O marco de uma história de reviravoltas épicas começa a ser celebrado nesta quinta-feira (27/4), quando Tulipa Ruiz e a banda Graveola abrem a programação de um ano da casa de shows A Autêntica, após a reabertura em novo endereço, no bairro Santa Efigênia. Ao longo do restante da semana, ainda se apresentam por lá Djonga e Douglas Din, na sexta-feira (28/4), o grupo Angra, no sábado (29/4), Mestrinho e Janayna Pereira, no domingo (30/4).





A epopeia d’A Autêntica se relaciona, sobretudo, com a fissura provocada pela pandemia em sua trajetória. Inaugurado em 2015, na rua Alagoas, na Savassi, em um imóvel alugado, o espaço não teve como se manter a partir da necessidade de isolamento social e das medidas protetivas contra a COVID-19, e fechou as portas em junho de 2020.

Um dos sócios do empreendimento, Leo Moraes lembra que a casa de shows encerrou as atividades com dívidas a quitar e que, naquele momento, não havia sequer perspectiva de que o negócio pudesse ser retomado. Ele diz que, em boa medida, o próprio perfil d’A Autêntica – voltado para shows de artistas independentes com trabalho autoral, locais e nacionais – foi o que motivou e possibilitou sua retomada, em abril do ano passado.

“Quando fechamos na Savassi, a gente até imaginava voltar, mas vendo a coisa toda muito distante”, diz. Segundo afirma, uma sequência de eventos coincidentes serviu de estímulo para que os sócios reabrissem A Autêntica no mesmo imóvel onde, entre 1999 e 2011, funcionou o icônico Lapa Multshow, no número 312 da rua Álvares Maciel, no Santa Efigênia.





Vocação autoral “Quando abrimos A Autêntica, em 2015, foi tendo em mente suprir um pouco a falta que o Lapa fazia, com aquela mesma vocação para a música autoral e independente. Fechar as portas por causa da pandemia foi um baque, mas agora estamos comemorando um ano do que eu considero um renascimento”, ressalta.

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Regentes dessa festa de aniversário, os artistas que compõem a programação da semana se dizem muito felizes com o êxito dessa nova fase de uma casa de shows pela qual têm tanta estima e prometem apresentações à altura do espaço. Uma das responsáveis por abrir a série comemorativa, Tulipa Ruiz chega a Belo Horizonte com o fresquíssimo show de lançamento de “Habilidades extraordinárias”, que veio à luz no ano passado.

O novo álbum da cantora e compositora paulista será executado na íntegra. Às músicas que compõem esse repertório, somam-se outras pinçadas de trabalhos pregressos – escolha que, conforme diz a artista, muda de cidade para cidade. “O pessoal está pedindo ‘Às vezes’ (de seu primeiro álbum, “Efêmera”, de 2010), por exemplo, porque fala de Belo Horizonte. É uma música que não tocamos em outras cidades por onde já passamos”, revela.





“Habilidades extraordinárias” é o primeiro álbum inteiro de músicas inéditas desde “Dancê”, de 2015. Nesse ínterim, Tulipa lançou “Tu”, em 2017, que mesclava releituras de seu repertório com algumas composições novas, num formato de voz, violão e percussão. Esse formato instrumental foi o que acabou por desaguar na sonoridade de “Habilidades extraordinárias”, gravado analogicamente com um trio de baixo, guitarra e bateria.

A cantora diz que seu irmão, Gustavo Ruiz – que responde pelas guitarras e produção do novo álbum, além de ser coautor da maioria das faixas –, mais o baixista Gabriel “Bubu” Mayall e o baterista Samuel Fraga foram os músicos que estiveram em estúdio com ela e são os mesmos com quem divide o palco no show desta quinta.

“Eu gravei o ‘Tu’ e logo depois já fui para a estrada com esse power trio. Gosto muito de fazer shows, e tenho um espírito roqueiro. A gente está com um bom futebol, o som de baixo, guitarra e bateria está azeitado por causa da estrada mesmo. É uma formação com a qual estou muito à vontade e que, curiosamente, eu nunca tinha entrado em estúdio com ela”, aponta.





Ela diz que também nunca tinha gravado ao vivo – com os músicos tocando juntos no estúdio – e com captação analógica, o que, junto com a formação instrumental, confere a singularidade sonora de “Habilidades extraordinárias”. Tulipa pontua que, depois das bases, foram gravadas as participações especiais de Jonas Sá, que fez todos os sintetizadores; Negro Léo, coautor de “Pluma black”; e João Donato, que comparece em “O recado da flor”.



“É um trabalho que tem uma outra dinâmica e uma outra temperatura por causa disso”, observa. O fato de o show de lançamento contemplar a totalidade das faixas do novo trabalho é sintomático da postura da cantora – a maioria dos artistas argumenta que é preciso oferecer ao público músicas que ele já conhece, e por isso se ancoram no passado.

“Foto das músicas novas”

“Solto um disco e gosto de ir para a estrada com ele, porque os arranjos vão ficando maduros, mais nutridos. A beleza de lançar um novo trabalho é essa: você faz, no momento da gravação, uma foto das músicas novas, mas elas vão mudando. Gosto disso”, diz, destacando que, desde o começo da carreira, mantém a mesma dinâmica de trabalho.




