importância da arte para nossa vida.
Ariano Suassuna era um grande defensor da cultura brasileira. Qual é a sua opinião sobre a iminência de extinção e fusão do Ministério da Cultura, que há anos vem realizando um trabalho de construção de uma política de cultura nacional, anexando-o a outras pastas, como educação e esporte, sendo essas de grande importância e com suas especificidades?
Por mais que digam que o orçamento da pasta vai aumentar, que vão distribuir de maneira mais justa o recurso de fomento, ter o ministério conjunto impossibilita a autonomia e, em muitos casos, enfraquece a cultura quando há conflito de interesse entre as subpastas. É muito triste ver um país tão diverso e potente culturalmente não entender sua vocação para nossa cultura e o impacto que isso tem em todos os outros setores da nossa vida. Sem o ministério, acredito que enfraqueceremos tanto na alimentação de uma economia transversal a partir da cultura quanto no campo do simbólico, ou no impacto na educação e na qualidade de vida e, principalmente, no papel da arte de nos mostrar o quanto é possível sonhar.
Alfredo, o que te tira o ar?
O que me tira o ar são as manifestações populares. São as mais ricas, humanas e formidáveis demonstrações do que temos de mais bonito em nós. Não precisamos só de pragmatismo e funcionalidades; precisamos sempre de beleza e transcendência. Precisamos de um Brasil sincopado, do Brasil brincante.
SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL
Texto: Bráulio Tavares. Direção: Luiz Carlos Vasconcelos. Até 12 de novembro. De sexta a segunda-feira, às 20h. No Teatro I do CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Vendas: bilheteria do teatro e pelo site eventim.com.br.

DE ALFREDO DEL-PENHO
PARA LÉO QUINTÃO
Como é o processo de criação da Companhia Pierrot Lunar? Varia muito a cada espetáculo? Como foi a criação desse espetáculo?
Nesses 25 anos de grupo, já passamos por diversos processos, mas a música e a literatura sempre estiveram presentes. Desde 2007, a gente desenvolve sistematicamente um processo de investigação que estuda e experimenta os modos do fazer narrativo na cena teatral. Para Um pouco de ar, por favor tivemos o prazer de ter o Luis Alberto de Abreu na dramaturgia, que produz o texto através do material criado pelos atores. Um processo que partiu muito dos atores, do que queríamos falar e estávamos sentindo.
Como companhias mais longevas podem estimular o desenvolvimento de novas trupes?
Acredito muito que a troca com outras gerações é fundamental para oxigenarmos os grupos mais experientes e para abrir um novo caminho para os mais novos. Sendo assim, a troca por meio de residências artísticas, cursos e projetos de formação – como o que temos em nossa companhia, o Pierrot Teen, que é um grupo de jovens atore – é importantíssima. Isso tudo possibilita a formação de novas companhias ou coletivos artísticos.
Qual é sua relação e da sua companhia com autores brasileiros como Ariano Suassuna? Quais são seus outros autores brasileiros prediletos?
Na nossa trajetória, trabalhamos mais com autores nacionais, como Edmundo de Novaes Gomes e Aníbal Machado. Tenho admiração pelo Suassuna, Oduvaldo Vianna Filho, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Eid Ribeiro, Luis Alberto de Abreu e tantos outros. Eles foram e são referência na minha vida como artista. Temos uma safra de dramaturgos contemporâneos, como Byron O’Neill, Grace Passô, Vinícius Sousa, Ana Régis, Raysner de Paula, Saulo Salomão e Louraidan Larsen, que trazem uma energia e um olhar amplo deste mundo do século 21 em que vivemos. São autores muito antenados com temas que pulsam na sociedade moderna.
Que alternativas de inclusão, expansão e formação podem ser criadas por nós, artistas, nesse momento em que a cultura é tratada como algo supérfluo ou então demonizada como algo a ser combatido?
Ahhhhhh. Um pouco de ar, por favor. Precisaremos cada vez mais estar atentos a quem está ao lado. Precisaremos, ainda mais, trabalhar do micro para o macro, valorizando o que é feito em cada região da cidade, para depois ampliar e reforçar o fazer artístico. Um país não vive sem essa troca fundamental entre artista e público. Precisaremos manter abertas as portas que já abrimos no passado e nos fortalecer para abrir as que se apresentarão fechadas no futuro. Precisaremos estar unidos.
Qual o papel da música, do som, e do ruído nos espetáculos de vocês?
É tudo para a gente. Para nós, até a sonoridade de um nome serve de mote para a criação de um espetáculo. O silêncio, o respiro, o som de uma taça, a guitarra, a musicalidade de um texto, esses são elementos que pesquisamos e temos sempre presentes em nossos trabalhos. As gotas de sangue, a trilha executada ao vivo ou trilha gravada e as intervenções sonoras recheiam nossos trabalhos há muitos anos.
Como podemos criar mais momentos de troca entre companhias, atores, produtores e fazedores do teatro em todo Brasil?
Não temos desculpas para não nos conhecer nos dias atuais. As redes sociais são uma ferramenta importantíssima para encurtar distâncias. Mas o melhor, mais saudável e que nos preenche mais são os encontros em festivais e eventos artísticos. Precisamos de mais.
UM POUCO DE AR, POR FAVOR
Texto: Luis Alberto de Abreu. Até 12 de novembro. De sexta a segunda-feira, às 19h. No Teatro II do CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada). Vendas: bilheteria do teatro e pelo site www.eventim.com.br.