“No ‘Efêmera’ eu já falava que meu maior interesse era a investigação da durabilidade poética das coisas. Ele é um disco que atravessa o tempo, então me mantenho nesse ritmo. Faço o possível para que o imediatismo do mercado não paute meu trabalho. Se não fosse a pandemia, eu estaria no meu movimento natural”, aponta.

O Graveola também chega para a festa de aniversário d’A Autêntica com novidades para apresentar. Não se trata, como no caso de Tulipa, do lançamento de um álbum (ainda, já que um próximo rebento da banda está previsto para o início do próximo ano), mas de uma recém-chegada nova integrante: a baterista catarinense Maria Cecília Collaço, em substituição a Gabriel Bruce, que saiu para cuidar de projetos pessoais.



O vocalista Zé Luís Braga diz que a banda atravessa um momento de transição e que, sim, algumas músicas que estão sendo trabalhadas para o próximo disco serão apresentadas em primeira mão. Ele destaca que, ao longo de sua trajetória, o Graveola já mudou de formação diversas vezes, com alternância constante de integrantes, e que isso sempre apontou novos rumos e moldou sonoridades distintas.





“Com essa entrada solene da Cecília Collaço, o público vai entender um pouco como a gente passa por esse processo de elaborar uma nova configuração. A entrada de um novo integrante sempre muda muito o som geral da banda, o que a gente acha que agrega. Vamos tocar músicas antigas com uma outra cara e também introduzir músicas novas, mas sem gastar demais o que será a dosagem do disco novo”, adianta.

Ele diz que Cecília Collaço foi uma “descoberta” da também vocalista, compositora, instrumentista e produtora Luíza Brina, que atualmente mora em São Paulo. “Luíza nos mostrou a pegada dela e ficamos muito impressionados, muito interessados em convidá-la, porque coincidiu com o período de saída do Bruce”, diz.

Cara nova para o Graveola

O fato de a nova baterista ser de uma geração mais jovem – ela tem 24 anos – também contribui para sacudir as estruturas, segundo Zé Luís. “Ela ainda não se apresentou com a gente, mas estamos ensaiando. Está sendo uma experiência curiosa e divertida, pela diferença de idade. Ela é de outra geração, mas temos tido um diálogo fluido. Cecília agrega para a identidade, consegue dar uma cara nova para uma banda de quase 20 anos”, aponta.





Ele ressalta que é uma alegria poder participar das comemorações de um ano de reabertura d’A Autêntica, já que o grupo se considera parceiro da casa de shows desde seus primórdios. “A gente via o pessoal empenhado em abrir um espaço que pudesse assegurar um som e uma curadoria de qualidade, dando espaço para a cena local. Sempre torcemos demais por eles”, afirma.



O palco d’A Autêntica, no novo e no antigo endereço, já foi ocupado inúmeras vezes tanto pelo Graveola quanto pelos projetos solo de seus integrantes, conforme aponta. Ele diz que o fato de a casa de shows estar sediada no mesmo imóvel que já abrigou o Lapa Multshow – onde o Graveola “também fez apresentações épicas” – é muito simbólico.

“A Autêntica segue o rigor na curadoria do Lapa, sendo um polo de resistência, no sentido de não se vender a uma música mais palatável para o mercado ou mesmo a festas mais fáceis de serem monetizadas. Continua sendo a vitrine de uma música independente e de um público médio, cuja perenidade a gente cultiva”, diz.





Ele se recorda com carinho de um show que o grupo fez n’A Autêntica em agosto do ano passado, após uma turnê europeia, dividindo o palco com a banda Bala Desejo. “Mesmo considerando o giro pela Europa, talvez tenha sido o melhor show que a gente fez em 2022, acho que pela atmosfera mesmo que A Autêntica proporciona. Vai ser um prazer celebrar agora com a turma lá esse primeiro ano de vida na casa nova.”

Em dezembro de 2021, após quase dois anos de fechamento do espaço na Rua Alagoas, veio a público o anúncio de reabertura d’A Autêntica. Foi lançada uma campanha de financiamento coletivo que arrecadou fundos junto a antigos frequentadores da casa anterior. O imóvel que A Autêntica passou a ocupar também abrigou, além do Lapa Multshow, o Blue Banana, que já militava numa mesma seara musical.

QUATRO NOITES DE FESTA

Confira a programação de aniversário d’A Autêntica*

O Graveola também toca hoje na casa de shows

(foto: Mateus Lustosa/Divulgação)

» QUINTA-FEIRA (27/4) 
Shows de Tulipa Ruiz e Graveola + DJ Naroca, a partir das 20h, com ingressos variando de R$ 40 (lote promocional) a R$ 140 (inteira do 3º lote)

» SEXTA-FEIRA (28/4) 
Shows de Djonga e Douglas Din DJ Bebela Dias, a partir das 21h, com ingressos variando de R$ 50 (meia-entrada para estudante ou social, mediante de 1kg de alimento não perecível do 1º lote) a R$ 160 (inteira do 4º lote)

» SÁBADO (29/4) 
Show “The best of 30 years”, da banda Angra, a partir das 21h, com ingressos variando de R$ 60 (meia-entrada para estudantes ou social do 1º lote) a R$ 240 (pista vip – lote único)

Mestrinho é atração do domingo

(foto: Paulo Rapoport/Divulgação)

» DOMINGO (30/4) 
Forró da Autêntica Especial, com shows de Mestrinho  e Janayna Pereira, a partir das 19h, com ingressos variando de R$ 30 (lote promocional) a R$ 45 (3º lote) 

*A Autêntica fica na rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia.

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